Capítulo 2

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- É com grande pesar que nos reunimos hoje... - Iniciava o diretor Ronald Stone, da escola técnica de São Francisco. Os estudantes amontoavam-se pelas arquibancadas da quadra de basquete, envoltos em agasalhos que tentavam driblar o frio de dezembro. - Para prestarmos uma homenagem à Frank Duval, cujo trágico fim jamais poderia ter sido previsto por um de nós. 

Eddie olha para Jim, que estava ao seu lado, com a cabeça abaixada enquanto tentava disfarçar as lágrimas. Em seguida, direciona com inveja seu olhar para o lado oposto da quadra, onde Karen apoiava a cabeça sobre o ombro de Arthur Fisher, representante dos alunos da turma de 2016 da escola. Embora coberta, a quadra não barrava o forte vento que vinha das portas de saída, que direcionavam para o jardim externo. As lufadas balançavam o sobretudo do diretor, que continuava em sua rígida postura de sempre, enquanto pensava nas palavras mais adequadas para o momento. 

- Não podemos negar que suas contribuições fizeram a diferença nesta escola, como a ideia de oferecer opções vegetarianas no almoço e o aplicativo de encontro entre alunos, também desenvolvido pelo nosso querido aluno. - O diretor levanta levemente a cabeça. - Ontem à noite perdemos um futuro e promissor publicitário. Seu suicídio não será esquecido e seu retrato será fixado junto com os troféus, próximo à minha sala. - Eddie não consegue segurar uma risada irônica e tímida, perante a ideia de suicídio, embora ele mesmo tivesse garantido que assassinato seria o termo correto, mas fora impossível convencer os policiais do fato durante o testemunho que havia prestado mais cedo, naquele mesmo dia. 

- Ele jamais seria capaz de tal coisa, ele não tinha motivo algum! - O garoto se controlava para não se levantar da frágil cadeira de madeira, onde estava havia pelo menos uma hora, relatando os fatos para o policial à sua frente. - E para mim os sinais são claros. Sua expressão, os cadernos bagunçados na mesa, as mãos amarradas, o trinco da porta quebrado... 

- Mas você mesmo afirmou mais cedo que ele havia esquecido as chaves, não? - O policial se debruça sobre mesa, quase derrubando a xícara de café que estava vazia. Eddie apenas acenou com a cabeça. - Além disso, seu corpo foi queimado, não podemos provar que suas mãos estavam amarradas. Os cadernos bagunçados só aumento a hipótese de um descontrole emocional. Eu lhe asseguro, fizemos todas as investigações possíveis, não encontramos sinal de mais alguém naquele apartamento que não fosse você ou ele. 

- Cara, a ficha ainda não caiu... - diz Jim, tirando Eddie de seus pensamentos. O frio unido ao choro haviam deixado seu rosto completamente vermelho. - Hoje a gente finalmente iria naquela sorveteria que ele queria desde o começo do mês... 

- Eu sei. - responde Eddie, não conseguindo tirar da mente a imagem da última vez que viu o amigo. - Só não consigo acreditar nessa história de suicídio. 

- Eu também não. A gente conhecia o cara, ele não faria isso. - Jim abaixa a cabeça. - Pelo menos acho que não. 

O diretor dispensa os alunos, que correm com euforia para as cafeterias mais próximas, procurando algum local onde pudessem se aquecer. Eddie e Jim observam a capacidade dos colegas de classe, por não serem próximos de Frank, de agir como se o ocorrido fosse apenas mais um fato corriqueiro do dia a dia. Por não terem tantos amigos, os dois garotos só tinham um ao outro para prestar consolo, e seguem para o parque da Rua Morgan. 

Por ser próxima tanto da casa de Jim, quanto do apartamento que Frank e Eddie compartilhavam, tornou-se o ponto de encontro favorito dos amigos, que se encontravam lá quando precisavam de um descanso da vida escolar. Embora não fosse muito extenso, o parque possuía uma grande variedade de plantas incomuns para aquela área, o que atraia diversos turistas. Entretanto, do lado oposto ao mais frequentado, o ambiente trazia uma ampla área verde, sem tantas árvores, perfeita para tomar Sol e respirar ar puro. Andando mais alguns metros era possível encontrar uma pequena tenda de madeira, com quase quatro metros de altura, onde ocorriam piqueniques ocasionais, e era ali que os três amigos passavam algumas tardes que, aos poucos, iam tornando-se noites. Todos os segredos que existiam entre os três haviam sido compartilhados ali, assim como todas as paixões secretas, as descobertas, os medos e as aflições. 

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