Capítulo 4

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2º Dia

Hoje minha mãe acordou histérica, dormiu tarde ontem à noite, depois que corrigira algumas provas, esqueceu de ligar o alarme, assim se atrasando. O que deixava ela visivelmente de mau humor (mais mau humor). Escutei-a murmurar algo em seu quarto, algo que eu não consegui entender. Eu nunca conseguia entender o que ela dizia quando ela estava assim.

Acordei um pouco preguiçosa. Tirei minhas pernas de debaixo da coberta quentinha, com os meus pés descalço senti eles se chocarem contra o piso gelado da cerâmica branca, tremi um pouco. A noite foi fria, e hoje o dia amanheceu nublado.

Depois de tomar um banho rápido, vesti o uniforme da escola, corri em direção a cozinha para preparar o café, função que minha mãe seguia à risca, exceto hoje, já que perdeu a hora, então pediu que eu fizesse.

Ela resmungou pela quantidade do açúcar que eu coloquei no café, eu sempre errava na dosagem, por isso o motivo de ela sempre preparar o café. Com a minha mochila nas costas, peguei um pedaço de pão da cesta e rumei para fora, derramando um pouco de café no chão. Deixei o copo com o resto que restara sobre a velha mesa de madeira, que ficava na pequena varanda que dá acesso a entrada da sala. Rodei a chave na fechadura e a guardei dentro do bolso do meu jeans. Engoli o ultimo pedaço de pão e sai apressada acompanhando a minha mãe.

Tinha pena da turma que teria aula com ela hoje. Espero que eles não a contrariem, pelo estado de nervos que mamãe se encontra, é melhor não arriscar a fazer ou tentar fazer alguma gracinha, a não ser se quiser correr o risco de ler um texto em inglês em voz alta, e só será liberado do castigo quando pronunciar cada palavra corretamente. Minha mãe é considerada uma das melhores professoras de inglês do estado, mas o seu temperamento difícil deixa um pouco a desejar.

Deslizo para o banco do carona da frente, enquanto mamãe acerta o espelho retrovisor. Ela grita comigo para colocar o cinto. Sempre me esqueço. Com os olhos estreitados, observo a expressão séria e carrancuda dela. Lábios grossos curvados para baixo, suas sobrancelhas malfeitas estavam arqueadas. Ela ajeitou o seu cabelo castanho no retrovisor, seus olhos pretos como carvão se desviaram agora para a saída da garagem.

— Por que você não me acordou? — Perguntou-me pela milésima vez, enquanto esperávamos no caótico trânsito da cidade. Há vinte minutos esperávamos o trânsito ser liberado, fazendo o mau humor de minha mãe aumentar. Mas afinal, quem ficava de bom humor esperando o trânsito ser liberado?

— A senhora sempre acorda primeiro, pensei que já estava acordada. — Eu já não aguentava mais responder a essa pergunta, mas não podia me arriscar a dizer isso em alto e bom som. Cruzei os braços e me afundei no banco, desejando sair dali o mais rápido possível.

Atrasado era uma palavra que não pertencia ao vocabulário dela. Isso para mamãe era uma total falta de respeito e compromisso. Já eu, não me importava nenhum pouco de hoje encontrar os portões da escola fechados, mas como eu estaria acompanhado da senhora Elizabeth, essa possibilidade não poderia acontecer.

Cheguei a tempo para segunda aula, apesar de ela ter começado há exatos quinze minutos. Para minha sorte era aula de matemática. Para melhor dizer, aula do professor Carlos. Acho que ele tem uma pequena queda por minha mãe. Sorte a minha por poder usar isso finalmente ao meu favor.

O professor Carlos sempre arrumou um jeito de se aproximar da minha mesa e fazer algumas perguntas sobre a minha mãe. Perguntas discretas na verdade, mas que deixava um pouco de interesse transbordar. O que eu me pergunto é o porquê ele se sentia atraído por ela? Minha mãe não é uma mulher feia, mas isso de longe para mim é o mais importante.

60 Dias Com BenOnde histórias criam vida. Descubra agora