Capítulo 2: Um encontro inesperado

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Um pouco afastado do grande forte de New Yggdrasil duas crianças davam passadas leves e receosas enquanto se aproximavam de uma casa - Silêncio Bugsy, a gente tem que fazer uma surpresa pra mamãe com todas essas laranjas, veja só, quem está ali? - Um semblante de uma jovem mulher cujo o trabalho teria tomado toda a sua vitalidade, a jovem moça mais parecia uma anciã precoce, fios brancos de preocupação já pairavam sobre a imensa cabeleira de fios escuros - Onde esses pestinhas se meteram? Será que os guardas os pegaram de novo? -

-- Estamos aqui mamãe! Afirmou Bugsy correndo em direção a jovem senhora estragando assim o esconderijo dos dois e entregando a posição de seu irmãozinho.

-- Onde vocês estavam? Quase morro de preocupação? Me deixe vê-la, toda suja, bateram em vocês? BUGGY! Venha cá agora!

-- O-oi, mãe... Afirmou Buggy já imaginando o que estaria por vir.

-- Olha mamãe, trouxemos umas laranjas que estavam a venda lá na... ~BUGSY~ interveio Buggy.

-- Laranjas? Onde conseguiram isso?! Não me diga que roubaram! Buggy! Já falei que não quero que meus filhos roubem. Imagina se seu Pa... - MEU PAI NÃO ESTÁ AQUI E AGORA EU SOU O HOMEM DA CASA, QUERENDO VOCÊ OU NÃO! -  gritou Buggy.

-- Homem da casa? Com essas atitudes? Você nunca será um homem se continuar assim!

-- MEU PAI FOI FUGIU PORQUE NÃO TE AGUENTAVA MA... ~ Buggy é interrompido com uma tapa que sua mãe lhe dá~

-- Não diga mais uma palavra sequer!

Sem dizer nenhuma palavra a mais Buggy corre chorando, cabisbaixo e sem rumo, ele simplesmente corre. - Mamãe, ele pegou isso pra senhora porque se preocupa, não briga assim com ele não. - afirmou Bugsy um pouco paralisada com o que acabara de presenciar, entendeu pouco do que acontecera porém achou que deveria explicar o lado de seu irmão.

-- Eu sei disso, meu bem, - explicou a mãe- porém não posso deixar que ele se torne um ladrãozinho, seu pai não gostaria de voltar do mar e ver que eu não soube criar seu primogênito... Essas coisas você só vai entender quando crescer um pouco mais, às vezes os pais são duros com seus filhos para o próprio bem deles.

Já muito longe dali o jovem Buggy correu até não sentir mais suas pernas e neste momento ele se viu deitado em um arbusto que para ele lhe pareceu muito confortável - Essa velha vai passar a noite preocupada comigo, dormirei aqui hoje, o som das ondas me acalma - e ali o pequeno deitou porém não conseguiu dormir, sua mente estava muito barulhenta esta noite para isso. As estrelas pareciam flocos de neve que o céu grudou lá para enfeitar a noite, a escuridão o atraía pois somente ali perdido em seus pensamentos e com o rosto vermelho da pancada ele se sentia vivo, se sentia perto de uma pessoa que ele não conhecia, nunca o viu porém sempre o sentiu perto, seu pai. O brilho das estrelas formaram a silhueta de um homem e a escuridão da noite insistia em manter seu rosto oculto, por mais que o garoto tentasse não conseguia decifrar o rosto por trás da escuridão, a incógnita que crescia em seus pensamentos sempre que o assunto era seu pai, "Por que foi embora? Por que nos abandonou?" Essas perguntas se mesclavam com o sentimento de ódio que ele tentava nutrir por seu pai, porém era inútil, sempre a curiosidade e a vontade de conhecê-lo superavam qualquer ódio fraco que ele tentava demonstrar ou até mesmo convencer a si mesmo que tinha, assim foi a noite inteira até que o garoto pegou no sono.

Já era manhã quando o garoto acordou e se deu conta que realmente tinha feito aquilo - Nossa, eu realmente dormi na praia - disse ele sorrindo, porém quando lembrou dos pensamentos da noite passada logo uma feição séria tomou seu rosto e o garoto se pôs a andar pelos arbustos que se estendiam por toda a entrada da praia e andou, até avistar um homem deitado na areia, pegou uma vareta que achou no chão e se aproximou do tal sujeito com cautela ele analisou o sujeito para ver se ainda estava vivo, - Ei, acorde! - falou o garoto, porém o corpo insistia em não se mexer um centímetro sequer, - EEEI! - insistiu o garoto dessa vez cutucando o rapaz com a vara, o rapaz estava aparentemente vivo então só poderia estar em um sono muito profundo, o garoto então teve que pensar rápido em uma forma de acordá-lo, analisou toda a areia que estava a sua volta até avistar um siri, seus olhos começaram a brilhar e então ele teve uma brilhante ideia: Posicionou o siri próximo ao rosto do sujeito para que ele o acordasse, em questão de segundos o siri agarrou a orelha esquerda do sujeito que acordou num pulo...

Um olhar entre os dois após o sujeito acordar faz com que o garoto sentisse que finalmente havia encontrado o rosto por trás de toda aquela escuridão que vira noite passada, ele não conseguia explicar só sabia o que sentia e como um garoto impulsivo que era ele seguiu seus instintos e começou a falar com o rapaz, - Como você se chama, senhor de roupa estranha que fala com instrumentos? - o rapaz sorriu e respondeu gentilmente

-- Você está na presença do ilustre Dorian Balderian, o maior músico de todos os tempos! Um Skald incomparável, o único a ter uma música sobre seus próprios feitos, um aventureiro corajoso e o desejo de todas as mulheres!

Nossa que legal! Disse o garoto com os olhos brilhando como que se vissem o próprio Odin diante dele, mas na verdade era somente um rapaz que sequer passaria dos 24 anos, cabelos loiros enormes que dariam inveja a qualquer mulher da vila de onde o garoto vinha, mas o que mais chamava atenção no rapaz eram seus olhos enigmáticos, coisa que o garoto nunca havia de ter visto antes. Como poderia um rapaz ter olhos de duas cores diferentes? Um olho azul como o céu de uma manhã ensolarada e o outro tão verde quanto as safiras que ornamentam o cinto da deusa Frigga - perguntou o garoto -

-- Ora, meu caro, eu fui abençoado pelo grande pai de todos os Deuses, Odin em pessoa me deu esta dádiva! Estes olhos, meu caro, são capazes de ver a verdade por trás de todas as mentiras, são eles quem conseguem me dar a inspiração necessária para cantar e compor as maravilhosas canções que saem deste, que você julga como velho, alaúde. Meu mais velho amigo, e salvador nas horas mais perigosas, meu amigo.

-- Um alaúde? Como que um alaúde pode salvar sua vida? É apenas um pedaço de madeira com cordas!

-- Hahaha, você não deveria falar isso, meu caro. Você é jovem por isso vou lhe contar, às vezes somente a música tem a capacidade de afastar de seus pensamentos quaisquer peças que o destino venha a pregar-te, só a música pode salvar uma mente da completa insanidade e trazê-la de volta a luz! A música meu amigo, é como o tarot do destino, ninguém é seu dono, nós simplesmente somos interlocutores de sua maestria suprema, nunca poderemos controlá-la e ela é tão poderosa que nem um exercito e nem o tempo pode derrotá-la, ela é perpétua e tem a capacidade de acalmar o espírito do homem. Assim como também pode atiçá-lo e fazê-lo lutar como se tal luta fosse a sua última.

Ao ouvir tudo aquilo o garoto fica cheio de dúvidas, como pode um homem ser tão enigmático a ponto de fazer com que ele não consiga entender pouco mais da metade das palavras que saiam de sua boca? E antes que o garoto percebesse essas dúvidas iam fluindo, pacientemente o jovem rapaz ia respondendo cada uma delas porém nunca respostas diretas, sempre com frases de difícil entendimento ou contando de suas aventuras, entre uma e outra o rapaz até tocava uma música em seu alaúde, o que fazia o garoto não entender nem com os ouvidos a par da música o que o rapaz quis dizer. E este diálogo perdurou por toda a manhã, até que um barulho diferente de falas ou notas musicais, se convertido a notas daria uma bem mais grave que todas que pudesse um dia sair do alaúde de Dorian, era seu estômago o avisando que como todas as coisas vivas ele necessitava de alimento.

-- Desculpe! Falou Dorian, envergonhado com o que acabara de acontecer.

-- Nossa, eu esqueci que já passei tanto tempo fora, minha mãe deve estar preocupada, também preciso voltar pra casa!

-- Tudo bem, meu garoto, siga seu caminho e que Hugin e Munin o observem em sua travessia!

-- Não acha melhor você observar? O que acha de me acompanhar até minha casa, nós não somos ricos mas nunca negaríamos comida para alguém como você, além do mais você irá adorar conhecer minha mãe!

-- É... Não pos... ~ronco da barriga de Dorian~ Acho que vou aceitar sim...

-- Que maravilha! Então vamos logo, estamos um tanto quanto longe de casa e minha mãe já deve estar preocupada!



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