Depois

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11 de Setembro de 2001          

                                 🚹 Ryan King

Nova York sofre ataque terrorista.

Muitas pessoas foram mortas.

Eu sinto muito, Ryan, mas a Emilly...

De repente tudo para a minha volta. Não vejo mais nada. Não me mexo nem respiro. Apenas sinto.

Sinto meu coração se rasgando, uma dor dilacerante, minhas pernas ficando fracas, meu corpo formigando, o desespero chegando e as lágrimas correndo por minha face como um rio corre para o mar.

Qual a coisa mais difícil que temos que enfrentar?

A morte ou a perda da pessoa que nós amamos? E quando acontecem as duas coisas ao mesmo tempo?

— Ryan, olhe para mim. Ryan? — senti Ian, um amigo de infância me sacudindo. Pisquei meus olhos e o olhei.

— Diz pra mim que vocês confundiram, que minha Emilly está bem. Que ela foi ver o vestido do nosso casamento, que... Que ela se estressou porque ainda não achou um que a agradasse muito, ou que não apertasse tanto sua barriga e que ela está voltando para casa. Que nossa filha continua bem. DIZ, POR FAVOR! — Gritei, já desesperado. O medo já era maior que tudo.

— Ela não... Ela não está voltando, Ryan.

Nunca pensei que passaria por isso, mas... Experimentei o medo da perda e perdi. Desesperadamente, bebi o resto da minha lucidez e fugi. Sem nem olhar para trás.

Eu comecei a andar. Sai de dentro de casa e andei. Andei sem destino, sem nem ver onde pisava. Eu não quero acreditar. Eu não consigo acreditar!

Saber que nunca mais verei seus olhos azuis, seus cabelos vermelhos e lisos voando com o vento. Nunca mais verei sua pele clara e o sorriso se formando em seu rosto. Nunca mais ouvirei o som da sua risada, que é ridícula por sinal, mas eu sempre amei. A forma como ela fica brava e morde os lábios involuntariamente. O jeito como ela me olha quando estamos nos amando, e a forma sexy que meu nome soa quando sai de seus lábios.

Não consigo pensar que a mulher que eu pedi em casamento, a mulher que está carregando minha filha, a mulher que me ensinou a amar, a minha mulher, se foi.

A menina que cresceu junto comigo. Meu primeiro namoro adolescente.

A garota que me ameaçou de morte, aos doze anos, quando lhe roubei um beijo. Seu primeiro beijo. Eu lembro como se fosse ontem a cara que ela fez, de indignada, ou falsa indignada. Ela tentou ficar séria, se fazer de brava, mas por menor que tenha sido, eu vi um sorriso nos seus lábios. Um sorriso de canto. Aqueles que a gente tenta evitar, ou esconder, sabe? Mas ai ele acaba saindo assim mesmo e se torna um sorriso com todos os sentimentos escondido nele. Eu vi, e ela viu que eu vi, mas fingiu que não viu. Se fez de inocente. De inocente ela nunca teve nada.

Como quando eu voltei, aos dezenove anos, para Nova Iorque.

Depois do nosso primeiro beijo, vieram outros e mais outros, e ai nós começamos a namorar. Ficamos juntos por dois anos, ai as coisas foram se complicando e nós terminamos, um tempo depois eu fui embora. Não por ela, só fui. Meus pais tiveram que se mudar por causa do trabalho e eu tive que ir junto. Fiquei longe por três anos, sentindo tanta falta dela. Minha vontade era voltar, voltar para ela, voltar por ela. Mas eu não podia. Eu não sabia mais de sua vida, se estava com alguém ou não, mas eu a queria. Quando completei dezenove anos, eu voltei. Tive uma briga horrível com meus pais sobre eu ir embora de lá, mas por fim, eu fui. Eles não queriam, mas não tinham escolha, eu já estava decidido. Eu não sabia como ia me sustentar, onde ia morar, com quem ia morar, mas eu não me importava. Eu precisava da Emilly. As meninas que eu ficava não supria a necessidade que eu tinha dela, porque nenhuma era ela.

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