Além do Julgamento

Espírito de busca

Nossa! Quanta disposição! ... Gritou o amigo de Dóris enquanto ela praticava sua mais nova atividade: corrida. Ela que antes já estava sentindo dores lombares por falta dos exercícios, agora se orgulhava de estar satisfeita com seu corpo e sua saúde. O dia ainda apenas começava, com um sol que parecia não estar muito afim de sair, uma neblina caindo de leve sobre o teto das casas e cobrindo algumas árvores, Dóris apreciava toda aquela cena enquanto corria, e agradecia aos anjos toda a oportunidade que estava tendo de apreciar o belo.
Após seu exercício, Dóris foi para seu apartamento e se arrumou para mais um dia de trabalho. Verificou seus emails e suas mensagens no Celular. Quando abriu a porta para sair o telefone residencial tocou, ela imediatamente largou a porta aberta para atender...
_ Alô!
_ Oi, bom dia! Posso falar com a senhora Dóris?
_ Rs.. Ah sim, claro! A senhora Dóris que está falando...
_ Ah! Que Bom! .. Meu nome é Octávio, sou da manutenção elétrica do prédio onde a senhora trabalha. O dr. Francisco Telles pediu que eu ligasse para a senhora abrir todas as salas do andar para que eu possa fazer meu serviço... então, eu gostaria de saber se a senhora vai demorar pois já estou aqui...
_ Oh, claro, sim...eu já estava saindo! Por favor, espere... Em dez minutos estarei aí ok?!
_ Muito obrigado Dona Dóris!
_ De nada!
.... Que coisa! Esse homem me chamando de senhora e dona...! Que estranho... Mas ele tem uma voz bonita.. aah! não acredito que já tô pensando.. aah não!
Dóris chegou e o rapaz estava à sua espera na recepção. Ele à olhou de baixo para cima e ela o olhou de cima para baixo.
_ Você que é o sr. Octávio?
_ Sim, sou eu.
_ Vamos lá então?!
_ Ok, vamos sim.
Dóris apertou o botão do elevador, e enquanto olhava para cima ansiosa para o elevador chegar balançando as pernas, Octávio observava cada detalhe do rosto de Dóris, orelha, boca, olhos, sobrancelhas, nariz... Plinn!!! O elevador chegou. Algumas pessoas saíram e entrou Dóris e Octávio. No elevador, Dóris ficou tímida e não conseguia sem saber o motivo, olhar para Octávio, e ele por sua vez não conseguia parar de olhar para Dóris.
Octávio era um homem de quase quarenta anos, moreno, alto, olhos castanhos escuros, estiloso, tinha esposa, dois filhos e vivia uma vida considerada normal.
Saindo do elevador, Dóris pegou um molho de chaves de dentro da sua bolsa e foi abrindo todas as salas dos andares, quando terminou ela olhou para Octávio e disse: pode começar o seu serviço. Ele sacudindo a cabeça para cima e para baixo foi caminhando para a primeira sala. Dóris foi para a sua sala e começou a trabalhar também. De vez enquando ela esticava a cabeça para verificar em qual sala Octávio estava, e aproveitava para observá-lo trabalhando bem sério.
Chegando a hora do almoço, Dóris avisou a Octávio que iria tirar uma hora de almoço e que ia deixar as portas abertas pois tinha segurança e câmeras em todos os andares, ele concordou e disse que já estava terminando.
Quando Dóris voltou do seu almoço, notou um certo silêncio, quando o segurança andou em sua direção com as mãos estendidas e o molho de chaves pendurado dizendo: o rapaz da manutenção foi embora e disse que voltará amanhã para terminar o serviço. Dóris puxou o molho de chaves da mão do segurança que achou estranha a atitude dela, pois demonstrou irritabilidade quando soube que Octávio fora embora.
Dóris apesar de independente, corajosa e segura, às vezes se mostrava egoísta e imatura. Sentou-se à mesa e checou seus emails como de costume e seu celular, quando avistou um papel diferente em sua mesa. Tirando a mão do mouse devagar e deslizando a cadeira com rodinhas até a ponta da mesa um tanto extensa, ela pegou o papel de cor azulada que estava dobrado ao meio e começou a ler:
" Tive que ir embora rápido porque aconteceu uma emergência em minha casa, espero que compreenda. Amanhã estarei aqui no mesmo horário. Desculpa...".   
Dóris terminou de ler e levou o papel até seu nariz com as duas mãos juntas, e cheirando o papel pensou: nossa que cheiro bom!
Encerrado expediente, Dóris saiu do trabalho e foi direto para o curso de Francês que estava fazendo e depois do curso resolveu aceitar o convite das amigas para tomar um drink num barzinho perto de seu apartamento.
Conversou bastante, deu muitas risadas, bebeu socialmente e por fim disse as amigas que precisava ir embora pois iria trabalhar cedo, pegou um táxi e foi para seu apartamento.
Mãe! São nove horas! Gritou a filha de Dóris na porta de seu quarto, dando batidas na porta rápidas. Dóris pulou da cama ainda meio tonta.. Já tô indo filha! Obrigada! Gritou Dóris para a filha enquanto abria o guarda-roupa depressa tirando uma saia, uma blusa,  e abrindo a gaveta tirando uma calcinha, um sutiã, e juntou apertando contra os seios e saiu correndo para o banheiro. Em quinze minutos Dóris estava arrumada, pegando sua bolsa, uma maçã na geladeira, dando um beijo na filha sentada na mesa tomando café, e indo trabalhar.
Dóris estava atrasada e assim que chegou no prédio Octávio a esperava na recepção. Ela se desculpou, eu bom dia e ele apenas riu e retribuiu o cumprimento.
Octávio esperou Dóris abrir as salas que faltavam fazer a manutenção inclusive a dela, e começou a trabalhar. Dóris foi para sua sala e também começou suas atividades um pouco desconfiada e atolada de tarefas como sempre.
Na hora do almoço, foi avisar a Octávio que ia almoçar e o perguntou: você não vai almoçar também? E ele respondeu: sim... daqui a pouco. Os dois ficaram se olhando e Dóris saiu devagar enquanto Octávio ficou parado apreciando seu andar desajeitado.
Mais uma vez Dóris voltou do almoço e estava tudo em silêncio, ela olhou para as salas e percebeu que Octávio não estava, quando veio novamente o segurança, mas dessa vez sem o molho de chaves e disse: sr. Dóris , o rapaz da manutenção foi almoçar!
Dóris foi para sua sala e sentou-se.
Enquanto verificava emails, chamadas e mensagens no celular, escutou aquela voz boa de ouvir dizendo: cheguei! só falta a sua sala...
Dóris olhou, era Octávio sorrindo, e ela sorriu também e perguntou: preciso sair? Octávio: não! Pode ficar  tranquila, eu não vou atrapalhar a senhora. Dóris: aah ! Quer parar de me chamar de senhora?! Octávio: tudo bem rs ... Desculpa. Dóris: Obrigada.
Enquanto Dóris trabalhava teclando no computador e saindo da sala e voltando de dez em dez minutos, Octávio mexia nos fios da sala e de vez enquando olhava para Dóris com olhar de admiração.
Bom, terminei tudo!... disse Octávio para Dóris que arregalou os olhos e quase transparecendo sua vontade de que Octávio não fosse embora disse a ele: Mas já??? Nossa tão rápido!
Dóris pegou o dinheiro que seu chefe tinha separado para Octávio que aguardava na entrada do longo corredor perto do elevador. Dóris foi até Octávio, fez o pagamento e perguntou: quando você faz manutenção novamente? E ele respondeu: a cada seis meses, ou se precisar caso haja uma emergência. Dóris sorriu e agradeceu. Octávio ficou olhando sério para ela e disse: olha. ..com todo respeito, você é linda. Dóris levou um susto, e no lugar do sorriso apareceu bochechas rosadas e as mãos começaram a suar, e Octávio continuou: ... não fique envergonhada, foi apenas um elogio, você já deve ter ouvido muitos...
Dóris como sempre teve resposta para tudo, nesse momento não conseguia nem movimentar a boca para nada, ela não esperava que Octávio fosse dizer nenhum tipo de elogio a ela. Então, Octávio pegou o elevador e ele e Dóris ficaram se olhando até a porta fechar.
Dóris não sabia o que estava acontecendo direito, mas ela tinha certeza de que não queria se envolver com mais ninguém... E o que estava sentindo? O que seria?