O menino da Cachoeira

25 2 0
                                    

"E eu sempre vivi assim

 Mantendo uma distância confortável

  Até agora

  Eu tinha jurado a mim mesma que eu estava contente

  Com a solidão" - Paramore

A cachoeira já fora um lugar triste, há muito tempo, quando os crimes eram acertados com a morte e a história não foi diferente: Dois meninos que tinham roubado comida no mercado e acabaram machucando mortalmente uma pessoa, tinham feito isso para a família não morrer de fome, mas claro que os aledeões não levaram em conta tal questão e os perseguiram, os meninos não seguiram pela estrada e entraram na floresta, o que lhes deu uma certa vantagem contra a pequena, porém furiosa, multidão. Uma pena não ter durado muito. Eles foram encontrados e não pensaram duas vezes antes de enlaçarem seus pescoços e jogarem a corda por cima de um galho forte. Sam conseguiu ouvir o barulho dos pescoços se quebrando.

Som perturbador demais para um lugar tão bonito.

O sol era gentil contra a água, fazendo-a brilhar hipnoticamente aos seus olhos como pequenos cristais.

Não puderam fazer muita coisa depois que os meninos pararam de respirar. Nãos os levaram de volta para a cidade, não podiam trazer aquele tipo de atrocidade para o povo... Começaram a se arrepender e após toda a cólera ter-se dispersado, os envolvidos lamentaram, a justiça naquelas mortes não aconteceu. Nunca aconteceu.

O sussurro dentro de sua mente conseguiu soar como o próprio pensamento, porém, indo longe demais, onde não podia alcançá-lo. Quando deu por si, já estava sozinha de novo, ao lado de um tronco enegrecido e macabro e a menina loira de vestes claras corria de volta à floresta, rindo alegremente da brincadeira.

Geralmente Sam não se deixava levar pelo que via, gostava de manter o controle da situação para saber quando era a hora de sair da própria cabeça, mas dessa vez... A realidade se resumiu à voz de uma garotinha que não estava ali e lhe trouxera cegamente para o coração de onde quer que fosse.

A árvore era antiga, claramente Sam percebeu, colocando a mochila apoiada nela. E os próprios tênis, junto com o boné. Aquela água pedia por um mergulho e a considerar que o caminho estivera bloqueado pelos longos anos antes dela encontrá-lo, pensou que ninguém poderia conhecer e lhe pegar desprevenida e, caso acontecesse, bem, Samantha sabia se cuidar melhor do que os outros pensavam. Balançou a cabeça não pensando demais no que podia acontecer e desabotoou o short que usava, deslizou a peça pelas coxas e girou com os tornozelos para perto da mochila; os arbustos chiaram, chamando sua atenção, no entanto, preferiu ignorar. Não seria nada demais se não se importasse, aliás, já tinha dado muita atenção a coisas que não existiam por um dia. Retirou a blusa pela cabeça e caminhou com cautela até a beirada rochosa.

O Cheiro das espumas limpava seus pulmões, respigavam contra as bochechas coradas do sol e a convidavam para um mergulho desperto. Samantha sequer imaginava outra coisa e assim fez, como se entrasse na banheira do seu banheiro, colocando a ponta do pé, o tornozelo... Até que metade do corpo já estivesse dentro da água, tomando fôlego para um mergulho demorado. Não estava tão frio, na verdade, era tolerável para quem já tinha tomado banho num albergue que mal tinha energia elétrica para manter as lâmpadas acesas.

Sem dúvida nenhuma, chamaria ali de paraíso, talvez apenas seu, ou contaria para Faith. Seria um lugar para fugirem juntas, acampar e ver as estrelas.

Sam amava as estrelas.

- Um pouco longe da cidade, certo, menina? – Sam soltou um grito esganiçado, virando-se quase que imediatamente em direção à terra.

A História de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora