Capítulo 1 : A Moura (Península Ibérica)

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A moura ou bruxa de Évora (cidade onde ficou conhecida) foi uma mística que viveu no século treze na região da Península Ibérica

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A moura ou bruxa de Évora (cidade onde ficou conhecida) foi uma mística que viveu no século treze na região da Península Ibérica.

Conta-se que a moura foi criada por suas velhas tias bruxas, que lhe ensinaram a magia negra e lhe deram alguns talismãs mágicos: sete moedas de ouro do califa Omir, uma pedra ágata com inscrições em árabe e uma chapa de prata com o nome do profeta.

Em algumas versões, a moura é relatada como sendo sincretista, pois além de praticar o paganismo e conhecer a religião celta, também era devota cristã e conhecia rezas.

Já em outras versões mais difundidas, a bruxa era satanista e tinha como companheiros demônios da mais alta hierarquia. Controvérsias à parte, a moura é sempre descrita como uma mulher muito velha, horrenda e malcheirosa. Tinha como animal de estimação Lusbel, um gato preto que sempre a acompanhava em suas longas jornadas.

A moura era uma bruxa muitíssimo inteligente, falava árabe, português e latim, escrevia e memorizou o Alcorão em sua mente. Entre outras coisas, sabia matemática, alquimia, astronomia, além de ser uma ótima feiticeira e vidente.

Apesar de temida, ela era muito requisitada devido aos seus dotes como bruxa, curandeira e vidente. Seus banhos, sortilégios, feitiços, conjuros e amarrações eram muito procurados por quem buscasse cura, proteção, amor e sorte na vida.

A moura torta (como também é conhecida devido ao jeito curvo que andava) recebeu aulas de bruxaria com suas tias velhas em Évora, cidade onde era vista vagueando lentamente na companhia de Lusbel.

A bruxa voava em cães, lobos, carneiros e até mesmo na popular vassoura mágica, porém a versão mais reconhecida é que a moura era vista voando sempre em um bode negro. Os bodes sempre foram vistos como animais símbolo de satã, alguns até o consideram a própria forma física de Lúcifer.

Há muitas histórias que relatam a bruxa moura como personagem. Na verdade, existem várias "bruxas mouras" diferentes no folclore; em certa parte de Portugal dizem que existem espíritos chamados de "mouras encantadas" que são seres obrigados por oculta força sobrenatural a viverem em certo estado de sítio como que entorpecidos ou adormecidos, enquanto determinada circunstância não lhes quebrar o encanto.

Em outros cantos, têm-se histórias de que a moura vive dentro de pedras (as chamadas pedras mouras) e quem carregar consigo alguma dessas pedras terá um azar profundo.

Entre inúmeras histórias sobre a tal moura torta, uma chamou-me a atenção, trata-se de um conto para crianças, provavelmente de origem luso-brasileira:

Conta-se que em tempos distantes, uma jovem e linda princesa se aventurava pelos bosques, além dos limites do reino de seu pai. Acontece que, em determinado momento, ela se afastou demais e acabou por se perder na mata. Seu desespero foi tanto que ela se pôs a chorar.

Passava por aquele bosque um príncipe montado a cavalo e, ouvindo o choro da moça, se aproximou e a perguntou o que havia ocorrido. A jovem então explicou que era filha do rei e que havia se perdido. Depois de uma longa conversa, o príncipe (já apaixonado) prometeu à jovem princesa que iria até o seu reino buscar uma carruagem para levá-la com segurança para casa.

Antes de partir, recomendou que a princesinha subisse em uma árvore e não conversasse com ninguém até que ele retornasse.

Já sozinha e em cima de uma árvore, a jovem princesa viu se aproximar uma velha horrenda, com trajes velhos e rasgados, trazendo consigo um jarro de barro. Era a moura torta, que por distração não notou a jovem na árvore.

A moura ajoelhou-se na margem do pequeno riacho que ficava abaixo da árvore onde a princesa se encontrava e resmungando ofensas pôs-se a encher o jarro com água. Em certo momento, a velha moura enxergou no espelho d'água o reflexo da bela princesinha e, pensando que a imagem refletida era sua, soltou uma horrenda gargalhada.

Que faço eu aqui? Tão jovem e linda, pegando água para minha patroa? - Dizendo isso, jogou o jarro no chão quebrando-o em incontáveis pedaços e partiu cantarolando e saltitando. A princesa que assistia a tudo, segurou-se para não rir da situação.
Passou-se um tempo e a velha bruxa voltou ao riacho, dessa vez com um jarro de ferro. Colocou-se novamente de joelhos e, quando ia pegar a água, viu novamente o belo reflexo da princesa.

-Ora! Mas que afronta da minha patroa em me chamar de velha e horrível, eu sou tão linda! - Dizendo isso, tentou em vão quebrar o jarro de ferro. A princesa não se conteve e soltou uma gargalhada.

A moura então olhou para a árvore e avistou a jovem, entendendo tudo o que havia acontecido. Furiosa, se pôs a subir na árvore para castigar a jovem princesinha.

Por favor senhora, não me faça mal... eu estou apenas esperando meu príncipe encantado retornar, não foi minha intenção zombar de você! - Suplicou a princesa com medo da horrenda bruxa.

Jovem princesa, sinto muito, mas quem vai esperar o seu príncipe será eu! - Disse a bruxa entre gargalhadas malévolas.

Assim que terminou de subir, a moura fincou um alfinete na cabeça da jovem princesa, que nesse mesmo instante se transformou em uma pombinha branca e partiu voando.

O príncipe retornou como prometido e, vendo a imagem da bruxa em cima da árvore, assustou-se.

Céus! O que aconteceu? - Indagou o jovem príncipe.

Você demorou demais meu amor! Eu envelheci enquanto lhe esperava - Mentiu a bruxa.

Confuso, mas certo de que tinha se apaixonado pela princesa, o príncipe levou a moura para seu reino e logo se casaram.

Acontece que, certo dia, a pombinha branca voou até a janela do príncipe e pôs-se a piar. O príncipe, maravilhado com aquela ave, pegou-a nas mãos e lhe deu carinho. Prestes a soltá-la, ele notou um alfinete em sua cabecinha.

Quem poderia fazer uma maldade dessas com uma indefesa pombinha? - E delicadamente, retirou o alfinete, quebrando assim a bruxaria da velha moura.
A princesa, em sua forma original, abraçou e beijou o príncipe e contou-lhe tudo o que havia ocorrido.

O príncipe, irado com o acontecido, resolveu punir a velha moura torta...

Em algumas versões, o príncipe irado vinga-se da velha bruxa, matando-a de forma cruel. Já em outras versões, logicamente destinadas a crianças mais novas, a princesa perdoa a maldade da bruxa e pede que o príncipe a deixe partir para bem longe dali.

Independentemente da versão, a história da bruxa moura vem sendo repassada há anos, tanto na Europa e no Oriente Médio como no Brasil.

(Segundo relatos, a história da moura veio para o Brasil através dos imigrantes lusos e dos ciganos que aqui se instalaram ao longo do século.)

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