O Escolhido

Capítulo IX

Passei o resto da tarde desenhando com carvão e após o jantar pensei que Eady estivesse ocupada então pensei em fazer uma surpresa à ela.
Toc toc *
- Sim! - disse a criada dela.
- Boa noite srta. Mas será que poderia entrar? Gostaria de conversar com a princesa.
- Ela não está no momento. Se quiser voltar depois...
- Tem problema se eu entrar? - Ah que é assumi a pouco tempo e não sei se devo deixar alguém entrar em seu quarto quando ela não estiver...Mesmo que seja um membro da Elite.
- Ah qual é...Por favor, me deixe entrar vai. - me aproximei e disse bem baixo
- Faço qualquer coisa!
Ela também se aproximou e sussurrou.
- Qualquer coisa?
- Sim.
- ...... Tá bom...Mas quero uma foto e um autógrafo.
- Claro.
- Obrigado! - disse animada. - Mas se por acaso ela brigar, diga que não estava aqui.
- Combinado.
Assim a criada saiu e eu fiquei a espera de Eady...Até que ela adentrou a porta.
- Sabe..Acho que talvez eu seja o favorito de sua criada.
Ela começou a rir.
- E por que você diz isso?
- Porque foi fácil demais suborna lá.
- O mínimo que você poderia ter feito era tirar os sapatos.
Então indiquei um espaço para ela se deitar.
- Mas o que foi que você andou fazendo hoje? - disse pegando meus dedos manchados.
- Passei a tarde desenhando com carvão. Não se preocupe. Não vou sujar seus lençóis. Meus dedos só estão manchados.
- E que projeto você criou?
- Sei que talvez esteja passando dos limites, mas fiquei pensando na assembléia, e acho que seria útil fazer essas reuniões mais vezes. Rearranjei um dos salões para que fosse uma sala do trono permanente, onde você poderia receber as pessoas, ouvir solicitações individuais e tratar delas uma a uma. Algo oficial, mas casual.
- Bem pensado.
- Eu disse que não paro de fazer coisas para você...Também estava pensando que talvez valesse a pena criar uma estação de rádio.
- Argh, por que? O Jornal Oficial já é ruim o suficiente.
- Durante as minhas aulas em Fennley, meus amigos e eu ouvíamos muito rádio. Deixávamos ligado na cozinha ou enquanto trabalhávamos, e sempre que escutávamos alguma coisa interessante, começávamos a nossa própria discussão. Talvez fosse um bom jeito de entrar em contato com o povo. E não é tão ruim quanto ter uma câmera na cara.
- Interessante. Vou pensar nisso. Trabalhou em mais alguma coisa?
- Lembra daquelas habitações populares de que eu falei? Fiquei pensando se elas não poderiam ser adaptadas para ter dois andares, para famílias maiores. Mas, considerando os matérias que eu queria usar, não acho que é possível. O metal seria muito fino. Seria interessante construir uma de fato e testar. Um dia quem sabe.
Ela me encarou admirada.
- Sabia, Kile, que príncipes raramente sujam as mãos?
- Eu sei. São só coisas legais para pensar.
- As notícias estavam boas hoje.
- É. Agora só preciso manter o embalo. Só não faço idéia de como fazer isso.
- Não precisa. As vezes as coisas simplesmente acontecem.
- Seria tão bom não trabalhar tanto. - disse quase dormindo sentada.
- Não quer que vá para você descansar um pouco?
- Não. Você pode ficar mais um tempo.
- Certo.
Segurei sua mão enquanto encaravamos o teto.
- Eadlyn?
- Hum?
- Está tudo bem?
- Sim. Tenho a sensação de que estaria melhor se eu pudesse ir mais devagar, mas tudo tem que ser agora, agora, agora.
- Você pode adiar a coroação. Continuar regente por mais um tempo. Dá quase na mesma.
- Eu sei, mas não é a mesma coisa. Meu pai ficou bem quando assumi como regente, mas só de marcar a data da coroação ele já ficou ainda melhor. Sei que é tudo psicológico, mas se isso ajuda a dormir, também ajuda a cuidar da minha mãe, e portanto faz com que ela melhore...
- Entendo o que você quer dizer. E o que mais? Você não está apressando a Seleção, está?
- Não de propósito. Ela que parece estar se afunilando por conta própria.
- Como assim? - disse curioso.
- Não posso contar agora. Talvez depois que tudo se acertar.
- Pode confiar em mim.
- Eu sei - disse encostando sua cabeça em meu ombro e ficamos em silêncio - Kile?
- Oi.
- Você lembra do nosso primeiro beijo?
- Como poderia esquecer? Saiu estampado na primeira página de todos os jornais.
- Não, não esse. O nosso primeiro beijo.
Depois de algum tempo refletindo...
- MEU DEUS!
Ela começou a rir.
Era uma antiga história...Eu tinha seis anos e Eadlyn quatro. Nessa época ainda não tinha toda aquela ânsia de sair pelo mundo e nem toda a antipatia por Eady então brincávamos juntos como duas crianças normais.
Aliás nem lembro como foi que isso aconteceu. Um nós e Ahren estava brincando de esconde - esconde, estava comigo e eu a encontrei, porém em vez de Bater eu por alguma força desconhecida abaixei e lhe dei um selinho. Logicamente fui empurrado e ameaçado de morte.
- Que criança de quatro anos sabe fazer ameaça de morte? - Uma criança criada para isso, imagino.
- Espere um pouco. Essa conversa toda não é para me dizer que você vai me mandar para forca,é? Se for, você é de uma frieza inacreditável.
- Não - disse com uma leve gargalhada - Eu achei que você merecia um pedido de desculpas a esta altura.
- Tudo bem. É engraçado lembrar agora depois de tantos anos. Quando as pessoas me perguntaram qual foi meu primeiro beijo e falo que foi com a filha do primeiro - ministro saudita mas na verdade esse foi o segundo.
- Por que você nunca responde que fui eu?
- Por que achava que você podia seguir adiante com a idéia da forca. Acho que eu bloqueava essa lembrança. Não foi exatamente um primeiro beijo fantástico.
Ela riu e contou sobre seus pais
- Minha mãe me contou que o primeiro beijo do meu pai foi com ela, e que ela tentou pular fora.
- Sério?
- Sério
Então, agora foi eu quem riu e acabei lembrando de uma história...
- Você sabe como foi o de Ahren?
- Não
- Foi com uma das italianas, mas ele estava gripado e seu irmão teve que espirrar no meio do beijo então tinha meleca para todo lado.
- O que?
- Eu não vi o beijo, mas presenciei o resultado. Só agarrei Ahren e saímos correndo.
Começamos a rir até a barriga doer. Depois, ficamos em silêncio até Eadlyn se manifestar
- Não conheço ninguém que teve um primeiro beijo bom de verdade.
- Nem eu. Talvez os beijos especiais não sejam os primeiros. Talvez sejam os últimos