A Floresta

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Felix e Malquiel não trocavam palavras, apenas olhares. O olhar de Malquiel e sua mão firme transmitia segurança a Felix durante a caminhada.

    O nevoeiro passou por completo,  uma cor azul cobria toda a extensão do céu. Uma claridade incomum, nítida, boa aos olhos irradiava de todos os lados. A temperatura era agradável e Felix olhava para todos os lados na expectativa de ver o sol, mas não havia nem sol, nem lua e nem estrelas, apenas aquela luz misteriosa.

    O caminho pelo qual seguiam parecia uma estrada no campo, em ambos os lados margaridas amarelas e alfazema misturavam-se como se fora um mar à perder de vista. Agora já era possível ver os outros seres de mãos dadas que seguiam pelo caminho, ninguém ousava romper o silêncio, mas a paz e o contentamento era visível em todas as faces.

    Felix não sabia a quanto tempo que caminhavam, se dias ou horas, não havia como contar o tempo que parecia ser sempre o mesmo. Por tudo o que viu pelo caminho, Felix imaginava que caminhavam já há alguns dias, porém, o vigor com o qual seguiam e ausência completa de cansaço fazia parecer apenas algumas horas.

    No horizonte surgia aos poucos aquilo que parecia uma floresta, as arvores ainda bem distantes pareciam enfileiradas uma ao lado da outra formando uma espécie de parede. Conforme aproximavam-se podia-se ver a impressionante altura daquelas árvores e a densidade daquela floresta. Ouvia-se de longe o som de animais e por cima de suas cabeças podia-se ver aves das mais diversas. Elas não pareciam incomodadas com os transeuntes e voavam tão alto como também quase ao alcance de suas mãos. Uma andorinha pousou sobre os ombros de Felix que admirado observava a ingenuidade do pássaro que sem temor pousara sobre si. Em poucos instantes ela voou novamente e Felix seguia impressionado com tudo o que via.

    Ao aproximarem-se da floresta Felix percebeu que dois animais parecia aguardá-los, um enorme rinoceronte e um zebra. Quando os pés de Malquiel e Felix pisaram a relva verde, Malquiel soltou sua mão. Os animais olhavam para eles atentamente. Neste instante Malquiel rompeu o silêncio mais uma vez e disse a Felix:

    - Amigo, aqui nos separamos. Nossos amigos se encarregaram de levá-lo até seu próximo destino.

    Malquiel curvou-se diante dos animais, no que mais parecia uma saudação e estes fizeram o mesmo. Felix mais uma vez ficou maravilhado com a harmonia que envolvia estes seres. Os animais indicaram o caminho que Felix devia seguir e este caminhou porém com seus olhos fixos em Malquiel que ficara para trás. Nesta hora Malquiel disse mais uma vez em voz alta para que Felix pudesse ouvir:

    - Não temas meu amigo, todos os teus temores e todas as tuas lembranças das dores e sofrimentos são apagadas pela experiência da paz, segurança e amor que te aguardam. Siga em frente, em direção ao reino d'Aquele que te amou.

    Felix suspirou, olhou para frente e deu alguns passos, ao olhar novamente para trás Malquiel já havia desaparecido. Felix não sentia tristeza, insegurança, saudade ou medo, apenas um sentimento de antecipação. Felix notara que seu sentimento era como o sentimento de alguém que volta para casa depois de muito tempo distante.

    Árvores gigantes os rodeavam, o caminho por onde seguiam tinha uma vegetação rasteira. O som de vários animais eram ouvidos, embora nem todos avistados. Alguns macacos vieram a saltar de árvore em árvore para verem o novo viajante. Suas faces eram de contentamento, não havia naquele lugar espaço para qualquer espécie de medo. Uma serpente atravessou os seus caminhos, voltou-se para Felix e disse-lhe:

    - Seja bem-vindo!

    Felix estava maravilhado ao descobrir que os animais falavam. O rinoceronte disse-lhe em seguida:     - Felix, estamos todos a sua espera, todos estão alegres com a sua chegada. Malquiel fez um belo trabalho ao trazê-lo em segurança até nós, ele é um fiel emissário.    

    Felix respondeu:

    - Tudo isto é maravilhoso demais aos meus olhos. Verei Malquiel novamente?

    A zebra respondeu:

    - Claro que sim! Quando todas as coisas forem restauradas.

    Felix perguntou:

    - Quando será isto?

    E o rinoceronte respondeu-lhe:

    - Em breve meu caro, muito em breve!

    Em meio a esta conversa chegaram até uma mesa comprida onde do outro lado sentavam-se tartarugas em cadeiras especialmente feitas para elas. Sobre a mesa haviam livros e todos os que chegavam assim como Felix aproximavam-se desta mesa. As tartarugas haviam sido escolhidas para aquele trabalho porque não tinham pressa e eram minuciosas em averiguarem todas as coisas.

    Atrás das tartarugas haviam estantes enormes e repletas de livros. Os cangurus eram responsáveis por cuidar destes livros, visto serem capazes de com um salto pegar os livros no alto das estantes.

A tartaruga que atendia Felix chamava-se Eugênio, que solicitou ao seu ajudante canguru que trouxesse o livro que indicava o ano, o mês, o dia, a hora e o local de nascimento de Felix. Logo chegou o livro, todos eram iguais, capas duras e muito bem desenhadas, a caligrafia dos livros eram impecáveis, escritos em vermelho pelos chimpanzés e orangotangos responsáveis por esta tarefa.  Estes livros continham a relação de todos os atos, palavras e pensamentos de Felix, tudo era observado com cuidado por Eugênio até que este chegou ao final do livro e na sua última página um selo grosso com a figura de uma cruz, parecia um selo feito por um anel real.

    Eugênio fechou o livro devolveu-o ao canguru e disse a Félix:

    - Seja bem-vindo eleito de Deus, cuja a salvação foi selada com o selo do Cordeiro.

    Então a zebra e o rinoceronte caminharam com Felix até um enorme portal localizado bem no centro da floresta. Nos dois pilares do portal havia a gravura da cruz e no topo uma coroa. Do outro lado uma raposa já aguardava por Felix. E seus novos amigos rinoceronte e a zebra despediram-se dele dizendo:

    - Até o dia do Cordeiro!

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Seu comentário será de grande valia para os próximos capítulos.

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