CAPÍTULO XII - ANIVERSÁRIO

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A Carol não estava bem! Ela faltava mais do que frequentava as aulas. Mas nos poucos dias que ela vinha, chegava coberta de olheiras e extremamente magra. Ninguém mais a reconhecia depois que João Vítor terminou com ela. Sempre quieta, melancólica e de aparência fúnebre. Todos a encaravam sorrateiramente na sala quando ela chegava com blusas que mostravam seu colo: suas clavículas podiam ser notadas de longe e seu rosto ossudo e proeminente dava a entender que ela não se alimentava há dias. O término do namoro a fez mudar um bocado, pois quando ela estava com João, pelo menos alguma sopa ela comia.

Me aproximei dela durante o recreio. Estava sentada em uma mesa, tão solitária que chegava a dar dó. Ela me encarou com extrema desconfiança.

- Carol? – chamei, já que ela fingiu que não me viu. – Posso falar com você?

- O que você quer? – seu tom de voz ainda mostrava a sua grosseria de sempre.

- Posso? – indiquei a cadeira ao seu lado. Ela revirou os olhos e continuou, mas ainda com os olhos focados em uma barra de cereal. Acho que ela analisava detalhadamente a tabela de calorias correspondente na embalagem.

Não esperei a sua reação e me sentei.

- Eu sinto muito pelo término...

- Você é sempre assim? – ela me olhou, seus olhos claros encheram-se de raiva. – Metida a coitadinha? Ou faz esse tipinho dissimulado para que os garotos sintam pena de você? O que você tem, hein, garota? Além dessa cara de lesada?

- Eu vim aqui estender uma mão amiga para você, mas acho que cometi um grave engano em fazê-lo – respondi, não dando crédito aos insultos que ela proferiu contra mim. Balancei a cabeça negativamente, com o rosto perplexo com a sua tamanha grosseria e falta de sensibilidade.

Sabe quando você olha para algum necessitado? E você se pergunta: eu devo ajudar ou não? Mas se contém e acaba por cogitar a hipótese do que ele fez para merecer tal infortúnio? Eu me sentia assim neste exato momento. Carol não mudou em nada e sua raiva ainda conseguia ser maior do que antes.

- Você chegou toda santinha e olha só. Já se tornou amiga do Pedro, de alguns idiotas desse colégio, que antes nem sabiam da sua existência... Até o João Vítor está mudado com você... Ah, qual é? – virou os olhos em minha direção sem pestanejar. Sua voz estava coberta de tanto deboche. Passou a mão entre os cabelos claros e pude ver que seu braço estava tão ossudo quanto o seu rosto.

- Eu só vim aqui para te avisar quanto a doença...

- Você está dizendo que eu tenho algum problema, sua gorda metida? – seu tom de voz aumentava gradativamente. Ela se exaltou e eu tentei acalmar os ânimos para que alguns alunos não nos escutassem.

- Acho que eu posso lhe ajudar... Eu já tive bulimia... Mas o seu caso é diferente – falei baixinho. Ela mordeu os lábios e logo depois trincou os dentes de raiva.

- Você entende muito de como se alimentar igual a uma porca, né? – soltou, tentando me ofender ainda mais. Fiquei quieta. – Não preciso da sua ajuda... Sua esquisita!

Se levantou, pegou a sua bolsa e saiu batendo pé.

- O que houve entre você e a Carol? – sussurrou Pedro ao passar pela Carol e se aproximar de mim.

- Devemos ajudá-la, Pedro – adverti. Ele se sentou a minha frente. – Depois que ela terminou com o seu amigo, ela está ainda mais magra. Dá lástima vê-la desse jeito. João terminou com ela já faz o quê, uns dez dias?

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