Capítulo 32

1.4K 108 3
                                    

Quase tudo estava do mesmo jeito que há sete anos atrás. Minha família continuava amorosa e divertida, e acima de tudo unida. As prateleiras da sala ainda eram compostas pelos livros de capas douradas que eu adorava tanto ler quando criança. O pão preto que Olena preparava continuava incrivelmente delicioso. Lembro-me de quando entrava de férias da Academia pedia para que Olena fizesse o pão todos os dias e me comportava para poder ler os livros dourados.

Se eu pudesse ficar, ficaria. Seria bom viver aqui com Roza. Mas não podemos e isso é uma pena.

Já havia visitado quase todos da comunidade, até mesmo Mark e Oksana, amigos da família. Eles são casados há bastante tempo. Oksana era de uma família importante e na época Mark era o seu guarda-costas, e no fim os dois acabaram se apaixonando; como a família de Oksana não aceitava o relacionamento dos dois, eles fugiram e vieram para cá.

A história deles era um pouco parecida com a minha e a de Rose. Eu era um bandido importante, e ela uma Agente do FBI que deveria me prender, mas no fim acabamos nos apaixonando e cá estamos nós. A ponto de nos casarmos.

Mal posso esperar para oficialmente me tornar o seu homem.

____________________________________

Rosemarie Hathaway

Acordei com uma grande e terrível dor de cabeça por causa da vodka russa que tomei ontem. Sabia que deveria ter escutado Dimitri quando disse que era bem forte e que provavelmente serviria de combustível para foguete. Mas a minha personalidade contrária me fez ir pelo caminho errado e tomar um copo cheio daquela água do diabo. Dimitri já não estava ao meu lado, provavelmente estaria na cozinha ou tinha ido dá uma volta.

Ainda não sabíamos quando iríamos voltar para o Brasil, passaríamos um bom tempo para que Dimitri matasse boa parte da saudade de sua família e terra natal. Quando abri a porta do quarto para descer, Yeva estava do lado de fora com um ar impaciente.

- Hã, bom dia. - saudei desejando saber o que ela fazia no que parecia ser me esperando.

- O meu Dimka já acordou há bastante tempo e você ainda está aí dormindo, vamos menina. O seu casamento será em breve, temos de tratar da cerimônia.

- Não me diga que foi uma das suas previsões de que se eu não me casar logo com o seu Dimka, ele vai acabar desistindo e me deixando?! - debochei colocando uma mão na cintura.

- Ninguém precisa de previsões quando já se sabe que haverá um casamento. Agora ande logo.

Bufei e desci as escadas com Yeva ao meu encalço.

Nunca havia pensando que um dia iria me casar, ter uma família e cuidar da casa. Mas com certeza este último não irei fazer - quer dizer, claro que vou, mas não irei me prender a isso - sou uma pessoa impulsiva e que quer fazer coisas loucas e inusitadas. Não conseguiria ficar parada por muito tempo e presa dentro de casa. Eu nasci para ser um pássaro livre, pronto para poder voar a qualquer instante.

Mas eu estava pronta para me deixar ser levada por Dimitri Belikov.

- Espero que esteja pensando em que vestido irá usar no casamento.

A voz de Yeva tirou-me dos meus devaneios.

- Você acha mesmo que irei usar um vestido? - perguntei cética. - Não irei usar aquela coisa brega.

- Então me diga, menina. O que irá usar? - Yeva me olhava com aquele olhar duro, na família ela era a única que provavelmente me queria bem longe do Dimitri.

Parando pra pensar agora... Nem eu sei o quê irei usar em meu casamento. Droga! Parecia tão irreal essa coisa de ter um marido que sequer pensei nas outras coisas.

Quando já estávamos na sala da simples e aconchegante casa dos Belikov, a velha mandou eu pegar a bandeja com pão preto e irmos até a casa de algum conhecido dela.

O dia se passou num piscar de olhos. Durante toda a manhã eu tinha ficado presa á Yeva, fomos até a casa de um casal chamados Mark e Oksana e depois ficamos rodando a comunidade inteira. Não sei porque ela queria minha companhia, de certo estava fazendo algum feitiço contra mim.

Quando já tinha anoitecido voltamos para a residência dos Belikov. Estava carregando umas sacolas de compras, meus braços já estavam marcados e doloridos. Dimitri veio ao meu socorro e tomou as sacolas para si.

- Parece que teve um dia animado. - Ele sorriu, me dando um beijo rápido nos lábios. Ele sabia que eu ficava sem jeito quando trocávamos carícias na frente da sua família.

- Me lembre de nunca mais sair de casa com sua avó, ela me fez caminhar pra caramba e ainda nem me deixou almoçar. Estou morta de fome. - reclamei fazendo uma careta de desgosto.

Dimitri foi até a cozinha e depositou as compras encima da mesa, o segui.

A mesa estava posta e um cheiro delicioso invadia minhas narinas. A comida russa não me agradava, mas não tinha nada que Olena fizesse que não fosse bom.

- Estávamos só esperando você e a mamãe. - Olena disse apontando para a cadeira, me sentei satisfeita por enfim poder comer. - Imagino que Yeva não tenha abusado muito da sua boa vontade, Rose.

Bufei servindo meu prato com verduras e pedaços de carne.

- Ela definitivamente me odeia. - disse.

Dimitri gargalhou.

- Ah querida, não é isso. - Olena respondeu também sorrindo. - Ela só quer ter certeza se você é a mulher certa para o nosso Dimka.

Enrascada Onde histórias criam vida. Descubra agora