Capítulo 3

58 5 29
                                    

O sol incomodava as pálpebras pesadas de Harry, o tirando do seu sono. Ao se sentar na cama de lençóis brancos e macios ele pode ver um pequeno corpo parado ao lado de sua porta com os braços atrás das costas. Ele fitava seus pés e prendia seu lábio com os dentes para tentar amenizar seu nervosismo.

-Bom dia, o que esta fazendo aqui? - disse o centurião com a voz rouca pelo sono. O escravo direcionou o olhar para Harry e suspirou baixinho.

-Seu tio ordenou que eu estivesse aqui quando o senhor acordasse, caso precisasse de algo. - Louis disse soltando seus braços ao lado do corpo. Foi em passos hesitantes ate uma mesinha ao canto do quarto arejado, e entornou um pouco de agua em um pote para o centurião tomar. Levou o objeto ate Harry que observava seu servo com a expressão dura no rosto. Tomou o pote das mãos do menor e bebeu a água com calmaria. Devolveu o recipiente para as mãos de Louis que prontamente o deixou na mesinha feita de madeira maciça.

- Seu tio pediu para te informar que, após seu café, o senhor terá que ir ate Estéfan para retirar o pedaço da lâmina em sua perna.- Louis disse com sua voz baixa olhando para o maior com certa pena. Deveria ser doloroso aquele procedimento, ele não gostava nem de pensar em coisas como aquela.

Harry balançou a cabeça em confirmação e se levantou lentamente da grande cama, privilégios para poucos naquela época, pegou sua bengala e andou em passos falhos ate a sala da casa onde uma mesa farta de alimentos o esperava. Louis puxou sua cadeira como foi ensinado a fazer e se posicionou ao lado da mesma quando Harry se sentou.

As regalias e farturas sempre se fizeram presente na vida de Harry, então comer frutas frescas e pães quentes não era uma novidade para ele, mas para Louis tudo aquilo era novo. Quando era prisioneiro do império ele se contentava com um pão velho ou restos de oficiais, e mesmo quando residia em sua aldeia com sua família a comida não era algo farto. As condições fora dos portões de Roma eram difíceis, contudo ele nunca chegou a passar fome. Olhar para aquela mesa cheia de frutas suculentas faziam seus olhos brilharem. Seus pensamentos foram cortados por um Harry se levantando da cadeira. Ele o acompanhou ate o quarto do curandeiro e suspirou com medo ao entar naquele quarto e se deparar com uma grande mesa com objetos cortantes em cima que seriam usados em Harry.

O centurião se deitou na mesa como foi mandado e sentiu suas coxas musculosas serem prendidas com uma corda para ele não se mexer. Louis ainda olhava para aquilo com medo em seus olhos, ele não gostava de sangue, mas como um bom serviçal ele teria que ficar alí.

- Segure os braços dele para que ele não se mexa. - disse Estéfan olhando para o menino de olhos azuis. Louis se assustou e se segurou para não gritar com o ancião. Era visível aos olhos de todos que ele nunca conseguiria segurar um homem como Harry, mas ele fez o que fora dito.

Harry observou o pequeno serviçal se inclinar sobre seu corpo e tentar prender seus braços da melhor forma. Ele sabia que qualquer força que ele fizesse em seu braço fugiria do aperto. Após ver que Louis tinha prendido Harry, o curandeiro começou a fazer um corte no local onde estava a pequena lâmina. O corte do acidente ainda estava fundo, mas ele estava se cicatrizando superficialmente, por isso tivera que fazer outro corte no local.

Harry sentiu milhões de cavalos pisoteando sua canela, ele tentou se segurar como um bom lutador, mas a dor era ardente. Um grito alto e rouco saiu da garganta de Harry e seus braços se agitaram, mas Louis conseguiu fazer mais força se inclinado os fazendo parar. Ao mais baixo estava aterrorizado e buscou o rosto de Harry para ver como ele estava. O que ele não contava em ver era um Harry pálido como as nuvens de outono, suando frio fazendo seus cachos pregarem em seu rosto masculo. O centurião olhou para os olhos azuis e desmaiou na mesa fria. A sua última lembrança era de safiras o olhando com medo.

(...)

Harry acordou assustado tentando se levantar bruscamente sendo parado com delicadeza por mãozinhas o empurrando com pouca força para baixo. Seus sonhos ultimamente eram lembranças da carroça vindo em sua direção ou de seu pai o deixando para ir para a guerra.

- Se acalme senhor, Estéfan disse que não deveria se movimentar. - Louis disse baixo olhando para um Harry confuso.

Após a longa cirurgia Harry foi levado ao seu quarto e Louis estava ao seu lado desde então. Durante o processo ele teve vontade de vomitar vendo todo aquele sangue, e várias vezes ele teve que se segurar ao lado da mesa para não desmaiar. Mas agora, olhando para a canela do centurião enfaixada, ele se sentia aliviado.

- Por quanto tempo eu fiquei desacordado?

- Por cerca de umas 6 horas meu senhor. - Louis foi pegar água para o maior, vendo que a voz de seu senhor estava mais rouca que o habitual. Após pegar a água e entregar a caneca de barro a Harry, que aceitou de bom agrado, ele voltou a sua posição ao lado da cama sentindo seus joelhos fracos pela quantidade de tempo que ficara em pé naquela posição.

- O senhor deseja algo? - a voz fina de Louis carregada de cansaço se dirigiu ao maior.

- Me traga uvas. - seu timbre foi seco e imponente. Os olhos verdes vagavam pelo quarto iluminado por tochas.

Louis prontamente foi até a cozinha deixando um Harry com dor para trás. O centurião não queria demonstrar sua fraqueza, isso não seria feito de um comandante. Ele tentou ajeitar sua perna no meio de alguns travesseiros enquanto suava frio. Ele suspirou, se encostando na parede decorada atrás de sí, desistindo da idéia de que a dor passaria agora.

Louis voltou em passos largos em consideração a suas pernas curtas e resmungou ao ter que abrir a porta com suas maos cheias pelos cachos de uvas suculentas e roxas.

- Aqui está, senhor. - a voz fina de Louis chamou a atenção de Harry que sorriu de lado ao ver as frutas suculentas. O escravo entregou as uvas para o homem de olhar verdes e voltou a se posicionar ao lado da cama.

A barriga de Louis revirava pela fome e sua boca salivou ao ver as uvas nas grandes mãos de Harry. E como o destino nunca fora agradável consigo, Louis caiu aos pés da cama pela seu cansaço e fome.

The Eagle || L.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora