Capitulo 2

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"Senhorita. Por estarmos com falta de staff teremos de a contratar. Fale com a secretária para mais informações. Obrigada."

Logo o diretor, que descobri chamar-se Joe, baixou o rosto olhando para uma folha fazendo com que eu o encarasse de forma silenciosa.

Passados uns bons minutos voltou a olhar para cima desta vez através dos oculos e fez uma cara inquisitiva. Arqueei as sobrancelhas, movimento logo repetido por Joe que levantou depois as mãos e fez um gesto para eu sair.

Dirigi-me como me fora instruído até à secretária e pedi os papéis que consistiam no meu horário, plano de trabalho e cacifo onde o meu uniforme já se encontraria. Observei o papel branco nas minhas mãos e verifiquei que começaria logo após as secantes aulas.

Fui até casa e tomei um duche apenas para me refrescar e sentir a água fria em contacto com a minha morna pele. Os arrepios a percorrerem o meu corpo inteiro e a sensação de alívio foram o suficiente para tirar qualquer impureza de mim.

Passados uns 10 minutos saí vestindo um roupão e lavando os meus dentes, parando então para me observar. E eu digo, observar cada detalhe. Os meus labios rosados, o meu pequeno nariz triangular. Tudo, conforme Lia diz, feições de minha família. Da qual não me lembro. Passei as minhas mãos levemente pelo meu rosto, coloquei o cabelo num coque e fui deitar-me adormecendo em seguida.

Estava sem fôlego, a correr o mais depressa que as minhas longas pernas permitiam. Estava no meio de uma floresta um tanto mágica. Mas não conseguia aproveitar tais detalhes. Sentia que algo mau estava a acontecer, as borboletas no meu estômago cada vez mais intensas, quando finalmente avistei os cabelos pretos que tanto procurava.

"Liam!", Gritei desesperada e de repente tudo ficou preto.

Acordei sobressaltada, completamente suada, até que me situei em tempo e espaço. Eram 2 da manhã e sim ainda estava naquele mundo tão cruel.

Levantei-me com algum esforço e fui beber um copo de água levando-o para o meu quarto e ligando o abajur. Já fazia um tempo desde que não tinha um sonho tão nítido. E o que fiz foi escreve-lo exatamente como me lembrava. Liam... Liam... Liam... O nome não me dizia nada mas sentia que seria alguém que significava muito para mim. Desenhei, rabisquei e quando finalmente terminei já era demasiado tarde, dando-me assim uma hora para dormir. A qual aproveitei, não me livrando mesmo assim de umas olheiras pouco visíveis mas que estavam lá, na manhã seguinte.

"Ev, acorda!" Ouvi a pessoa mais próxima de mim dizer e como já estava acordada limitei-me a levantar-me e ir tomar o pequeno almoço com ela.

"Hoje vou chegar mais tarde" disse à rapariga que assentiu sem qualquer pergunta, fazendo-me presumir assim que ainda se encontrava chateada pelo ocorrido no dia anterior.

Saí de casa, mas logo parei reconsiderando os meus calções de ganga demasiado curtos. Encolhi os ombros e segui caminho com a minha mochila às costas.

Entrei no colégio andando pelos brancos corredores e foi quando estava a abrir o cacifo que alguém decide ir contra o mesmo.

"Mais cuidado por favor" disse ainda olhando para o meu cacifo de uma forma que até poderia considerar arrogante.

"Com quem é que achas que estás a falar?" A criatura tem voz. E força para tentar fechar o meu cacifo. O qual não deixei claro empurrando-o para fora encarando agora a pessoa que reconheci ser Bryan. Ele não tinha nada de especial. Era bonito mas nada do outro mundo como as outras pessoas descreviam. Dei um suspiro percebendo agora o porquê das palavras pronunciadas pelo mesmo momentos antes.

"Miudinha se achas que..." Não o deixei terminar empurrando o dedo que ele apontava na minha cara e encostando o meu ao seu peito.

"Não me chamas miudinha e nem te atrevas a tentar meter-te comigo novamente" dito isto fechei o cacifo e virei costas dirigindo-me agora para a minha sala que se encontrava no segundo pavilhão. Biologia. Melhor aula. Mas demasiado longa.

Sentei-me no final da sala ouvindo o professor e tirando apontamentos atentamente.

Lia estava nesta escola. Mas andava no último ano e por isso era raro encontrarmo-nos. O que agora que penso bem é estranho. Aliás, conseguimos encontrar pessoas conhecidas do outro lado do mundo mas não na mesma escola?

Fora em meio a estes pensamentos que senti Lucy tocar-me levemente no braço.

"Queres ficar comigo?" Revi os últimos momentos na minha cabeça e descobri que se tratava de um trabalho de grupo então limitei-me a assentir. Trabalho de grupo? Boa. Um monte de pessoas sem ideias juntas fingindo prestar atenção ao que os outros dizem, o que resulta num trabalho muito mal feito por apenas um elemento do grupo à última da hora.

Quando ouvi a campainha mal podia acreditar então levantei-me a correr dirigindo-me para a cafetaria pois estava cheia de fome. Como sempre. Lia dizia sempre que tinha imensa sorte por não engordar senão já estava pior que um elefante. Claro que eu me ria sempre com este pensamento. Olhei para a montra de vidro do bar cuidadosamente decorada em tons brancos e pastel.

"Uma sandes de atum e um sumo de maga laranja por favor" disse à senhora da caixa e passados uns 10 minutos duas coisas boas aconteceram. A minha comida chegou. E Lucy e as amigas vieram sente-se comigo pela primeira vez. Não que seja propriamente bom. Gostava de ter o meu espaço. Mas pensar que talvez as pessoas até gostassem de mim era agradável. Então naquele momento comecei a empatizar com elas não sentindo qualquer emoção claro mas pensando que talvez aquele mundo não fosse de todo mau. Combinamos então ir no final da semana à biblioteca para fazermos o trabalho, e dirigimos-nos juntas até à última aula do dia que seria educação física. Então vestimos o equipamento que era apenas uma camisola branca e uns calções azuis escuros com uma risca vermelha no lado. Demasiado curtos novamente.

Fomos ter com o professor que nos fez correr durante 30 minutos à volta da escola o que não foi grande dificuldade mas no final estava toda suada. Jogamos futebol e depois fomos aos balneários e tomamos banho, pois havia chuveiros privados. Deixei o cabelo por lavar pois não trazia tudo o que precisava então não valia a pena. Vesti a roupa que trazia antes no meu corpo trocando apenas peças interiores e fui embora.

Em vez de fazer o caminho normal até casa dirigi-me ao meu novo trabalho, encarando o edifício com linhas modernas assim que cheguei e entrando logo de seguida, acenando para quem já estava a trabalhar, olhei para o relógio. Três horas em ponto. Perfeito. Fui até ao meu cacifo e vesti o que lá se encontrava, lavando a minha cara a seguir tirando qualquer sinal do caminho embora não muito longo da escola até ao local onde me encontrava.

Colocaram-me na caixa. Pior local de sempre. Mas tinha de ajudar Lia então passei as próximas quatro horas a atender pedidos de pessoas muito indecisas até que o diretor veio falar comigo avisando-me que dali adiante passaria a servir às mesas. De patins. Ótimo. Como se aturar pessoas na caixa já não fosse difícil. Agora terei que aturar as cantadas baratas de rapazes que não aguentam ver uma saia à frente. Sera que não conseguem controlar as hormonas? São comentários tão desnecessários mas tão necessitados por parte das criaturas que os fazem. Claro que não arranjam ninguém com aquilo, mas deixai-os tentar.

Coloquei tudo no cacifo e saí porta fora despedindo-me de uma mulher que se colocava agora na caixa para atender novos clientes.

Fui para casa novamente desta vez vestindo um pijama confortável e enrolando-me no sofá assistindo a uma série que estava a passar na televisão.

Devo ter adormecido pois acordei passado duas horas quando já eram nove da noite com Lia a perguntar-me o que é que queria jantar ao qual respondo que encomendasse uma pizza. Lia assim o fez e passamos o resto da noite a conversar. Ou parte dela, pois adormecemos um par de horas depois.

Angel Without Wings #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora