Capítulo 3

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Saint Georges, Quebec.

"Senhores e senhoras, solicitamos que afivelem cintos de segurança. A partir deste momento é proibida a utilização de qualquer equipamento eletrônico. Dentro de instantes pousaremos no aeroporto Saint-Georges Aerodrome, em Saint-Georges, mantenha o encosto de suas poltronas na posição vertical, sua mesa fechada e travada e afivelem o cinto de segurança."

A inquietação do rapaz ao seu lado estava o tirando do sério, já havia perdido as contas de quantas vezes pediu para que ele parasse de mexer seu corpo na poltrona daquele avião. Sabia de seu medo por voar, mas ele precisava ao menos tentar se manter quieto. A pior parte já havia passado, agora era somente aguardar o avião aterrissar.

- Você pode, por favor, parar de se retorcer? – pediu, já sentindo seus últimos requisitos de paciência se esvaindo – Você está me irritando, Pete.

O amigo lhe lançou um olhar desesperado, ignorando totalmente seu pedido. Seu medo por aviões, voos, altura iam muito além de algo que ele pudesse controlar, Nicholas nunca entenderia como ele ainda não havia superado aquela sua fobia – que aos seus olhos era algo totalmente bobo – o homem viajava o tempo inteiro, já tinha feito inúmeros esportes radicais envolvendo altura, mas o pavor por um simples avião ainda estava lá.

O corpo agitado de Pete voltou a se retorcer desconfortável, fazendo Nicholas bufar e contar os segundos para o pouso, para que finalmente pudesse se livrar dele.

- Não me peça para ter calma! Não quando estou a milhares de pés do chão, homem! – quase gritou com Harrison, que apenas negou com a cabeça desistindo de discutir com o amigo.

***

Ryan dirigia concentrado ao seu lado, parecia totalmente alheio ao visível desconforto que a mulher sentia ao olhar as ruas passando rapidamente aos seus olhos. A avalanche de lembranças que invadiam sua mente naquele momento estavam a deixando tonta, e com um pequeno aperto no peito.

Das últimas visitas não havia sido daquela forma – conseguira ficar todo o período na casa de seus pais sem muitos problemas – mas algo parecia gritar para si que daquela vez seria diferente e era isso que fazia com que passasse suas mãos nervosas pelos cabelos, e endireitasse sua postura incontáveis vezes.

- Ok, se você passar as mãos pelos cabelos mais uma vez, juro que as amarro até chegarmos à casa de seus pais, Trice.

Ryan disse desviando o olhar das ruas calmas, para checar se estava tudo bem com a amiga.

- O quê? – passou as mãos pelos cabelos novamente, arrancando uma risada fraca do homem – Eu só...

- Está nervosa... Entendendo, mas não precisa. Certeza que você resolve isso logo e quando menos esperarmos, já estaremos em Los Angeles de novo, huh?

- Só estou impaciente e cansada, você não? A viagem foi longa – tentou mudar o foco da conversa, na tentativa de amenizar o nervosismo visível.

Ryan entendeu, logo engatando em uma conversa sobre o senhor que veio ao seu lado no avião que cheirava a pacotinhos de biscoitos de queijo. Conseguindo fazer Beatrice rir um pouco e se esquecer por alguns minutos do lugar que a cercava.

Quando o rapaz estacionou em frente a casa de seus pais – depois de seguir as instruções tanto do GPS quanto de Beatrice – ela voltou a focalizar sua mente na casa a sua frente. Continuava a mesma, mesmo depois de uma reforma, os Colleman mantiveram o mesmo ar que ela se lembrava de sua adolescência. Fazia alguns anos que tinha passado algum tempo naquela casa, Ação de Graças de uns bons três anos. Sempre agradecera aos seus pais por decidirem passar datas comemorativas em L.A, sem precisar fazer com que ela voasse até Québec. Precisava confessar que sentira falta daquele lugar, de cada mínimo detalhe e por mais que quisesse apagar algumas memórias, sentia que somente ali conseguia se sentir em casa.

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