Capítulo 1

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A balada estava lotada. 

E isso é um eufemismo dos grandes, porque o espaço luxuoso que me cerca está tão abarrotado de gente que é difícil de acreditar que sobra oxigênio para cada um. As luzes fluorescentes me deixam tonta e a fumaça enjoativa fazia cócegas no meu nariz, mas conforme mexo meu corpo suado no ritmo da música animada, eu não poderia ligar menos. Assim como Aninha, minha melhor amiga e irmã mais nova, que se balança junto comigo sem vergonha alguma, com um sorriso bonito em seu rosto. O álcool em nossas veias só deixa tudo eletrizante. 

A verdade é que havia sido ideia dela que viéssemos a inauguração de uma boate chique do centro da cidade. Depois de mais um dia estressante no Beaux - o estúdio de fotografia em que eu trabalhava, me distrair era tudo que eu precisava. 

A verdade é que eu estava fugindo. 

Do trabalho, da vida lá fora e principalmente dos problemas. O maior de todos tendo nome e sobrenome: Bernardo Solano. 

Meu ex-namorado. Ou, como eu gostava de chamá-lo: o infiel, traídor, mau encarnado. 

Ele era isso tudo. 

O maldito havia aparecido pela terceira vez no meu trabalho implorando por uma segunda chance. Uma segunda chance. Dá para acreditar? 

Bernardo Solano - o infiel, traídor, mau encarnado - havia me traído com a nossa vizinha de cima, fazia três meses. Três meses que eu havia descoberto, porque o caso já vinha acontecendo a muito tempo. Toda a cena nojenta ainda estava fresca na minha memória:  um ensaio havia sido cancelado, então pude ir mais cedo para casa, era nosso aniversário de dois anos de namoro, então queria fazer algo especial. Posso dizer, com certeza, que a visão da bunda do meu namorado fodendo outra mulher no meu sofá, não foi o ponto mais alto da minha vida. Muito menos especial. 

Eu sabia que as coisas não iam bem entre nós dois. Brigávamos mais do que podíamos aguentar, e com a carreira apertada de Fotojornalismo que ele levava e meus ensaios imprevisíveis, acabamos nos afastando. Sexo se tornou uma raridade, e passamos a viver assim, como dois amigos. Colegas que dividiam o apartamento. Não que isso justifique a traição. Nada justificava. 

E mesmo após tomar uma surra dos meus três irmãos mais velhos, ele continuava decidido a infernizar minha vida, se dizendo arrependido e me perseguindo em todos os lugares possíveis - o imbecíl sabia me agenda de cor e salteado. 

- Nina, minha lindinha. - Disse ele, assim que me avistou saindo para almoçar do prédio da minha agência de fotografia, onde eu trabalhava há cinco anos.  Ele carregava um buquê de gardênias, minhas flores preferidas, e uma expressão de tristeza tão bem ensaiada que qualquer um acreditaria. Não me comovi nem um pouco, continuei andando em direção ao meu carro enquanto alguns dos meus colegas de trabalho observavam a cena com atenção, toda essa encenação vinha acontecendo há dias. Destravei as portas e antes que eu alcançasse a maçaneta, Bernardo me impediu com seu corpo. 

- Nina, por favor. Me escuta. - Ele implorou. Continuei analisando o homem por quem fui apaixonada durante quase dois anos. O cabelo castanho bem aparado, os olhos gentis e o sorriso acolhedor que havia me conquistado de primeira. Bernardo era realmente muito bonito. Era uma pena que a lealdade não estava em sua lista de qualidades. 

- Eu cometi um erro, Nina. Um único erro. - Ele diz, transtornado, o rosto espremido numa expressão de dor. Me concentrei em respirar fundo e não socar a cara do idiota a minha frente. 

- Quem não erra?! - Ele perguntou aumentando o tom de voz, os olhos arregalados. Minha paciência foi rapidamente substituída por ira em um milésimo de segundo.

O ACASO - Irmãos Fiori: Livro I - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora