capitulo 4

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    Mitchell Petrucci nasceu com roupas de ouro, em berço de ouro, em casa de ouro, talvez até mesmo o alimento que o nutriu era feito na medida de 200 ml de água e duas colheres de pó de ouro. Conseguiu com brilhantismo, em seus 35 anos de vida, mais que duplicar o patrimônio familiar. Império ampliado que iniciou a sua história quando o seu bisavô fez fortuna e ficou
conhecido na América como um dos reis
do cobre. Cobre alquímico que virou
ouro. Seu avô, alguns anos depois,
expandiu a fortuna associando-se com
duas das maiores siderúrgicas dos
Estados Unidos. Aço mágico
transformado em ouro. Muito ouro! Foi
o seu avô quem se tornou majoritário de
um dos principais bancos do Estado de
Nova York – ouro líquido que jorrava
dos cofres, que inundava e afogava sem
matar. O seu pai, um brilhante
economista, mais tarde expandiu os
investimentos e fundou a John Petrucci Group & Co. Ouro com nome de
empresa. Ouro verde de montes
brotando de tal maneira que qualquer
agricultor ficaria verde de inveja diante
de tal desempenho semeado. Uma
holding proprietária de um dos maiores
bancos dos Estados Unidos. Acionista
majoritária de um conglomerado
empresarial.
Era também atribuído a John
Petrucci, pai de Mitchell, a criação do
primeiro fundo de índices disponíveis
aos investidores individuais. A
popularização dos fundos de índice
geral e os custos baixos de condução em toda a indústria de fundos mútuos vindo
a tornar-se um dos maiores fundos de
investimentos do mundo. Era verde sem
fim que despencava nos bens da família,
como se estivesse maduro.
Mitchell Petrucci foi eleito, há
alguns anos, presidente da John Petrucci
Group & Co. Isso porque ele não foi
educado para viver à custa dos frutos
plantados por outros. Graduou-se com
honra e mérito em Economia em
Harvard, com o único e claro intuito de
adquirir maior capacidade e
conhecimento, a fim de estar à frente na
gestão da sua herança verde e ouro. Um império acionista de grandes
companhias – a instituição líder mundial
em serviços financeiros e um dos
maiores bancos dos Estados Unidos. Ele
provava, dia a dia, que o seu propósito,
além de ampliar as linhas de
investimento e aumentar os lucros, era o
de continuar comandando com eficácia e
absoluto sucesso a maior empresa do
mundo (considerada assim há alguns
anos pela revista Forbes).
Há cinco anos na presidência, ele
detinha sob seu sólido e renomado grupo
1,2 trilhões de dólares em ativos. Era
considerado um dos homens mais influentes no cenário financeiro.
Respondia por uma fortuna pessoal,
sempre listada entre as trinta maiores do
planeta.
Além de tudo já mencionado, esse
homem tão bem-dotado era considerado
um ícone da beleza masculina.
Conhecido como um contumaz
mulherengo. Culpa dele? Não, afinal
eram as mulheres, aquelas com as quais
ele costumava criar um vínculo maior de
amizade, que espalhavam a sua fama
fora dos círculos dos negócios. Quem
eram essas mulheres? Atrizes, modelos,
as mulheres mais belas do planeta? Com toda a garantida certeza.
– Não, já disse que U$$ 200 mil é
a minha última palavra. – A forte voz
masculina disse em um francês
impecável.
Mitchell Petrucci, que era o dono
desta voz, falava em um celular. Estava
sentado na larga poltrona de couro
preto, de trás da escrivaninha imponente
esculpida em madeira de demolição, no
último e 83o andar do prédio Jonh
Petrucci Group Co. – JPG.
Um minuto de silêncio pendeu no ar
pelo gigantesco escritório. O alto pé direito era sustentado por um paredão de
vidro e por algumas escassas paredes.
Estas, exibiam uma coleção de obras
capaz de invejar qualquer excelente
curador, de qualquer destacado museu
de artes. O escritório era decorado com
móveis de linhas modernas, aço,
madeira e couro. Além de antiguidades e
espelhos limpos contrastando com
gigantescos tapetes persas, expostos em
ao menos três ambientes distintos.
– Então avise que não teremos
negócio – o mesmo francês ecoou em
resposta. Outro breve momento de silêncio.
– Não se esqueça que tenho outras
minas, não é tão simples como ele faz
parecer.
O silêncio foi interrompido desta
vez por um leve tamborilar de dedos na
mesa de madeira. Ele esticou o corpo e
apoiou uma mão atrás da cabeça. Olhou
no relógio.
– Você acredita que ele aceitará a
proposta?
Outro minuto de silêncio e o que
parecia a conclusão da conversa: – Se for assim, mande toda a
documentação para os advogados. Nos
falamos depois. Até mais!
Levantou-se com agilidade e com
um movimento preciso pegou o paletó
azul-marinho e a gravata pendurados no
cabideiro de um armário embutido.
Desabotoou três casas da impecável
camisa branca. Comandou em um
controle remoto a abertura da porta
corrediça que o isolava de uma ante
sala.
A morena trajada com um vestido
de noite vermelho olhou-o. – Desculpe, querida, a deixei
aguardando.
– Por você, Mitchell, só por você.
– Ela se aproximou, ele sorriu sedutor e
a beijou com segurança. Segurança de
quem faz muito isso.
– Adoro esse seu sinal – disse com
a voz enrouquecida e beijou-a na
pequena marca que se desenhava
delicada na curva do pescoço.
– Pare ou não chegaremos na festa
da sua mãe. – Não tinha muita vontade
na voz. – Eu preferia mil vezes ficar aqui
e, bem – ele desviou o olhar para trás da
mulher –, dar uma utilidade muito
melhor a esse sofá. – Apontou-o com a
cabeça.
– Eu também, você sabe, mas é o
aniversário de sua mãe.
Ele bufou resignado:
– Vamos, então, pegar a estrada.
– Podemos ficar juntos no carro –
era uma sugestão cheia de intenções.
– Vou ter que pedir que não me
distraia no volante. Tess franziu o cenho com rugas
discretas.
– Não vamos com o motorista,
comprei um carro novo– ele disse.
– Mitchell, sabe como fico nevosa
quando corre, ainda mais comigo ao seu
lado.
O motivo do nervosismo de Tess
Taylor, a nova sensação das passarelas
no mundo, aumentou quando se deparou
com o carro em questão. Os olhos
arregalaram-se e a boca desenhou um
“Oh”, bem evidente – O que é isso, Mitchell?
Ele sorriu orgulhoso e satisfeito,
enquanto alisava o capô do chamativo
veículo, como se fosse um animal vivo.
– Isto, meu amor, é uma
Lamborghini Reventón Roadster, essa
beleza nos levará até Greenwich em
Connecticut em apenas vinte minutos.
Minha mãe nem saberá que me atrasei
um pouco para sair. Chegaremos lá
pontualmente às 19h.
– O que fazer, não é mesmo? Pedir
para você ir devagar diante de uma
máquina destas adiantará alguma coisa? – Nãããão!
Tess suspirou conformada.
– Vamos, então. Deus nos proteja –
sacudiu a cabeça ao entrar no carro, com
um riso nervoso no canto dos lábios.

ENTRE O AMOR E O SILÊNCIOOnde histórias criam vida. Descubra agora