Capítulo 2 - O Outro Lado - Parte 2

15 4 0
                                    

O local parecia bem cuidado. A grama era bem verde, e arbustos e árvores ocupavam grande parte do jardim, ao longo de bancos de madeira. Como aquela vegetação havia sobrevivido ali? Não fazia ideia. Não que alguém se importasse.

Dakota se aproximou de uma das árvores, encostando-se, enquanto apoiava seu pé direito e retirava um cigarro de sua jaqueta.

- Sério? Você vai fumar em uma hora dessa? – questionou Mandy, indignada. O rapaz ainda estava por aí correndo perigo.

- Eu estou me dando um descanso. Já passei por muita merda hoje. – respondeu Dakota, acendendo seu cigarro e dando uma tragada. – Você pode ir em frente e procurar ele se quiser. Mas eu digo que você também merece isso.

- Bem, tanto faz. Apenas não saia daqui. – Mandy deu de ombros e saiu do jardim, de volta às celas.

Por que ela estava contando com um estranho, de qualquer forma? Bem, era tudo que ela tinha no momento. Quase todas as portas estavam trancadas, o rapaz não estava em lugar algum, e Mandy ainda não tinha respostas. Frustrada, ela passou verificando cada cela novamente, e o que ela não esperava era o que a aguardava na C2. Um choro acompanhado de grandes suspiros agora era ouvido, e se sua mente não estivesse a traindo novamente, aquele poderia ser o rapaz que tanto procurava.

- Tem alguém aí? – perguntou Mandy, dessa vez com a esperança de uma resposta. – Sou eu, a Mandy... Você me encontrou naquela casa.

- Vá... Vá embora – a voz falhava, e era masculina. – Você não pode me ajudar, confie em mim. Eu não valho o seu tempo, de qualquer forma.

- Olha, eu não sei o que você está passando, mas eu preciso de respostas. Eu te ajudo, você me ajuda. – Mandy estava determinada. – Me diga como te tirar dessa cela.

- Tem uma chave... Provavelmente na recepção ou em algum lugar neste andar.

- Ok... Apenas... Aguarde aqui e eu estarei de volta em um instante, você verá. – disse Mandy, se afastando da cela, e voltando ao jardim. Ela precisava avisar Dakota sobre o rapaz. Porém, ao chegar ao local, se deparou com mais um problema: A jovem havia sumido. "Pra onde ela foi numa hora dessas?!" pensou Mandy, frustrada. Teria agora não apenas que procurar pela chave, mas pela garota também.

Saindo em busca de ambas coisas, Mandy revirou todo o lugar. Salas, a recepção... Entretanto, não haviam muitos lugares os quais Dakota podia ter ido; o que lhe restava eram os andares superiores e o porão do hospital, porém ela não podia abandonar o garoto. Saindo da recepção, um grito abafado foi ouvido nas proximidades. "Dakota?!" Mandy estava em alerta. O som parecia ter vindo dos banheiros, e cuidadosamente, ela adentrou no feminino.

Abrindo cada box do banheiro, nada foi encontrando. Mandy havia revirado todo o primeiro andar, e Dakota não havia sido encontrada. Por estar frustrada, tudo agora a irritava: a goteira que vinha do teto do banheiro, fazendo um eco quando a água atingia o chão, seu reflexo no espelho, o silêncio mortal do hospital. Não havia sinal de chave em lugar algum também, o que contribuía para o pânico se alastrar em Mandy, pensando até mesmo na possibilidade de arrombar a cela em que o rapaz se encontrava.

Estava saindo do banheiro, sem esperanças, quando quase na saída, um corpo caí do teto, sem explicações; ele estava pendurado de cabeça pra baixo, usava a roupa de um paciente e seu rosto estava encoberto pela escuridão. Isso foi o suficiente para fazer Mandy cambalear para trás com o susto, escorregando na água deixada pela goteira, fazendo-a bater a cabeça em uma das pias do banheiro, desmaiando.

Estava tudo escuro. Sombras que pareciam ser cinzas eram tudo que podia-se ver. Elas estavam tremulas, quase como se não conseguissem se manifestar muito bem; então uma voz: "Mandy! Mandy, acorde!". Essa voz era familiar, muito mais do que pensava. Tentando enxergar em meio àquela escuridão, Mandy percebeu que estava de frente com sua amiga, Laura. Seus cabelos loiros presos por um rabo de cavalo, e seus olhos azuis estavam totalmente nítidos para ela, mas era como se ela estivesse muito longe, porém, ao mesmo tempo muito perto.

Silent Hill - AbismoOnde histórias criam vida. Descubra agora