CAPÍTULO XXII - VIAGEM

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        Ignorei todas as investidas possíveis da Carol no decorrer da última semana de agosto até a primeira semana de setembro, quando ela veio até mim e destilou o seu veneno mais poderoso que os demais anteriores. Começou a falar besteiras sobre o João ter dormido em sua casa e que ele estava me traindo. Não levei em consideração o que ela disse e nem João levou, dando uma boa risada ao perceber que ela tinha ido longe demais. Eu detestava pensar no que poderia estar se passando na cabaça daquela garota, mas não era só eu, ou o João que estava dizendo, se não toda a sala de aula, de que ela precisava de tratamento, já que havia se tornado psicótica. Para um bom entendedor, meia palavra basta.

- Você acha que se tornou popular... Mas não passa de uma gorda.

- Já chega com esse estereótipo ridículo que você criou a meu respeito... Engano seu, Carol. Eu nunca quis ser popular e nem roubar a sua popularidade. Nunca almejei isso para mim, mas a sua maior raiva foi ter perdido o namorado pra essa "gorda" aqui. Eu acho que com esse cérebro atrofiado que você tem, pensou que os gordos não podem ser populares, não é mesmo?

Saí de perto dela e fui para o pátio com a Valentina, enquanto o João seguiu para a quadra com os amigos. Fiquei pensando na resposta que eu dei a Carol. Eu não era gorda, na verdade, ela que era magra demais perto de mim. O fato de eu ter ficado com um dos garotos mais bonitos do colégio, que já havia sido seu namorado, a deixava com o orgulho ferido. Mas eu não poderia prever que faria tantas amizades. Acho que o feitiço se voltou contra o feiticeiro, quando defendi o Pedro na beira da piscina. Muitos que antes zoaram o meu amigo, hoje falam comigo devido ao fato de terem caído na real após a sua morte.

- Tudo certo! – disse João, assim que saímos do colégio. – Falei com seu chefe e ele deixou você ir...

- COMO VOCÊ CONSEGUIU CONVENCER ELE?

- Táticas...

Soube mais tarde, puxando a língua do meu chefe, que as táticas que o João empenhou foram cobrir as minhas diárias, arcando com todos os custos que eu poderia trazer com a minha ausência. Fiquei revoltada com essa atitude e descasquei nele quando encontrei uma brecha. Segundo ele, a sua atitude foi apenas uma boa ação para que eu me sentisse feliz e aproveitar ao seu lado.

João disse para encontrá-lo às nove da manhã do dia dez na Marina da Glória. Não entendi muito bem o porquê ele queria que eu o encontrasse lá, então, paguei o taxista e segurei a minha mala de rodinhas com dificuldade quando cheguei ao meu destino. Parei num ponto alto e contemplei a grande quantidade de barcos amarrados ao píer, enquanto olhava para o relógio a cada vinte segundos aguardando algum retorno do João. Passei as mãos no celular e atendi a ligação. Era o João, me dizendo que para eu entrar bastava que mostrasse a minha identidade na portaria. Fiz o que ele pediu e entrei. Respirei fundo e andei pelo mesmo píer que antes vira do ponto alto do lado de fora. Puxei com força a mala debaixo daquele sol quente quando ouvi a voz do João. Virei o rosto e o vi em cima de um grande iate, com cerca de vinte e cinco metros. Era um Schaefer 80, novinho em folha.

- O que você faz aí em cima? – perguntei curiosa. Ele estava com uma bermuda verde, uma camisa de flanela, um chapeuzinho sobre a cabeça e pés descalços. Na verdade, ele estava lindo demais.

- Espero que tenha trazido biquínis? – ele pulou entre as hastes do iate segurando a grande corta que prendia o barco ao píer e estendeu a mão.

Alguém saiu às pressas da embarcação. Passou pelo João e sorriu para mim, segurando a minha mala.

Minhas pernas bambearam como nunca, quando ele me segurou firme pela cintura. Olhei para os seus olhos cor de esmeralda e em seguida para o seu sorriso travesso. Seu cheiro passou pelas minhas narinas, deixando-me com certos comichões no estômago.

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