Sam odiava ter que admitir que estava errada, principalmente para alguém que acabara de conhecer, ainda mais se esse alguém fosse bem apessoado como Gab. Odiou-se no momento que entrou em algum lugar estranho da mata e não sabia se pegava a esquerda ou direita e o GPS não funcionava.
Ótima tecnologia, seria mais prático ter pegado uma das bússolas antigas que a tia guardava no escritório. Sam mal podia esperar para escutar as risadas dela quando contasse que o telefone a deixou na mão. Ann não era muito fã das invenções práticas dos jovens, preferia o que era antigo e peculiar, que se precisava de algum tempo de estudo para entender como funcionava e que na maioria das vezes tinha alguma engenhoca na qual mexer. Esses valiam a pena de verdade.
Infelizmente, Sam não se encontrava em posição de discordar. Pra falar a verdade, ela não encontrara nada sozinha, nem o caminho de volta para casa. E o céu não tinha cara de muitos amigos, não quando as nuvens o cobriam sombriamente, trazendo um vento frio consigo.
-Então, você mora sozinho? – Finalmente falou, precisava quebrar o gelo de alguma forma, então optou pela pergunta mais óbvia.
-Quer saber se vai ter alguém em casa quando chegarmos?
Sim. Era exatamente isso o que ela queria perguntar, mas não em voz alta. Tornaria o receio em algo pior.
Como Sam não respondeu, Gab entendeu que a resposta era positiva e sorriu com isso. Ela estava assustada, mas não o bastante para desistir de sua ajuda. Ela não confiava nele, mas ainda assim, tinha gritado seu nome quando finalmente percebeu que não fazia ideia para onde ir. E ele escutou, tinha se mantido perto o necessário para continuar olhando-a, era bem frustrante fazer isso; correr atrás de uma menina que sequer conhecia... Bom, não pessoalmente, pelo menos. Mas já a tinha visto antes, na janela da biblioteca do colégio, enquanto ele ajudava o pai a carregar os suprimentos para a cozinha. Claro que não tinha contado isso, nem tinha a reconhecido de imediato.
Ela conseguira ser mais bonita do que ele via pelo vidro, usando uma trança e lendo o livro como se estivesse namorando com ele, sem piscar, mordendo os lábios algumas vezes, rindo sozinha. Não era comum ver uma menina que gostava tanto de passar o tempo na biblioteca, ou na velha árvore do pátio. Sam curtia ficar sozinha e talvez por isso ele se mantinha onde não poderia ser visto ou não ia até ela, perguntava o seu nome, sequer seu pai sabia que o filho observava a jovem Linard, quem sabe se soubesse ele teria contado mais sobre a menina do que Gab presumia apenas em suas breves observações.
-E então?
-Ah! – Ele pulou dos próprios pensamentos, olhando para uma Sam real e congelando, mesmo depois dele ter cedido seu casaco para que se aquecesse. – Eu, ahn, é, moro sozinho, pelo menos na maior parte do tempo, o meu pai fica mais no trabalho do que aqui, então...
-Seu pai? Onde ele trabalha?
-Bom, não é na mercearia de Sagrado Coração... – Sam não riu, ótimo, tinha voltado um passo. – Ele dá aulas no colégio, o daqui e na academia de Solene.
-Solene? – Uma escola apenas para rapazes, bem, uma construção para manter meninos e meninas a uma distância segura e permitida. Era menor e possuía um número reduzido de estudantes, mas ainda assim era bastante procurada. Vez ou outra os diretores permitiam que se encontrassem, como na maioria dos eventos, o que resultava no... Sumiço de algumas meninas, não que não se soubesse onde elas estavam, era bem óbvio. – Então ele é um professor... Qual o nome dele?
-Reverendo August. – O professor de Sam, ensinava filosofia, sociologia e teologia desde muito antes dela estudar ali, era um homem sozinho, como todos afirmavam, que tinha desistido dos votos para ensinar. Ninguém falava do assunto, o que alimentava qualquer tipo de história que inventassem ao seu respeito. Ele, por sua vez, não admitia ou desmentia nenhuma. O homem vivia aquém daquele lugar. – Você deve conhecer...
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A História de um Anjo
Romantizm"E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho." (Apocalipse 12:4)