Capítulo 4 - O Inicio da Amizade

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Ainda estava de mãos dadas com Lucas quando chegamos ao jardim. De repente acho que ele percebeu que ainda estava de mãos dadas comigo, ficou sem graça e soltou rapidamente. Olhei para ele e o vi apontando para um banquinho que estava no centro daquele imenso jardim e seguimos caminhando até lá. Quando sentamos ele resolveu puxar assunto enquanto eu ainda pensava porque ele tinha soltado a minha mão.

- Você é aquela menina que me derrubou no inicio do ano não é? - disse olhando pra mim. Abaixo a cabeça sem graça. Ele lembrou.

- Sim, sou eu mesma, infelizmente... É que as vezes sou um pouco estabanada! Tenho várias marcas pelo corpo de tantos tombos que tomei quando era pequena. Minha mãe dizia que eu não dava dois passos sem cair ... -  falei.

Ele riu.

- Tá tudo bem, relaxa! Entre mortos e feridos, salvaram-se todos! - disse em tom de deboche .

- Não precisa exagerar também né?! E eu me odiei naquele dia por ter derrubado você. - deixei escapar.

- Ué, pq? 

- Ah... porque... bem... não era exatamente dessa forma que eu queria que você tivesse me conhecido.... -  eu tentei encontrar as palavras para explicar mas também não entrar em muitos detalhes.

- Ah, mas fica tranquila, estabanadinha ... - ele disse

- Senti que ganhei um apelido...  - disse fazendo cara de chateada .

E novamente ele sorriu para mim.

- Ah, é um apelido bonitinho vai! E combina perfeitamente com você. Mas de qualquer forma se isso te incomoda podemos começar de novo...como se tivéssemos nos conhecido hoje e como se você não tivesse me dado uma rasteira no primeiro dia de aula .... - disse dando uma gargalhada alta.

- Boa ideia! Então diga que irá esquecer esse dia e eu prometo não te dar mais nenhuma "rasteira" até terminarmos a faculdade! - falei juntando as mãos como se estivesse rezando.

- Ok! Então estamos conversados, estabanadinha!  Deixe eu me apresentar então. - disse levantando e estendendo a mão para que eu fizesse o mesmo. - Meu nome é Lucas Albuquerque, tenho 13 anos, gosto de futebol e vídeo game, tenho um irmão mais novo super pentelho e moro com meus pais. Odeio Matemática. Agora você!

- Meu nome é Alice Ferrari, tenho 12 anos, gosto de ficar na internet e ver Tv. Não tenho irmãos e moro com meus pais. Amo chocolate. Acho que é isso... - Disse finalizando.

- Eu também gosto de chocolate... E você acabou de me dar uma ótima ideia, vem comigo!

E novamente me puxou pela mão me levando pelos fundos da mansão.

- Peraíí!!! Pra onde a gente tá indo? - perguntei.

- Você vai ver. E acho que vai gostar. Vamos rápido! - entramos correndo e quando vi já estávamos chegando na cozinha (inha não era mesmo. A cozinha era do tamanho de metade da minha casa toda).

- Estamos na cozinha e aí? O que tem de tão interessante aqui? - Debochei

- Mas que menina ansiosa!!! Deixa eu procurar aqui .... 

- Quer ajuda para procurar? - Ofereci.

- Não, não, obrigada! Quero você e minha cozinha intactas no final de tudo. Então prefiro não arriscar.

E começou a abrir os armários um a um com todo cuidado para não fazer barulho e quando encontrou o que procurava, abriu um sorriso de orelha a orelha e fez sinal para que eu chegasse mais perto. Quando estava próxima a ele, olhei para onde ele apontava e sinceramente nunca tinha visto tanto chocolate junto na minha vida. Acabei sorrindo também.

- E ai preparada para se empanturrar? Pode comer o quanto quiser porque aqui em casa só eu e meu irmão que gostamos então o armário está sempre cheio. - se virou me olhando com expectativa - E ai vai comer ou vai ficar só olhando?

Pegamos alguns, sentamos na mesa e começamos a comer. Parecíamos duas crianças.

Depois de algumas mordidas, já não aguentava mais. Empurrei o resto do meu chocolate pra frente e olhei pra ele que ainda estava se acabando. Como ele estava tão concentrado em sua "árdua tarefa" aproveitei para ficar admirando aquele rosto de perto...

- Que foi que você está me olhando assim? - fui tirada dos meus pensamentos rapidamente.

- Ah nada ... Estava olhando você comendo o chocolate... Parecia desesperado. - Falei disfarçando.

- Você já cansou? Nem comeu muito ...

Apenas concordei com a cabeça. E depois que ele terminou de comer o chocolate ainda conversamos muito sobre assuntos variados... Desde a escola até que faculdade queríamos fazer. Quando ele olhou a hora no celular ficamos surpresos de quanto tempo já havia passado desde que saímos do salão de festas. Pedi a ele que nos levasse de volta antes que pensassem que ele tinha me raptado.

- Obrigada pelo chocolate! Adorei viu?! Até que você é legal..

Ele parou no meio do caminho, olhou pra mim e disse com um sorrisinho de lado:

- Até que eu sou legal? Hahaha... Adorei! Você é ótima ! Mas pq eu "até que sou legal"? Você achava que eu não era?

- Bem, mais ou menos... Sempre achei você muito fechado lá na escola. Nunca vi você cercado de muitos amigos. Depois daquele trágico incidente comigo no inicio do ano você nunca se arriscou a dar uma palavra comigo, nunca puxou nem assunto, nem nada ....

- Ah sim... entendo. Então ... como te disse não tenho muitos amigos na escola e na verdade nem faço muito questão de ter. A maioria ali naquele colégio só parece estar interessada em quanto eu tenho no banco do que saber se estou bem ou realmente ser meu amigo. Eu não gosto de pessoas assim então acabo me afastando. Aí com isso acabo afastando também pessoas legais, como você, por exemplo. Mas o que importa é que agora pude conhecer você um pouquinho melhor e tenho certeza que você não é como aquelas pessoas de lá. E de qualquer forma também não sou o tipo de pessoa que fala com todo mundo só por falar. Perto de mim é só quem eu gosto.  Ah, e me desculpe se não falei com você antes ...

- Ah, obrigada pela parte que me toca. E tudo bem, aceito sua explicação e eu te perdoo por isso tá bom? - disse mostrando a língua pra ele .

Ele riu e continuamos andando em direção ao salão de festas quando ele parou na minha frente e perguntou:

- O que acha de ir ao shopping comigo e com meus pais no próximo sábado? Nós vamos ao cinema e depois fazer um lanche. Se quiser peço para os seus pais ...

Fiquei pensativa olhando para ele ... Duvido que meus pais vão deixar...

- Ah, vamos lá, vai ser legal! - ele disse tentando me convencer. Fez biquinho e tudo. Acabei rindo.

- Tá bom! Se meus pais deixarem eu vou!

- Tenho certeza que eles vão deixar! Qualquer coisa eu peço pro meu pai falar com o seu!

- Ok, mas sinceramente do jeito que meu pai é acho que só seu pai mesmo que vai conseguir convencê-lo viu?

- Sem problemas... Quando chegarmos lá eu falo com meu pai.

- Então quer dizer que agora somos amigos?  - Perguntei.

- Sim, acho que somos sim!

E quando chegamos no salão de festas eu tinha certeza apenas de duas coisas: a primeira é que Lucas agora era meu amigo e a segunda era que ele era APENAS meu amigo. Não gostei muito disso, mas acho que posso me acostumar .... Ou não.

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