Capítulo Três - Tapando os Ouvidos

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Aumento o volume do meu aparelho auditivo ao  o Marcos chegando na janela. Olho para trás e vejo a minha mãe lavando a louça do almoço com o mesmo olhar triste de sempre.

Meu pai havia saído, ele é um alcoólatra. Tudo começou quando uma fase tempestade se formou em nossas vidas, eu não lembro muito, eu era pequena. Era uma tarde de domingo, meu pai e meu irmão — Que hoje seria 15 anos mais velho que eu — sofreram uma acidente quando iam para um jogo de futebol que estava acontecendo na cidade ao lado.

Eu não sei detalhes, pois meus pais não tocam no assunto. Tudo que eu sei, é o que minha tia me contou.

Um caminhão descontrolado, bateu no carro em que eles estavam e toda a pancada foi no banco em que meu irmão estava. O meu pai, sofreu algumas fraturas. Até hoje, ele se sente culpado por esse acidente e se afoga em bebidas. Já teve uma overdose, e eu tenho medo que a próxima seja fatal.

E minha mãe, apesar de dar todo amor e carinho pra mim, está sempre com um olhar de tristeza. Muitas vezes, eu não sei o que fazer... Então eu só a abraço.

Além disso, ao beber muito, meu pai se torna bastante agressivo e o alvo é a minha mãe. Eu não aguento ver mais essas cenas diariamente, me sinto muito sufocada, penso até em contar para alguém ou enfrentar o caso. Mas prefiro, desligar meu aparelho auditivo e ir pra longe da cena.

Chego em minha mãe e dou um beijo nela. Corro até a porta e rapidamente saio de casa. Ao abrir a porta, dou um grande abraço em Marcos e digo, olhando no fundo dos olhos dele:

Vamos Marcos, não quero ficar aqui.

— Mas a gente não ia...

— Assistir um filme? Não vamos, eu só quero sair daqui. Que tal irmos ao parquinho tomar um sorvete?

— Ok então, se você quer assim, é melhor do que ficar em casa fazendo nada. — Ele parecia confuso no começo, mas depois, pacientemente me esperou fechar o portão e subimos a rua para a praça mais próxima.

A praça estava quase deserta o domingo estava muito quente, mas em compensação a sorveteria estava aberta, nós compramos duas casquinhas — a minha foi de baunilha e a de Marcos foi de chocolate — nós nos sentamos no coreto da praça e eu tentei puxar assunto, mesmo pouco animada.

— Você tinha desaparecido na festa ontem, o que houve?

— Ah eu estava com um amigo.

— Amigo? Mas toda a galera tava junta!

— Eu sei, eu tinha achado ele lá na festa.

— Na próxima apresenta a turma pra ele.

— Helen, você acha que eu sou uma pessoa legal?

— Ué, acho.

— Não legal só, você me considera uma pessoa interessante?

— Eu namoraria com você. Isso vale como um sim.

Marcos riu de leve e continuou a conversa:

— Ok então, é que ultimamente eu tô meio inseguro sobre esse papo.

— Ah Marcos, não pensa nisso agora, você é super legal. Claro que você vai achar alguém algum dia.

Marcos era realmente super legal mas eu não ligo pra isso de ficar com os meninos, eu tenho mais problemas pra resolver antes do amor.

Depois disso, passamos o dia todo passeando pela praça e olhando as nuvens até que as estrelas apareceram, olhei o relógio e o relógio marcava 20:30, até que alguns garotos que estavam jogando bola, chegaram para falar com Marcos. Dei um "Oi" tímido para todos, nem olhando para seus rostos.

Não Consigo LidarOnde histórias criam vida. Descubra agora