Capítulo 6

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- A situação continua fora de controle... Os moradores da cidade estão apavorados, alguns até mesmo já optaram por se afastar até que nossa amada Saint-Georges volte a ser o que era antes – a repórter comentava sobre as notícias do dia, sua voz carregada de emoção, comovida com tamanha barbaridade – Vidas de jovens mulheres estão sendo levadas pelas mãos de um assassino, que ainda continua perambulando pelas ruas da cidade, até quando? Até quando iremos sair de casa com medo? Até quando nos sentiremos ameaçados? A população espera justiça, com fé de que isso chegará ao fim, e o mais rápido possível.

Satisfação. O sorriso diabólico que surgiu em seu rosto era carregado de satisfação ao assistir o jornal de notícias locais. O pânico que estava causando lhe fazia bem, trazendo uma paz interior, como seu dever estivesse sendo cumprido. Um dia de cada vez, era esse o seu lema, sempre calmo e paciente. Não tinha pressa afinal, a parte do jogo com o tempo era o mais excitante naquele meio – nada mais perfeito do que ver os dias se passando e os tolos continuarem correndo atrás, nunca o alcançando – como um gato perseguindo um rato.

Aconchegou-se mais em seu sofá, bebericando seu café quente em sua xicara que costumava ser sua favorita, ilustrava o desenho Pink e o Cérebro com a frase "Esta noite... Dominarei o mundo." Sempre pensou que tinha muito do personagem Cérebro dentro de si. A persistência, uma grande mente criativa para cada noite bolar um plano diferente e o talento para comandar – por mais que fizesse todo seu trabalho sozinho, e amava isso, seu mundo necessitava de uma solidão intensa para ser produzido – Em seu mundo, algo de dentro de si, da sua alma e mente.

Ainda distraído com a TV – que agora passava algumas fotos das vítimas, em uma pequena homenagem – bufou entediado, só despregando seus olhos da tela grande para notar na mulher rechonchuda e baixinha que passava o aspirador de pó no carpete á sua direta. Rolou os olhos com a cena, desligando o aparelho a sua frente, desistindo de ver qualquer outra coisa enquanto ela estivesse ali.

- Hoje não era seu dia de folga? – perguntou – Eu me lembro de ter deixado bem claro, todas as quintas... Não quero ver sua cara aqui!

Sua voz firme em um tom pouco alto para a distância que estavam deveriam ter assustado a mulher, mas ao contrario do que esperava, ela continuou a passar o aparelho pela extensão do lugar, despreocupadamente. Isso o irritou, mas resolveu deixar para lá, discutir com a mais velha era caso perdido.

- Quer que eu troque as roupas de cama hoje? Posso deixar tudo pronto antes do final de semana, como avisei antes, não estarei pela cidade até a quarta que vem.

Deu de ombros não se importando nem um pouco com aquele assunto. Nem mesmo se lembrava da última vez que esteve dormindo em sua cama, não se lembrava nem mesmo dos lugares aonde dormia ou se dormia de fato. Em seu mundo não havia tempo para tal luxo, na verdade, classificava isso como perda dele. O tempo em seu mundo era precioso e só era cedido, entregue para algo que valesse a pena.

Desistindo de aproveitar o resto da manhã apreciando a desgraça no mundo dos tolos, decidiu que seria melhor iniciar os preparativos para a noite. Hoje era um dia especial, seu dia favorito e o que mais lhe dava trabalho. Hoje seria o dia de caça.

- Tanto faz, Donna... Não pretendo ficar em casa durante esses dias, faça o que quiser.

***

O parque costumeiro a estar sempre pouco movimentado, aquela noite parecia abrigar em seu gramado mais pessoas que suportava. O local já estava cercado com a tradicional faixa amarela, e só era permitida a entrada de policias – e naquele momento havia muito deles ali presentes – Charlie pedira para quase todos os oficiais do departamento irem até a cena de crime. Todos receberam a ordem de vasculhar cada pequeno centímetro do parque, nada poderia passar despercebido, ele precisa de um avanço – nem que fosse um pequeno – as cobranças estavam chegando uma atrás da outra.

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