POV Luke
Eu não tinha controle do meu corpo. Tudo parecia estar... Tudo parecia estar como um borrão para mim. Até eu ouvir aquelas palavras.
_Família, Luke. Você prometeu. – eu sinto. Sinto as palavras me cortando como a lâmina de uma espada. Então eu luto. A força de Cronos parece se esvair de mim por um segundo. Eu olho para a adaga na mão de Annabeth. A alma do herói, a lâmina maldita ceifará. essas palavras escoam em minha mente. Levanto os olhos e encaro –a. aqueles olhos cinza tempestuosos, tem uma expressão de dor. Reparo que há um corte profundo na altura de sua cintura.
_promessa.
Reúno todas as minhas forças para dizer:
_Annabeth... – sinto a força de Cronos tentando voltar. Sinto todas as células do meu corpo se virando contra mim. Cambaleio para frente. Não. Dessa vez não. – você esta sangrando... – completo, com dificuldade. Mas então percebo que sua dor não vem do corte. Ela me olha, e nós dois compreendemos o que deve ser feito.
_ Minha faca. – diz ela, com a voz trêmula. Ela tenta erguer a adaga. Suas mãos, por tremerem muito, deixam ela cair.. Ela não se abaixa para pegar. Ela me olha com uma expressão assustada. Uma expressão que eu só havia visto uma vez. Quando ela tinha sete anos, assim que entreguei para ela a faca que agora sentencia minha morte. – Percy, por favor. – ela fala, olhando para Percy com uma expressão de súplica.
Percy parece sair de uma espécie de transe. Ele se abaixa, pega a adaga, arranca mordecostas de minhas mãos e a joga na lareira. Eu fico olhando para Annabeth. Tão decidida. Ela parece suportar a maior dor do mundo. Se é que tem um sentimento para "mais dor do que segurar o mundo nas costas" (sim, eu já vi a expressão de segurar o céu) era esse que Annabeth expressa. Percy se coloca entre mim e Annabeth. Me olha com uma cara de fique-longe-da-minha-Annie ( se eu não fosse um titã do mal talvez eu pudesse trabalhar como reconhecedor oficial de expressões faciais)
_Não toque nela. – diz ele - eu sinto raiva. Então a voz de Cronos se sobrepõe a minha novamente.
_Jackson... – começo a sentir meu corpo endurecer, uma aura dourada me cerca. Eu luto para a minha voz sair de novo. Ele não pode ser mais forte. Ele não pode. – ele esta mudando. Ajudem. Ele está quase pronto. Ele não precisara mais do meu corpo. Por favor...
_NÃO! – berra Cronos pegando o controle. Ele olha para a espada e sinto meus músculos se mexerem em direção à lareira. Percy avança contra mim, mas meus braços o empurram para longe.
_ A faca Percy – ouço Annabeth sussurrar. Ela respirava com dificuldade. – Herói... Lâmina maldita... – meu corpo se abaixa para pegar a espada. Eu posso sentir a felicidade de Cronos tomando conta do meu corpo. Ele enfia a mão nas chamas. Posso sentir minhas mãos queimando. Cronos berra e larga a espada. De dentro da lareira vejo uma menina de uns oito anos me encarando. Héstia. A dor de Cronos é suficiente para me dar forças para falar novamente.
_Por favor, Percy... – digo. – ele levanta a faca e vem andando em minha direção, pronto para atacar. Sei o que ele está pensando. Ele irá me matar com as próprias mãos. Ou tentar. Eu sabia que se ele fizesse isso não teria chance alguma. – Você não pode... Não pode fazer por se mesmo. Ele vai quebrar o meu controle. Vai se defender. Só a minha mão. Eu sei onde. Eu posso... posso mantê-lo sob controle. – ele não parece convencido. Levanta a faca para atacar. Então seus olhos encontram os de Annabeth, e ele parece entender. Sinto Cronos ficando mais forte, e mais forte.
_por favor. Sem tempo. – hesitante Percy cambaleia em minha direção. Ouço Grover murmurar algo. Com as mãos tremendo, Percy olha diretamente em meus olhos, e me entrega a adaga, o rosto pálido. Ele não recua. Fica parado em minha frente. Solto as tiras de minha armadura. Desabotoo o velcro. Retiro a parte que protege o braço, e o desprendo da parte de metal que cobre o peito. Olho para Annabeth. Ela esta apoiada em Grover e me olha com uma mistura de sentimentos que eu jamais poderia decifrar. Meu corpo inteiro treme. Enquanto movo a faca para a parte inferior de meu braço esquerdo, apenas me pergunto por que. Por que tudo isso. Por que bem comigo. Por que deuses. Por que titãs. Cada parte da minha vida fora um sofrimento. As minhas escolhas afetarão o destino do mundo. De tudo e de todos. Dos deuses. Dos titãs. Do acampamento. Delas. Da pequena família que construí. Da única parte da minha vida que eu me senti feliz realizado. É por isso que encaro seus olhos cinza na hora que a faca penetra meu braço. eu dou um berro. Cambaleio, e caio no chão, fazendo um estrondo. Posso sentir todas as moléculas do meu corpo queimando. Mas por um tempinho, mesmo que por um milésimo de segundo tive apenas uma sensação. Liberdade. Sinto o chão tremer. Toda a dor volta, e uma aura brilhante me envolve. Percebo todos os olhares voltados em mim.
_boa... Lâmina. –eu digo coma voz fraca. – Percy se ajoelha ao meu lado. Grover e Annabeth andam até mim e repetem o gesto. Lágrimas correm pelo rosto de ambos. Percy não parece ser capaz de expressar nenhum sentimento. Eu olho para Annabeth.
_você sabia. – digo. – eu quase matei você, mas você sabia.
_shh. – a voz dela treme – você foi um herói no final, Luke. Você irá para o Elísio. – eu balanço minha cabeça levemente.
_pensando... Renascer. Tentar três vezes. Ilha dos abençoados.
_você sempre exigiu demais de se mesmo. – diz ela, com uma pontinha de orgulho. Eu levanto a minha mão, queimada pela tentativa de tirar a espada da lareira. Annabeth toca a ponta de meus dedos. Muito da dor desaparece. Eu só quero congelar esse momento...
_você... - eu tusso, e sinto o gosto de sangue em minha boca. – você me amava?
_houve um tempo em que pensei que... – ela hesita, pensando se vai mesmo dizer – bem, eu pensava... – ela olha para Percy, e toda a dor volta de repente. – você era como um irmão para mim Luke. – a dor me acerta de novo. – mas eu o amava. – essa última parte me tranquiliza. Eu só quero levantar, dizer que eu a amo também, e que não importa se ela não me ama desse jeito, que eu vou ser sempre o irmãozinho mais velho dela e que... Meu ar começa a acabar, eu balanço a cabeça para Annabeth e estremeço de dor.
_nós podemos pegar Ambrosia. – diz Grover. – nós podemos...
_Grover. – eu engulo, e tento reunir ar suficiente para falar. – você é o sátiro mais corajoso que eu já conheci. Mas não. Não há cura...
Tusso de novo.
Eu agarro a manga da camisa de Percy, e olho para ele, suplicante, mas com um pouco de raiva também.
_Ethan. Eu. Todos os indeterminados. Não deixe... não deixe acontecer de novo.
_ não deixarei. – ele diz – eu prometo.
Então eu dou apenas mais uma olhada naqueles olhos cinza. Aqueles lindos olhos cinza que pareciam dizer tanto em um só olhar. Que aguentam o peso do mundo. E que salvam não apenas o mundo, mas também as vidas daqueles que só precisam de uma faísca de amor. Que só precisam de uma menininha de sete anos para lhe trazer felicidade. Só precisam de uma família. Então a minha mão se solta. Eu vejo o reflexo dos meus olhos nos olhos dela. Azuis.
Como sempre foram.
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Fanficnessa fic vou escrever os capitulos e partes do livro em outros pontos de vista. aqui você pode ver como foi a Annabeth chamando o Percy de cabeça de alga, o que a Calypso sentiu quando se encontrou com Leo, como Thalia acordou de seu profundo e...