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Ele guiou-a através do palácio e conduziu-a a uma ala, decorada com luxo e harmonia.

- Esses são seus aposentos, Laila.

- Os aposentos das mulheres?

- Aqui não há aposentos para mulheres. Esse é o lugar que mandei preparar especialmente para você, mas a casa é toda sua, instale-se de acordo com a sua preferência.

Laila estava perplexa. Nunca tinha sido tratada de maneira semelhante. Ainda mais perplexa ficou quando ele prosseguiu:

- Tenho um pedido a fazer-lhe, talvez o primeiros de muitos. Por favor, não use mais o véu.

- Não usar o véu que cobre o meu rosto de olhares indiscretos? Nem perto de homens?

- Sim. Não use mais véu. Jogue-o fora.

- Mas, senhor, sempre usei véu, fui educada para usá-lo!

- Por acaso Maryan, a mais santa e pura das mulheres usou véu? E Fátima? E Hadja? E as outras esposas do nosso Profeta? Usaram véu? Seu rosto tão belo reflete a beleza de sua alma. Deixe que todos o vejam e o admirem. O que pode haver de indecoroso em um rosto de mulher, tão belo e puro como o seu?


... E as areias finas da ampulheta do tempo rolavam de um lado a outro...

Laila via o marido apenas na hora da última refeição do dia. Apresentava-se sempre impecavelmente vestido, era gentil e cordial, mas mostrava-se a maior parte do tempo distante.

Revelou-se um brilhante interlocutor. Era versado em muitas ciências, discorria sobre qualquer assunto, falava sobre países fascinantes que visitara, contava histórias.
Também declamava poesias, tocava alaúde e, ás vezes, como uma bela voz de barítono, entoava lindas canções de amor.

Laila perguntou à sua serva predileta:

- O que faz o nosso amo durante o dia inteiro?

- Administra suas terras e os muitos bens que possui. Afinal, ele é muito rico, mas é ainda mais generoso do que rico.

- E por que ele usa aquela venda?

- Não sabeis, senhora? Ele sofreu um acidente de caça que o atingiu no olho e o hakim recomendou-lhe que mantivesse aquela venda por algum tempo.

- E as cicatrizes?

- Ah, senhora, isso ninguém sabe.

Depois da refeição, ele disse:

- Amanhã alguns amigos virão aqui.

- Estarei em meus aposentos.

- Absolutamente! Você estará a meu lado, ajudando-me a receber nossos amigos.

- Eu, uma mulher, e ainda sem véu?

- Sim, Laila. Mas você diz " uma mulher" como se as mulheres fossem inferiores. Não foi isso que o Profeta ensinou. Procuro segui-lo. Muhammed ( que a paz e as bençãos de Deus recaiam sobre ele!) Tratava suas esposas, filhas e as outras mulheres da sua comunidade com amor, dignidade e respeito. Procuro ser assim e, com humildade, posso dizer que sempre agi corretamente com todas as mulheres e com as minhas também.

- O senhor tem outras esposas? - perguntou Laila com ansiedade.

Ele sorriu.

- Agora, tenho apenas você, mas já tive várias.

- E por que não continou com elas?

- Eram todas belas, nenhuma como você, mas eram vazias. Nenhuma chegou a ser a mulher ideal para mim, por isso dispensei a todas, dando-lhes o divórcio.

- E elas vieram com a mesma condição que eu?

- Claro que não! Eu apenas faria isso em relação a você. A nenhuma amei, foram apenas minhas mulheres.

Ela ficou pensativa.

- Serei vazia? Algum dia chegarei a ser mulher ideal de que ele fala? E o que quis dizer quando afirmou "a nenhuma amei" ? Será que me ama mesmo?

Os amigos vieram. Eram senhores da mais alta nobreza e todos foram unânimes em reconhecer a beleza e o encanto da esposa do amigo.

Certa noite, ela quase não reconheceu Áli. Ele parecia um outro homem. Retirará a barba e a venda dos olhos. Seu rosto, escanhoado, estava diferente.
As cicatrizes que lhe mutilavam o lado direito estavam bem mais visíveis, mas olhando-o de perfil, do outro lado do rosto, Laila concluí que, se não fossem as cicatrizes, ele seria o homem mais belo que jamais vira .

... As areias do tempo continuavam a rolar de um pólo a outro...

Laila era feliz, mas sentia falta de não se sabia o quê...

UMA LINDA MULHER Onde histórias criam vida. Descubra agora