Vou morrer congelado!, pensei comigo enquanto meus dentes tiritavam e as
extremidades de meu corpo se entorpeciam com o frio. Eu esfregava as mãos, mas nem
assim conseguia reativar a circulação. Comecei a me repreender: "Nossa, James, por que
não vestiu seu sobretudo antes de sair? Por que foi entrar nesse maldito armário de
vassouras? Por que tinha de ser tão intrometido? Será que as outras pessoas os enxergam? O
que será que eles querem? Por que não me deixam em paz?!" Comecei então a tremer, não
por causa do frio, mas de medo. Eu estava assustado, muito assustado.
Aquela não foi a primeira a primeira vez que me escondi. A coisa já vinha acontecendo
com bastante freqüência. Eu queria conversar com alguém sobre tudo aquilo que via. Não
sei por que não fiz isso, mas de certo modo aquele era o "nosso" segredo", e eu achava que
se o expusesse poderia acabar sofrendo algum mal. Ninguém mais via o que eu era capaz
de enxergar e, na maior parte do tempo, os outros meninos simplesmente me achavam
loucno Eu só tinha paz quando me escondia.
De repente, a porta do armário se abriu.
- Que raios você está fazendo aí dentro? Você podia ter morrido congelado - gritou o
frade Martin. - Agora já para o dormitório e vá para a cama. Ande logo!
Eram 7h da manhã. Eu devo ter cochilado entre as vassouras e os ancinhos. Eu tinha 14
anos e era aluno do Seminário Católico Preparatório Eymard. Em vez de ingressar no
ensino médio, eu decidira me tornar padre.
No momento em que minha mãe e meu pai me deixaram no Eymard, no primeiro
domingo de setembro de 1972, eu sabia que algo não estava certo. Quando os meus olhos
pousaram sobre a fachada da imponente estrutura de pedra, que havia sido um pavilhão de
caça dos Vanderbilt, senti como se alguém estivesse me sufocando. De repente, ouvi um
grito agudo de mulher. Virei para os meus pais e implorei:
- Mudei de idéia. Não quero mais estudar aqui.
- Você tem noção dos sacrifícios que fizemos para que você pudesse vir para esta escola?
- perguntou meu pai.
Minha mãe fez o possível para me acalmar.
- É normal você se sentir assustado, afinal é a primeira vez que sai de casa.
Não tive alternativa senão aceitar.
O interior da mansão era tão assustador quanto o lado de fora. Parecia algo saído de um
filme de terror, e eu ia ter que morar lá. Enquanto caminhava pelo saguão principal, notei
que havia janelas de vitrais coloridos que iam do chão ao teto e que formavam sombras
multicoloridas no piso lustroso de mogno. As paredes eram forradas de madeira escura.
Uma escadaria larga pairava sobre o centro do saguão. Dava até para imaginar os
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Espíritos Entre Nós
SpiritualEm 'Espíritos entre nós', o médium americano James Van Praagh afirma que os espíritos de pessoas queridas estão sempre à nossa volta, olhando por nós e até interferindo em nossas escolhas para tomarmos o caminho certo. No entanto, não são apenas ess...