Cair, Levantar

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— Eu não tenho nada para falar com você!

— Eu preciso te dar uma satisfação!

— Agora é tarde! E tem mais, eu tenho um encontro!

— Encontro com quem? Ah, deixa pra lá — Cadu falou me arrastando para o quintal que fica nos fundos de casa. E eu me sentei sobre uma cadeira do jardim.

Emburrei, ainda me agarrando à caixa. O silêncio se tornou constrangedor entre nós. Ele me olhava como se procurasse as palavras certas a dizer. Tentei em vão segurar as lágrimas e a onda de raiva que me dominava.

— Escute, Loma, eu sei que te magoei, ok? Mas tentei conversar várias vezes, mas você não me escutava.

— Ah, mas é claro que a culpa é minha agora. — respondi entre soluços. ─ Você tentou conversar comigo sobre o quê? Quando contratou aquela patricinha eu te avisei que não daria certo, que ela ficava esfregando aqueles melões na sua cara, mas aí você dizia: "Paloma, estou fazendo um favor para o pai dela e ela é só uma menina" — falei imitando a voz dele.

— Tentei terminar sim, mas você não dava chance e tinha essa sua ideia fixa de casamento... Toda vez que eu abordava o assunto, parecia que não me escutava, ficava viajando, imaginando a cerimônia e me cobrando uma data!

— Foram quatorze anos esperando! Aí, quando finalmente você me diz que poderíamos começar a planejar o casamento, eu não deveria cobrar uma data?

— Eu não quis frustrar suas expectativas, percebia o quanto você queria se casar, por isso concordei, por mim continuava da forma que estava.

— O quê? Namorando a vida toda?

— Não, Paloma, amigos! Porque foi isso o que nós nos tornamos.

— Eu não era sua amiga... Na verdade, era, mas também te amava.

— Eu também te amava

— É, só que agora você vai se casar, terá uma família com outra, tirou de mim até minha esperança, me magoou, me TRAIU!

— Eu sou homem, tá bom? Acha que era fácil resistir à tentação, enquanto nosso relacionamento estava tão morno?

— Morno? Pra você era isso?

— Como não? Há quanto tempo não tínhamos um momento só nosso? Isso sem contar que nem lembro mais a última vez que transamos!

— E a culpa é só minha? Só eu tinha obrigação de esquentar a relação, é?

— Não, é aí que está o problema, você não percebe? Estamos tanto tempo juntos que o amor virou algo mais fraternal.

— O que está querendo dizer? Que virei sua irmã?

— Exatamente, eu te amo, mas como se fosse minha irmã!

Aquelas palavras me cortaram mais que a faca do outro dia, me atravessaram, me sangraram; estava tão atordoada que não conseguia pensar em mais nada.

— Pra mim era real, sonhava todos os dias quando seria sua esposa, sempre te vi como o homem de minha vida!

— Me perdoa? Não posso viver sem sua amizade!

— É só isso o que quer de mim? Minha amizade? Você ao menos ama a patricinha?

— Tem muita coisa em jogo, o amor é relativo.

— Relativo?! O amor é a base de tudo! Não posso mais ficar aqui, ouvindo você destruir o que sobrou da imagem que eu tinha de você.

— Espere, tenho um favor pra te pedir e espero que leve em consideração nossa história! Sabe, a Fabi tem passado muito mal por causa da gravidez e ainda o pai dela exige que nos casemos antes da barriga começar a crescer pra evitar fofocas e são tantos detalhes pra um casamento... que preciso de assessoria.

— Você não está pedindo para eu realizar seu casamento com outra, né?

— É claro que não. Só que, com a data tão próxima, as cerimonialistas estão negando nos assessorar e, como você conhece todos do ramo, poderia usar de sua influência para conseguir alguém para nós.

Juro que pensei que havia ouvido errado, ou que estava dentro de um pesadelo e acordaria a qualquer instante, mas ao olhar para o Cadu, ansioso na minha frente, à espera de uma resposta, me toquei que tudo aquilo era real e que, além da traição, ele estava pisando e esmagando o meu orgulho!

Fiquei cega, e titia que me perdoasse, mas a única reação que tive foi jogar uma caixa cheia de cupcakes cobertos com bastante chantilly naquela cara de almofadinha dele.

Saí correndo dali sem rumo, precisava respirar, me encontrar, achar um motivo para continuar em pé!

Estarei Aqui - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora