Capítulo 2

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15 anos depois, 2031.

O meu cabelo preto estava agora entrançado, o meu corpo, coberto com um vestido branco com o qual me ia casar, as minhas unhas pintadas de preto e o meu sorriso, ainda à espera de aparecer.

A igreja tem apenas doze convidados e entre eles não estão os nossos pais ou as nossas mães.

Tenho 26 anos e a pessoa com quem eu me estou prestes a casar tem apenas 18 anos, mas é o meu "par ideal" e a melhor forma de mais ninguém escolher por mim, agora que já todas as escolhas foram feitas.

As portas da igreja abrem-se e as pessoas levantam-se, enquanto passo, sinto olhares de pena sobre mim, olhares de tristeza e até alguns, de felicidade.

A Amanda e o Rafael, os meus "amigos ideais" estam abraçados, foram destinados como "ajudantes perfeitos" e trabalham juntos, a Amanda está a chorar, pois sabe o quanto eu odeio toda esta situação, mas também sabe que é o melhor, ela tem sorte não encontraram nenhum "par ideal" para ela, também não encontraram nenhum para o Rafael, por isso estão destinados a ficar sem nenhum "par ideal" para o resto da vida.

Subo um degrau até ficar à altura do meu futuro "parceiro", existem algumas gotas de suor a escorrer pela sua testa abaixo.

O padre começa a falar, mas eu não o ouço, estou de lado para ele e de frente para o Mário, olho-o bem nos olhos. Nos seus olhos veem-se tristeza acumulada, acho que sente o mesmo que eu em relação a ser casado com alguém que mal conhece.
O padre pára, é a altura de falar, ensaiei isto, por isso sei exatamente o que dizer, mas sinto-me nervosa de qualquer maneira. Disse-o e virei-me de novo para Mário, não sei se ele já falou ou se ainda tem que falar, mas sei que é altura de nos beijar-mos.
Dou um paço em frente e ele põe as mãos desajeitadamente nas minhas bochechas, estão suadas tal como a sua testa, a sua cara aproxima-se da minha, ele olha uns instantes como para pedir desculpa e depois beija-me, não fogazmente, mas também não levemente.

Desencosto a minha cara da sua e padre diz qualquer coisa, quando acaba, desvio os olhos de Mário e ele continua a olhar para mim e depois digo ,mais para mim, do que para ele.

-Acho que agora estamos casados.

Ele pega em mim e leva-me até à saída e depois deixa-me no chão.

Algumas pessoas felicitam-nos e nós só andamos, nenhum de nós tem carro por isso temos que ir a pé para casa, quando as pessoas começarem a ir embora, passado alguns minutos, isso finalmente acontece e então, metemo-nos por um atalho e seguimos caminho.

Passamos muitos minutos de silêncio até que por fim, ele falou.

-Desculpa não mostrar grande entusiasmo- disse um <<não faz mal>>, mas acho que passou despercebido- ontem, fiz anos e hoje, já estou a casar-me, gostava de te mostrar um pouco mais de entusiasmo, mas não consigo, mal vivi a minha vida, aos quatro anos, encontraram-me a "parceira ideal" e a partir daí, a minha vida passou a ser toda baseada nisso, não acho justo- sei que o estava a dizer mais propriamente para ele, do que para mim, por isso, só se lembrou de mim passado uns segundos- não te quero ofender, nem nada do género, eu estou só mesmo a- hesitou- dizer o que penso.

-Bem, eu também não estou a mostrar muito entusiasmo, portanto, a culpa também é minha e eu percebo o que estás a dizer e também acho frustante- pensei em dizer que talvez fosse essa a razão de nos juntarem, termos ideias parecidas, mas não me pareceu o momento ideal para o dizer.

Ele olhou para mim e rematou a conversa:

-Bem, acho que não faz qualquer diferença pensar nisso, agora que já estamos casados.

Continuámos a andar e acabámos por chegar a casa.

Uma casa que se destacava de todas as outras.

Quando a vimos do lado de fora, apenas algo nos chamou à atenção e esse algo era a sua cor, azul.

Azul como o céu, talvez até seja possível confundi-la com ele.

Lá dentro, era possível ver o nosso reflexo por toda a casa, visto que o chão era um espelho gigante.

O teto tinha azulejos que mudavam de cor, já tinha ouvido falar neles, mudam de cor de acordo com o nosso estado de espírito.

O resto da casa era como todas as outras.

Fomos ambos para a sala e sentámo-nos no sofá preto.

-Gostas?- perguntei, quebrando o silêncio com apenas uma palavra.

-Da casa?Sim, gosto, talvez gostasse de algo mais tradicional, mas não é nada má- fiquei triste com a sua resposta, eu tinha adorado a casa e ele, preferia outra coisa- e tu?

-Eu pessoalmente gosto!

Falta De EscolhasOnde histórias criam vida. Descubra agora