Capítulo 2

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 — Deixa eu adivinhar qual foi a sua reação. — Disse Carla, enquanto esperávamos no portão da escola a minha mãe nos levar para casa. — Você saiu arrastando a cadeira, completamente desconcertada. Fez aquele barulho irritante de quando se arrasta uma cadeira, pois ficou tremendo e suando que não teve nem forças para levantar a cadeira? E, eu já ia me esquecendo, você ficou mais vermelha que um pimentão e deixou todo o seu material cair no chão?

— Carla, por favor! Você está me fazendo parecer ainda mais idiota do que eu estou me sentindo. — Franzi os olhos por trás dos meus óculos de aro preto.

— Desculpe-me! Sei que você se descontrola diante de algumas situações. — Carla ajeitou a alça da sua mochila. — E ele, como reagiu?

— Ben me ignorou. Era como se ninguém tivesse sentado ao lado dele.

Revivi toda aquela cena patética em minha mente, enquanto fazíamos o trajeto para casa. O trânsito movimentado da cidade fazia a viagem se tornar ainda mais longa.

Benjamin estava irredutível no quesito não falar com ninguém. Era como o seu olhar de fúria me pedisse para não insistir, parecia mais implorar.

— Você tem alguma sugestão de música? — Eu havia perguntado pela terceira vez. Ele continuou em silêncio. Era como se nada daquilo tivesse importância para ele. Era como se realmente ele não tivesse me escutando. Não estava interessado. Simples assim, mas ofensivo demais para mim. Ele não tinha o direito de me tratar daquela forma.

Não posso dizer que cantar uma música em inglês na frente de toda a classe tenha alguma importância para mim, mas eu precisava daquela nota. E não é só porque eu era filha da professora, que eu iria receber alguma regalia, que eu não precisasse cumprir com o meu dever de aluna.

Algumas certezas eu já tinha formado em minha mente:

Primeira: Benjamin estava irredutível. Só estava presente na sala porque fora obrigado por alguém, e ele parecia disposto a tornar a sua volta para escola em uma situação muito difícil. Para ele? Para a pessoa que o obrigou? Para todos que tentassem se aproximar dele? Acredito que todas essas opções são válidas.

Segunda: Eu jamais iria cantar sozinha em frente à classe, eu precisava de alguém como apoio, mas o destino, ou melhor, a minha mãe quis que esse apoio fosse o Ben.

Terceira: Eu tinha que fazer algo. Eu não poderia tirar uma nota baixa nesta altura do campeonato apenas porque Benjamin estava fazendo birra.

Nós ficamos naquele silêncio constrangedor até o final da aula. Ben criara uma barreira invisível entre nós, que eu não conseguiria quebrar facilmente. Foram minutos intermináveis para mim. Eu queria confrontá-lo, mas nunca fiz o tipo que confronta, então, assim que o sinal tocou, peguei as minhas coisas e sai o mais rápido possível dali. Fugindo dele como uma criança amedrontada.

Uma das vantagens de quando a minha mãe não almoça em casa, é que eu posso preparar o que eu quiser para o almoço. Carla sempre me acompanha quando estou só para fazer a minha refeição. Não é só por causa da minha solidão, mas é uma forma de escape para ela, já que em sua casa toda refeição é controlada por uma nutricionista. Então, nada de comidas gordurosas, batatas fritas, queijo, doces ou qualquer outra comida que engorda.

Quando ela vem para cá, faço tudo que ela gosta, mas que em sua casa não pode comer.

— Não tem como você pedir a sua mãe para trocar a sua dupla? — Perguntou Carla, enquanto mergulhava a batata frita no molho.

— E quem iria querer trocar para fazer dupla comigo? Ou com o Ben? Ninguém falou com o pobre garoto desde que ele chegou.

— Isso que dá ser esnobe. — Disse ela com a boca cheia.

60 Dias Com BenOnde histórias criam vida. Descubra agora