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Era uma vez uma jovem que não era apenas bela, era belíssima.
Seu nome era Laila. O porte majestoso e o talhe esguio deixavam adivinhar formas perfeitas.

O véu que sempre lhe cobria o rosto deixava à mostra seus lindos olhos de um azul profundo e de uma doçura indizível, mas todos desconfiavam que o não-visto era ainda muito mais bonito.

Sua família tinha poucos recursos financeiros. Seu pai, no que diz respeito as coisas matérias, era pobre como jó e, no momento, encontrava-se endividado e doente.

Naturalmente, Laila não dispunha de dote para se casar-se mas, não obstante, muitos pretendentes, alguns excelentes partidos, apresentavam-se ao pai, pedindo-lhe a mão da filha em casamento.

A todos recusava. Nenhum lhe agradava, por melhor que fosse, ficando o pai desesperado porque, gostando muito da filha, queria vê-la casada, feliz e livre da pobreza.
Certo dia, apresentou-se mais um candidato. Ele respondeu-lhe como os outros:

- Apenas depende da vontade da minha filha - e mandou chamá- la.

Quando Laila viu o homem que queria ser seu marido, quase desmaiou. Era feíissimo, o mais feio que tinha visto em toda sua vida. Trajes suntuosos, maneiras aristocráticas, alto, magro, elegante.
Sua extrema feiúra provinha-lhe do rosto, meio coberto por uma espessa barba, de cor indefinida. O lado não oculto pela barba era todo cortado por cicatrizes que o desfiguravam completamente.
Um de seus olhos estava tampado por uma venda, o que aumentava mais ainda seu aspecto repulsivo.

Feito o pedido, ela respondeu resolutamente:

- Não! Não aceito!

O estranho homem pediu ao pai que os deixasse a sós e dirigiu-se a Laila:

- Senhora, peço-vos que me escuteis. Meu nome é Áli Ibn Amin Abd al-Walií. Eu vos propus casamento, mas será casamento fictício, legalizado apenas pelas leis dos homens.
Vivereis em minha casa como minha convidada, uma convidada de honra, que será tratada como uma princesa. Nossa união só se tornará real quando algo muito importante acontecer .
Aí sereis, de fato, minha esposa...

- Não estou compreendendo, senhor - ela interrompeu. O estranho continuou:

- Sei que vosso pai passa por dificuldades e vossa mãe e irmãos mal têm o que comer e o que vestir. Tornando-se meu sogro seu pai será um homem rico, e todas as suas dificuldades dissipadas. Quanto a vós nada tereis a perder. Vosso pai poderá tomar informações a meu respeito com o Cádi, que me conhece e confirmará que sou honesto, além de muito rico.

- Será um casamento fictício...

- Sim. Será confirmado apenas quando vos apaixornades por mim.

Ela era uma educada e, sobretudo sensível mas só a custo conseguiu reprimir o riso. Respondeu com simplicidade:

- Eis algo totalmente impossível!

- Senhora, sois a mulher mais bela do mundo. Helena de tróia a vosso lado seria feia.
Digamos que eu seja o homem mais feio do mundo. Entretanto, há um detalhe importante: o impossível pode acontecer. Repito que nada tendes a perder. Tereis um prazo de três anos para apaixonar-vos por mim. Caso isso não aconteça, dar-vos-ei o divórcio e a liberdade para voltares a vossa família.

O casamento de Áli e Laila realizou-se pouco tempo depois. Ele ofereceu magníficos festejos, que se prolongaram por mais de uma semana.
Na noite de núpcias, ele lhe pediu que retirasse o véu.

- Você é realmente maravilhosa, a mulher que vi muitas vezes em sonho. Sou seu Majnun. Amo-a desesperadamente, e um dia meu amor será retribuído. Boa-noite, Laila -e retirou- se .

Partiram em uma grande e luxuosa caravana.

Estiveram nas mais belas cidades do oriente. Ele a cobria de presentes e mimos, jóias valiosas, roupas lindas, enfeites exóticos, uma flor colhida ao acaso, uma fruta diferente, uma guloseima. Tratava-a cerimoniosamente e, às vezes com uma certa frieza. Nunca mais lhe falará de amor.

Laila observou que, em todos os lugares por onde passavam, ele era conhecido e cumprimentado com respeito e reverência. Observou também que tratava a todos de maneira igual, fossem pessoas das mais alta categoria social ou os mais humildes. Era o cavalheiro perfeito.

- Que homem fascinante! Pena que seja tão feio! - pensava ela.

- Estamos nos aproximando de nossa casa. Repare, já se encontra à vista.

Ela olhou em todas as direções e nada viu que se assemelhasse a uma casa.

- Chegamos à nossa casa - disse ele.

Tinham chegado a um palácio que parecia saído das páginas das " Mil e Uma Noites".

- Sua casa?! - perguntou ela.

- Não, nossa casa.

Uma pequena multidão de servos veio recebê-los e todos respondiam aos cumprimentos do amo com respeito e carinho.


UMA LINDA MULHER Onde histórias criam vida. Descubra agora