Capítulo 1

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Já são seis da manhã, meu expediente acaba por aqui. Visto as calças. Chaves, cadê minhas chaves? Ficou na cozinha. Saio com todo silêncio, mais tarde acerto as contas.

Um novo dia começa para muitos em Óregon já para mim é hora de descansar.
Mas antes uma passada rápida na cafeteira, nada melhor do que um bom café da dona Vilma pela manhã.
Geralmente essa é minha rotina que nem sempre é tão igual assim.
Os dias mais cansativos são as sextas, parece que elas resolvem desabafar um pouco os seus problemas.
Por sinal, meu nome é Enzo, Enzo Mitsun.

-Olá Enzo, vejo que a noite foi mal dormida, acertei? - Diz Dona Vilma buscando ser a detetive.

- Minha doce e amável Vilma, a madame mais graciosa deste mundo. Pelo jeito a senhora acertou em cheio. Noite cansativa, mal dormida e é isso. Porém, aqui estamos nós outra vez, um dia após o outro.

-Enzo meu jovem, são muito anos de experiência. De todos os dias que te pergunto creio que não tenha errado nenhum até aqui.

- A senhora sempre acerta - Sorrio para ela e nem preciso dizer qual o meu pedido de sempre - Como está as coisas por aqui?

Ela entrega meu café sem açúcar e sem creme e sorri fracamente.

- Um pouco fracas, com a nova lanchonete à frente, as pessoas resolveram mudar um pouco a rotina - Vilma tenta disfarçar a preocupação em perder seu comércio pela concorrência.

- Nunca trocaria esse café mágico por nenhum outro e creio que não sou o único - Tento ser gentil, ela me dá um sorriso e me despeço dela rapidamente.

Chegando em meu apartamento comprimento o porteiro e subo no elevador.

Primeira coisa, tomar um banho e me deitar, para ser sincero a melhor parte do meu dia.

Acordo com o som do telefone, olho para o relógio são duas horas da tarde. Merda esqueci do despertador. Já era academia hoje. Levanto para atender o telefone.

- Alô - Tento não soar como quem acabou de acordar. Ouço um soluço do outro lado da linha.

- Oi, Enzo? - Reconheço a voz da Tânia secretaria do meu tio Roman que cuidou de mim desde quando perdi meus pais aos sete anos de idade.

- Oi Tânia - Respondo um pouco preocupado pelo tom em sua voz.

- Ah Enzo, como eu queria poder lhe falar pessoalmente... - Mais um soluço - Seu Tio... o Dr. Roman veio a falecer hoje de manhã - Tento absorver a notícia rápido mas a realidade é dura.

- Como assim Tânia? Ele já não estava se estabilizando? - Mantenho minha voz firme apesar das minhas pernas estarem fracas.

- Sim! Após a primeira parada cardíaca ele se estabilizou e já estava para receber alta, mas durante a noite aconteceu algumas complicações respiratórias e ele veio a ter a segunda parada cardíaca e não resistiu. - Tânia falava tão rápido e tão abalada que fez meu coração se apertar, ela sempre acompanhou meu tio em todos os trabalhos da empresa de advocacia, desde que conheci meu tio lembro-me dela ao seu lado como conselheira. Ela foi quase como uma mãe para mim.

- Vai ficar tudo bem Tânia, amanhã estarei indo aí resolver tudo... - Tento acalmar -la e ser o mais maduro possível mesmo também estar sentindo muito por isso. Ela apenas concorda.

- Eu sinto tanto Enzo, sinto tanto por tudo isso ter acontecido - Ela funga e percebo que já faz um tempo que ela deve estar chorando - Sinto que falhei em meu trabalho, aí meu Deus eu devia ter tentado mais! - Ela choraminga baixinho.

- Tânia, me escute! Você fez tudo e quase o impossível por ele, sou grato a você por tudo, apenas vá descansar e me encontre amanhã no escritório dele para podermos resolver tudo! Tudo bem?

- Claro Enzo, espero por você amanhã... - Ela desliga o telefone, então sinto meu mundo começar a desabar.

Faço mais uma ligação para a viagem, sair de Los Angeles e ir para Portland são apenas duas horas de avião. Termino a ligação com tudo pronto para viajar amanhã às seis horas e chegar lá cedo.

Tomo um longo banho e saio para lanchar, vou até um restaurante e peço minha comida. Termino de comer e vou andando até meu apartamento. Como não fui à academia, caminhar um pouco é preciso.

Chegou a hora de ir trabalhar, hoje é a senhorita Valeria com quem irei me encontrar, apesar de ser três anos mais velha é uma mulher incrível.

- Boa noite Sr. Mitsun - A recepcionista me leva até uma mesa e me deixa com um cardápio. Muitas das minhas clientes gostam de ter um "encontro" antes de irmos para um quarto. Até concordo em conversar sobre algumas coisas mas nem sempre tô com cabeça para isso... E hoje não é um excessão.

- Boa noite bonitão! - Ouço Valeria sussurrar em meu ouvido e rir. Ela senta -se à minha frente, seu rosto animado e bem maquiado.

- Olá minha querida e amada Valeria - Dou o meu sorriso mais sedutor e a vejo corar. - Qual o cardápio de hoje? - Pergunto e ela parece pensar um pouco mesmo sabendo que ela irá pedir espaguete a molho branco como sempre.

- Acho que vamos no espaguete o que acha Enzo? - Ela me olha com seus olhos azuis tão claros que quase passam a ser cinzas, seu sorriso carinhoso um pouco marcado pelos seus 30 anos, não tão mais velha que eu que estou chegando nos meus vinte e oito.

- É uma excelente escolha, um vinho seco para acompanhar? - Ela sorri e faz o pedido ao garçom.

- Então onde iremos hoje? - Ela me pergunta olhando disfarçadamente minha roupa, que foi escolhida a dedo para este encontro com ela. Um terno preto e uma blusa social preta por baixo, a gravata é a parte preferida dela.

- Vamos à um hotel que foi inaugurado a umas semanas... - Ela arregala os olhos e parece não acreditar em qual hotel estou me referindo - Sim! Vamos ao hotel Galas - Sorrio de sua reação tão emocionada.

- Ai Enzo esse será meu melhor aniversário, minha melhor noite! - Ela quase chega a dar pulinhos de alegria da cadeira, tento me manter sério mas acabo sorrindo por fazer o dia dela bom, pelo menos o dela...

Colocamos algumas conversas em dia, como anda a vida dela após a faculdade e como ainda não acredita que ganhou um masserate do pai. Após nossa janta no direcionamos ao hotel.

Chegamos ao quarto e começo a tirar a roupa mas ela hoje está bem paciente para ir direto ao ponto, ela e gravatas! Como todas as minhas noites, faço tudo com muita atenção e carinho mas nada além disso, afinal isso é um trabalho como qualquer outro.

Terminamos e ficamos agarrados na cama, ela cochila em meu colo tranquila, passo as mãos por suas curvas nada discretas. Valeria é umas das minhas clientes mais frequentes, antigamente acharia isso meio estranho por querer sempre o mesmo homem mas ela me garantiu que é apenas algo profissional. Mantenho os meus sentimentos mais enterrados possível nessas horas, confesso que é um pouco triste tantas mulheres passarem por mim e nenhuma delas eu poder dizer ser minha. Talvez problema que eu não quero tão cedo. Continuo olhando Valeria dormir e imagino ela se casando e sumindo das minhas noites, até fico um pouco feliz se ela fosse realmente feliz casada.

Durmo um pouco e então outro dia começa, não um dia qualquer mas um dia em que irei enterrar mais um parente meu.

Aprendendo a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora