A Força de Um Olhar

Capítulo 14

Antes de o dia amanhecer, Lara acorda mais uma vez, vai ao banheiro e quando retorna para a cama, fica observando Daniel dormir com o corpo parcialmente descoberto. Como a luz do abajur ao lado da cama está acesa, ela pode vê-lo nitidamente mesmo que a claridade da manhã ainda não tenha chegado.

Enquanto o observa, admira a beleza impactante do corpo masculino totalmente entregue a um sono profundo ali em sua cama. Ela então permanece por um tempo olhando-o dormir e pensando nos sentimentos que ele despertou em seu coração. Não há mais como fugir dessa realidade, ela está irremediavelmente apaixonada, e isso a assusta, pois quem já sofreu como ela, tem medo de entregar-se uma segunda vez.

Como se pressentisse estar sendo observado, Daniel acorda lentamente e a vê deitada a seu lado com ambas as mãos juntas sob a face olhando fixamente para ele. De início, ela não percebe que ele acordou. E então, ele aproveita para observá-la também e nota então, que ela parece estar olhando para ele, mas sem realmente enxergá-lo naquele momento. De repente, ela pisca seus lindos olhos cor de mel e percebe que ele também já está acordado observando-a.

─ Ah, você também está acordado. ─ Fala sem jeito.

─ O que aconteceu, perdeu o sono? ─ Questiona ele com a voz rouca pelo sono.

─ Pois é, me levantei para ir ao banheiro e não consegui mais dormir.

─ Alguma coisa a preocupa? - Pergunta ele carinhosamente.

─ Na verdade eu estava pensando sobre nós. ─  Fala olhando-o nos olhos.

Daniel nada diz aguardando que ela complete o pensamento sobre o que estava pensando.

─ Acho que precisamos conversar. ─ Ela diz.

─ Tudo bem. ─ Diz calmamente esticando o braço para acariciar seu rosto com a ponta dos dedos. ─ concordo com você, quero conhecê-la melhor e também quero que me conheça. Gostaria que me falasse um pouco de você, depois conto tudo que você quiser.

─ Bem, vamos lá então.  Sempre batalhei pelo que eu queria. E, como minha mãe é professora, fui influenciada a fazer um curso de licenciatura, para de repente, seguir os passos dela. Por isso, aos dezesseis anos prestei vestibular para o curso de Letras e logo comecei a estudar. Aos dezessete, com o apoio dos meus pais, e ainda estudando, abri uma pequena escola. Como gosto muito de crianças e incentivada pelo meio em que vivia, em pouco tempo, minha escola já era um sucesso.

No último período do curso, com dezenove anos, conheci o Jhone, começamos a namorar e seis meses depois, mesmo meus pais não sendo favoráveis nos casamos. Eu achava que estava apaixonada, e por ser jovem e ingênua, não consegui ver o verdadeiro caráter dele. Ele não parava em emprego nenhum, sempre voltava dizendo que iria me ajudar na escola, mas ele não se encaixava em nenhum lugar ali. Por isso, logo começamos a ter problemas.

Por outro lado, por incrível que pareça, a escola crescia cada dia mais. Assim, o tempo foi passando e eu começando a ver o verdadeiro homem com quem havia me casado. A primeira vez que o chamei para conversar, ele me agrediu.

─ Desgraçado, espero que ele nunca cruze nosso caminho, senão acabo com ele. ─ Esbravejou Daniel com as mãos fechadas.

─ Nessa época já estávamos juntos há mais de um ano e meio. E então, eu ameacei deixá-lo e ele entrou em desespero, pediu perdão e jurou que iria melhorar.

─ Você deveria tê-lo deixado logo. ─ Rosna Daniel.

─ Eu conversei com minha mãe e ela me aconselhou a organizar minha situação financeira antes de me separar, porque ela sabia que ele iria querer a metade de tudo que construí sem a ajuda dele. Como na época em que iniciei a escola eu ainda era menor, os documentos saíram todos no nome da minha mãe, que era no papel, a diretora da escola. Mas havia a casa onde morávamos que meu pai me ajudou a construir.