Além Das Aparências - Luan Santana

Capítulo 13

Mariana: queria te dizer uma coisa
Juliana: fala
Mariana: eu não vou querer nada com seu namorado
Juliana: tenho certeza que não
Mariana: eu só quero me aproximar de você, ter uma irmã
Juliana: mas só agora me procurou -cochicho
Mariana: o quê?
Juliana: nada

Continuamos o trajeto em silêncio, não tinha a mínima vontade de conversar com ela, era uma estranha pra mim. Uma estranha extremamente parecida comigo. Não era fácil saber que a pessoa que eu passei minha vida inteira odiando/magoada caindo de paraquedas.

Parei na frente do hotel e ela desceu, não conversamos nada até chegar aqui. Ela apenas me deu um tchau quando desceu do carro e saiu caminhando devagar, fiquei a observando se afastar de mim, talvez não fosse tão indiferente. Afastei os pensamentos e fui rumo a minha casa.
Estacionei na garagem eram 23:45, respirei fundo e entrei em casa. Luan estava sentado na sala assistindo televisão com a cara emburrada, sorrio ao vê-lo assim. Com certeza estava bravo pelo horário que eu cheguei.

Luan: meia noite Juliana?
Juliana: pra falar a verdade 23:48 -olhando no relógio
Luan: não to achando graça
Juliana: nem eu

Caminho até ele e paro na sua frente, tento dar um beijo e ele desvia o rosto. Ele sabe o quanto eu detesto quando ele faz isso, mas hoje não era dia pra brigas.

Juliana: ah qual é Luan? -sento do seu lado
Luan: onde você tava?
Juliana: aula de dança

Sei que foi uma desculpa esfarrapada mas foi a primeira coisa que me veio a cabeça. Eu fazia aulas de balé quando criança e quando fiquei adolescente abandonei mas a uns meses voltei a ter aulas de balé clássico e dança contemporânea.

Luan: a essa hora Juliana?
Juliana: quer brigar mesmo?

Ele passa a mão nos cabelos e respira fundo, me olha de baixo e muda de expressão.

Luan: por que você não liga pra avisar meu amor?
Juliana: pensei que você soubesse
Luan: eu fico preocupado -me abraçou de lado
Juliana: me desculpa?
Luan: é claro

Me abraça e leva a mão até minha nuca, começa a acariciar meus cabelos devagar.

Juliana: no cabelo não Luan
Luan: ta bom -ri
Juliana: ta assistindo o que? -deito em seu peito
Luan: nem sei
Juliana: ue Luan
Luan: antes de você chegar eu tava preocupado demais pra prestar atenção agora eu só quero prestar atenção em você

Olho nos olhos dele e fico encarando aqueles olhinhos escuros por alguns segundos, lembrei de quando nos conhecemos. Aquela noite triste logo após o interro dos meus avós, aquela dor que eu sentia não se cabia em mim, então decidi caminhar pelo condomínio que eu morava a um ano e não conhecia nada. Mau conseguia caminhar, quando cheguei a um banco de uma pracinha cai em choro, não conseguia me controlar mas próxima ao meu pai devia ser forte, não explanar aquela tristeza enorme que eu sentia. Mas ali era só eu e as estrelas. Uma menina de 17 anos lamentando por perder parentes tão próximos, prestes a conhecer alguém que me mudaria tão complemente que nunca mais seria a mesma. Foi aí que surgiu aqueles olhos, aquele homem. Com 19 anos e um sorriso lindo no rosto, nem importei-me com o que ele era, cantor, compositor e o resto que fosse. Ele apenas era meu refugiu de tudo que eu sentia. Ele me estendeu a mão e eu aceitei, peguei-a e naquela noite bebi tanto que quando voltei pra casa tinha esquecido-me de tudo.
Isso mesmo! Contei a ele tudo que sofri e ao invés das palavras clichês ele me convidou pra ir num bar e bebemos a noite toda, passei a noite inteira a olhar aqueles olhos e admirar como eram lindos! Antes de me deixar em casa o beijei e nunca mais consegui ficar um dia sem beija-lo.

Luan: que foi?
Juliana: vamos beber um vinho?
Luan: claro -sorri

Vou até a adega e pego um dos melhores vinhos ali, tinha até ciúmes dele. Ganhei do meu chefe a uns dois anos e nunca deixei ser aberto mas essa noite era especial, a noite da despedida.

Luan e eu riamos ao lembrar de histórias passadas, se parar pra pensar já vivemos tantas coisas nesses cinco anos de namoro, desde o primeiro beijo até hoje. Engulo seco ao pensar que não o verei mais, afasto esses pensamentos pois o sentimentalismo atrasa nossos planos.