Confronto II

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Minha visão estava turva e meu corpo não me obedecia. Eu não tinha mais forças para lutar e nem sequer me mover.

Ter me envolvido naquela luta era uma derrota na certa, mas eu não podia apenas desistir sem tentar, e ela havia me motivado... me dar um nome? Foi a melhor coisa que escutei em anos, nunca havia me preocupado com isso mas agora havia uma razão.

Eu não podia entregá-la, definitivamente não.

Fiz um último esforço para levantar mas falhei... tudo na minha frente escureceu e eu desmaiei de uma vez.

Acordei em um local totalmente branco, parecia um sonho. Era como se eu estivesse dentro da minha mente, não havia nada em volta, exceto uma mulher, parecida com a Alice, possuía os mesmos cabelos loiros e usava um vestido todo branco. Ela estava de costas, mas eu conseguia sentir que aquela pessoa era a Alice.

Tentei chamá-la mas minha voz não saía e nem meu corpo se movia. Eu queria acordar logo desse sonho e ver se ela estava bem, era meu único desejo no momento. Fechei os olhos e os abri para ver se despertava e fiquei surpreso com o resultado.

Eu estava em um local totalmente diferente agora, era como se fosse o oposto do que eu acabara de ver. Se o local de antes era como um rio calmo e sereno, este lugar seria comparado a mar turbulento e tempestuoso.

A escuridão preenchia o espaço me permitindo ver somente uma outra garota, que não era a Alice. Seus cabelos eram negros e longos, suas vestes pretas como o lugar a sua volta.

Ela estava de frente para mim, mas a distância entre nós não me deixava ver seu rosto, o que eu sentia era apenas uma intenção maligna vindo dela. Algo como eu nunca havia sentido antes.

Eu queria sair dali o mais rápido possível, aquela sensação me deixava enjoado. Fechei e abri meus olhos novamente mas eu ainda estava naquele lugar, a garota parecia estar mais perto a cada segundo que se passava, sua presença era esmagadoramente assustadora como se apenas bastasse o seu olhar para me fazer cair.

Ela foi se aproximando até estar de frente para mim, sem poder me mexer ou falar fui obrigado a encará-la em silêncio, e algo mais perturbador ainda começou a me preocupar, ela era como a Alice.

O rosto era igual, apesar do cabelo e os olhos serem pretos. Não passava pela minha cabeça uma "Alice" daquele jeito. Era simplesmente impossível de imaginar.

Ela esticou sua mão tocando em meu peito e disse:

- Agora durma, por toda a eternidade...

Aquela voz... aquela mesma voz que me disse palavras tão gentis e me fez lutar. Eu ia desistir, estava para ceder a pressão quando uma luz brilhou.

A escuridão se afastou junto da garota e eu senti uma mão me tocar pelo ombro, era a melhor coisa que eu podia sentir na hora, parecia que todo aquele cansaço estava se esvaindo e meu corpo se aquecia com uma sensação reconfortante.

Olhei para cima e me deparei com a garota do vestido branco, ela tinha o mesmo sorriso que Alice me mostrou minutos atrás, afinal as duas eram a mesma pessoa. Ela esticou sua mão até mim dizendo:

- Ainda é cedo para desistir Shuu...

Shuu. Então esse era o nome que ela iria me dar...

Agarrei a mão dela e tudo se clareou eu acordei me sentindo mais vivo do que nunca, mas a situação não era a das melhores.

A Alice de cabelos negros estava na minha frente e com meu irmão aos seus pés. Ele estava acabado. Suas roupas antes brancas agora eram vermelhas da cor de sangue, ele ainda estava vivo mas num estado de quase morte.

Alice mexeu a boca um pouco e um portal se abrir ao seu lado, através dele vi um local que eu conhecia muito bem... o vazio.

Avancei para impedí-la mas já era tarde. Demorei demais para perceber sua intenção e isso custou a vida de meu irmão, uma vez que se vai ao vazio é impossível retornar.

Estava pasmo com a crueldade dela, seus movimentos não continham hesitações, simplesmente abriu o portal, jogou ele na dimensão do vazio e o fechou.

Era completamente diferente da Alice que eu conhecia.

Estava pronto para lutar com ela caso fosse necessário, mesmo que contra a minha vontade era minha obrigação cuidar dela.

Eu queria apenas ignorar aquilo e pensar que era outro ssonho, que a Alice não seria capaz de fazer aquilo. Ela se virou parecendo não me perceber e encarou o céu por um tempo, na hora não me toquei mas fiquei desmaiado por algumas horas, já era quase noite e eles estavam lutando até agora pouco... inacreditável.

Pensei em gritar seu nome, mas resolvi ficar calado e deixá-la perceber minha presença por conta própria. Ela ficou parada olhando o céu por uns minutos, até se virar novamente e eu ver lágrimas em seu rosto.

Ela parecia confusa, e eu pude confirmar isso quando vi que seus olhos estavam diferentes, um era verde e o outro preto, parecia estar divida por dentro entre duas personalidades...

Alice se aproximou de mim ainda chorando e sem dizer nada me abraçou. Não entendi o por que daquilo mas aceitei sem questionar. Ficamos abraçados por algum tempo e quando olhei de novo para ela seus cabelos já não eram mais negros e nem seus olhos totalmente pretos.

Ela havia voltado a ser a Alice de antes.

— Você está bem? - perguntei no seu ouvido.

Ela não me respondeu e continuou encostada no meu peito. Comecei a ficar preocupado e perguntei novamente:

— Ei Alice! É você de verdade?

E dessa vez ela balançou a cabeça confirmando, eu tentei afastá-la mas ela ainda continuava me segurando e resmungou como se quisesse ficar daquele jeito mais um pouco.

Depois de um tempo ela levantou seu rosto até me olhar nos olhos e disse com a voz meio baixa:

— Shuu...

— O quê? - respondi gentilmente.

— Quero comer "moçãs".

Aquilo me fez rir, eu não esperava que ela fosse dizer isso justo naquela hora, mas foi bom para quebrar o clima tenso entre nós. Eu apenas assenti e puxei-a para dentro da floresta.

Alice In My World - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora