00:30h

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PP só podia estar brincando. Deixar aquela sacola exalando cheiro de comida fresquinha (agora já nem tão fresca) ali no meio sem nem, pelo menos, abrir pra gente era covardia.

E ele deixou. Por 4 horas. E estávamos ali, 4 horas seguidas tentando abrir aquela maldita sacola, enquanto nossas barrigas só sabiam roncar de fome. E já tínhamos tentado de todas maneiras possíveis abrir aquela coisa.
Mas era meio impossível quando se tem uma corda de espessura grossa amarrada em volta dos nossos corpos.

Aposto que durante todas essas horas, PP devia estar em algum lugar dali rindo da nossa cara, junto com o resto dos Homens de Preto. Que à propósito faziam muito barulho. Muito mesmo. Estavam ouvindo algum tipo de música, que parecia ser rock, enquanto quebravam alguns objetos. Era tudo o que podíamos ouvir em meio ao silêncio, que hora se instavala.

E mesmo depois de todo esse tempo, Luís ainda não tinha calado a boca. Já tinha até chorado, pensando em como ele iria perder tudo que havia construído até ali se fôssemos morrer em pról ao tal experimento. Se era parte do experimento saber se íamos abrir aquela sacola, tínhamos falhado estupidamente. E já era hora de alguém voltar ali e testar outra coisa, porque se soltar dali parecia impossível.

Naquele momento, Luís estava com a cadeira caída no chão por ter tentado pegar a sacola em um ato desesperado. Podia até afirmar que ele estava com mais fome do que eu, pois jurava que tinha ouvido sua barriga roncar mesmo daquela distância.

- Eu não aguento mais! - Luís esperniou. - Precisamos de um plano.

- Ora, ora, não era o Senhor Espertalhão que tinha um plano tão genial em mente, que de tão extraordinário que era, nem ao menos podia ser contado para terceiros? - falei em tom debochado.
Luís bufou, fazendo barulhos estranhos logo em seguida.

- Eu tinha! Quer dizer, eu tenho - disse.

- E qual é?

- Você é muito idiota, sabia? - revirei os olhos. - Alguém pode estar nos ouvindo agora.

- Hum, é, tá bem, então... ponha em ação - ergui as sobrancelhas, como se fosse óbvio. E meio que era, até porque, se ele tinha um plano desde o momento em que chegamos aqui, já era hora de executa-lo.

Luís se mexeu no chão, ainda preso a cadeira, se virou para minha direção e começou a falar lenta e pausadamente:

- Eu. Não. Posso.

- Ok.

- Ok? É sério? Você não entende - ele disse, então deitou a cabeça no chão, fechando os olhos. - Vamos morrer.

- Para de bancar o bebezão, você é um homem maduro e está chorando só por quê vai fazer parte de um experimento maluco - eu disse no meu melhor tom de confiança.

- Não fale como se não estivesse com medo também.

- Estou, mas ninguém precisa saber. Nem o PP.

- PP?

- É, o sequestrador.

- E por que PP?

- Longa história.

- Temos tempo de sobra até a morte - e fechou os olhos novamente.

Fechei os meus também, pensando que realmente precisávamos de um plano. Qualquer um, por mais idiota que fosse. É claro que nas situações que nos encontrávamos era bem difícil pensar em uma saída. Não haviam portas e o local era escuro. Apenas nós, luzes amarelas e aquele quadro do cavalo negro que não ajudava em muita coisa.

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