20:20h

108 16 5
                                    

20:20h

Duas horas de plantão na sexta-feira era tudo o quê eu precisava. Meus dedos estavam quase ficando com câimbras de tanto digitar relatórios que nem se encaixavam na minha função. Sem contar que não iria ganhar nada por isso. Era patético, eu sabia. Mas fazemos de tudo para quitar as contas todos os meses. Principalmente na situação na qual eu me encontrava.

Sair da casa dos pais aos 24 anos não é o que toda mulher deseja, mas só quando alcancei a idade consegui fazer tal ato. Agora, sem amigos, sem namorado, e quase sem dinheiro, eu estava dando minhas piruetas para conciliar solidão ao trabalho também.
Especialmente hoje quando eu decidi passar a tarde a base de uma panela brigadeiro e sessão de filmes antigos, estavado saindo do meu amado emprego de atendente de telemarketing às 20:25pm. E como se já não bastasse, ainda tinha ficado no turno da minha inimiga, que teve a coragem de vir até minha mesa me comprimentar como se fôssemos comadres de muitos anos. Faça-me o favor!

Já estava começando a escurecer. Olhei pela janela da recepção, e pequenas gotículas de chuva iniciavam sua caminhada até o chão. Eu não tinha trazido guarda-chuva, eu nem tinha ideia de que estaria aqui essa hora. Emburrada, desci as escadas em direção à porta de saída da empresa.

- Boa noite, senhorita - o 'moço da recepção', o qual nunca me lembro o nome mesmo vendo-o todos os dias escrito em seu crachá, me comprimentou de modo galanteador.

Le... Leo... Leo-alguma-coisa sempre tentava me cantar, mas eu sempre o driblava para que ficasse claro que eu não queria nada com ele no momento. Não é como se eu não quisesse um namorado. Eu queria, e muito. Ficar sozinha nesse cidade grande sem ter ninguém para te esquentar nessa chuva enquanto todas as suas amigas tinham, era deprimente. Mas também não iria sair por aí ficando com o primeiro que aparecesse.

E ele era, literalmente, o primeiro que apareceu quando me mudei.

Eu o conhecia a tempo suficiente para poder tentar algo a mais, mas não era a hora.

- Bom noite, hum... Leonardo? - perguntei cerrando os olhos tentando enxergar seu nome em seu crachá.

- Leônidas - corrigiu, sorrindo.

- Ah, sim. Leônidas - olhei para a janela outra vez, vendo que se eu não saísse naquele momento, a chuva iria engrossar. - Boa noite!

Saí porta à fora, levando seu sorriso comigo.

A essa hora as pessoas estavam voltando para suas casas , ou, algumas acabando de sair em busca de um bom restaurante para jantar com suas famílias, amigos e namorados. Nesses momentos que eu mais sentia saudade do colo quentinha da minha mãe, mas o que eu mais ansiava mesmo era o meu colchão ortopédico.

Um carro seria perfeito nesta hora, mas incluir um carro nas minhas contas mensais seria a perfeita definição de caos. E isso era tudo que eu menos precisava.

O chão estava escorregadio, fazendo minhas botas quererem ter vida própria. Meus cabelos já estavam um comprido esfregão caindo sobre minha maquiagem que, com certeza, devia estar um só borrão em minhas bochechas agora.

Andei devagar até a faixa de pedrestes, e esperei sem paciência os carros pararem vagarosamente devido a pista molhada. O sinal estava aberto para os veículos continuarem sua locomoção, mas um morotista gentil parou para que eu pudesse atravessar.

Agradeci acenando e correndo rápido até o outro lado, tão rápido que quase escorreguei. Então, senti duas mãos segurarem meus braços muito fortemente e logo me recompus para poder virar e agradecer. Era muita sorte justo quando eu fui cair ter um apoio para me segurar.

Restam 19 MinutosOnde histórias criam vida. Descubra agora