Um dia no Paraíso

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A brisa fria daquela manhã em Sagrado Coração foi o que acordou Samantha, estranhamente, seu clima beirava o quente agradável menos nos extremos do amanhecer e anoitecer, mas a garota já havia se acostumado com isso, pelo menos pensar desse modo a deixou mais confortável durante os três anos desde que viera para cá. A sensação de não estar num lugar estranho ou de não pertencer à ele.

Ou as duas coisas.

Ou nenhuma.

Viu enquanto o sol subia por detrás dos morros no primeiro dia de suas férias, não sabia direito o que faria delas, se passaria mais um mês na área segura de casa ou exploraria qualquer parte da cidade que os outros consideravam proibida. Não seria má ideia, só que, claro, Tia Ann ficaria de arrancar os cabelos grisalhos mais uma vez e com certeza a deixar trancada dentro do quarto não bastaria.

-Samantha, está acordada?

Sam sorriu ainda enfiada debaixo das cobertas, imaginando que se continuasse fingindo que dormia a tia, com certeza, iria embora. O que era uma mentira, Ann não costumava desistir tão facilmente.

-Vamos, mocinha, eu sei que está, consigo te ouvir sorrindo.

-É sério?

-Não, mas você acabou de se entregar.

-Sua bruxa! - Acusou, jogando o travesseiro na porta.

-Que termo ofensivo, garota! Sabe muito bem que não usamos esse nome há muito tempo. - E então lançou aquele olhar estranho e torto sabe-tudo que Sam amava. - Eu vou ter que sair para ir ao mercado, quer ir comigo?

Isso significava ter que ir à cidade e ver as pessoas que via todo santo dia lhe perguntando sobre alguma novidade, embora nada de muito interessante fosse capaz de acontecer de um dia para o outro na vila, mas mesmo assim, as perguntas vinham sempre, sem exceção.

Por esse motivo, Sam preferiu ficar em casa e fazer alguma coisa mais interessante.

-Não, tia, acho que vou preparar algum itinerário menos social.

-Hum, evitando contato com pessoas, é sinal de que ainda está sadia mentalmente, não cedeu as gentilezas de Sagrado Coração. Uma pena que não posso dizer o mesmo de mim.

Numa tentativa patética de demonstrar que tinha uma opinião diferente, Sam revirou os olhos, não era uma surpresa que a tia se achava uma pessoa particularmente espirituosa por brincar de casinha e vizinha preocupada na cidade, fazia isso para depois voltar para casa a fim de comentar e rir na varanda tomando chá com limão e creme com Sam, ou algumas gotas de leite, como ela gostava. A sobrinha preferia o creme. Se a noite conseguisse ser calorosamente sufocante, talvez chá gelado de pêssego.

-Não seja tão cética quanto a isso, a senhora consegue ser uma companhia e tanto. Quando quer, claro. - Acertou-lhe uma piscadela e saiu da cama, como uma boa menina. - Ainda tem o mapa?

-Aquele mapa? Querida, deve estar no quartinho, eu não sei... Por que você o quer?

Sam deu de ombros, não importava se iria com o mapa ou, na verdade, precisava respirar um pouco de ar fresco e andar na floresta me faria bem, mesmo que fosse à esmo, não conseguia pensar em outra coisa.

-Imaginei que fazer uma caminhada me faria começar as férias como pé direito, sabe? Um tempinho longe das meninas do colégio e do pessoal fofoqueiro daqui. Além do mais, a senhora não estará em casa, então, por que eu ficaria trancada aqui?

A História de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora