Falaremos hoje de Catherine Deshayes (1640 - 1680), parisiense que foi acusada e sentenciada à morte por bruxaria.
Catherine nasceu em uma família pobre de Paris no ano de 1640, seguiu os passos da mãe que era feiticeira, e então com nove anos de idade começou a prática da quiromancia (leitura de mãos) e astrologia.
Ainda muito moça casou-se com um joalheiro falido com o qual teve uma filha e precisou usar seus dons de feitiçaria para manter a renda da família. Com preparo de poções afrodisíacas e amuletos conseguiu se inserir em meio à aristocracia e faturar muito com isso. Homens ricos a buscavam numa tentativa de aumentar o vigor sexual e as moças iam atrás de poções e tratamentos estéticos.
Outro item muito requisitado entre seus clientes era o "pó da herança" (ou seja : veneno). Tendo sucesso com o lado negro da magia, a bruxa começou a realizar rituais satânicos em sua cabana que ficava nos arredores da capital, Assim surgiu seu apelido La Voisin (a vizinha).
A bruxa logo começou a realizar abortos e missas negras, onde o mal é adorado. La voisin se aprofundou em ciências ocultas e alquimia chegando inclusive a financiar projetos e estudos nessas áreas.
A cliente mais rica de la voisin foi a marquesa de Montespan, amante do então rei Luiz XIV. A marquesa usou venenos da bruxa para matar uma possível amante concorrente, há quem diga também que a marquesa conspirou com a bruxa Catherine para envenenar o próprio rei.
Entre 1660 e 1680 o número de mortes dadas como naturais entre membros da nobreza tornou-se gritante. Após o escândalo alcançar a realeza, uma comissão investigativa escancarou o submundo da bruxaria em Paris. No "Caso dos Venenos", Catherine Deshayes acabou presa em 1679. A polícia descobriu uma grande rede de pessoas que trabalhavam com a distribuição de veneno.
Na casa de la voisin foram encontrados frascos com gordura, fezes, sangue e sêmen humano. Além disso, havia uma enorme fornalha com restos mortais de bebês recém-nascidos. Em interrogatório, Catherine confessou que além de abortos ela também sacrificava bebês em suas missas negras.
Após 24 horas de tortura, Deshayes admitiu culpa pela morte de 2 mil recém-nascidos e pela venda de venenos que vitimaram centenas de pessoas.
Catherine foi queimada viva em praça pública em 1680. Ela partiu xingando e cantando canções obscenas.
Extratos de uma carta disponível na Wikipédia de Madame de Sévigné a sua filha, datada de sexta-feira, 23 de Fevereiro de 1680 :
Vou lhe falar apenas de Madame Voisin ; não foi na quarta-feira, como havia lhe dito, que ela foi queimada, foi somente ontem. Ela sabia de sua sentença desde segunda-feira, coisa bastante extraordinária. De noite ela disse a seus guardas : « O que? Nós não vamos fazer "médianoche"? » Ela comeu com eles à meia-noite, por capricho, já que não era dia magro ; ela bebeu bastante vinho, cantou vinte canções sobre bebida » .
(...) às cinco horas, eles amarraram suas mãos ; e, com uma tocha nas mãos, ela apareceu sobre a carroça, vestida de branco : é uma espécie de hábito para ser queimada. Ela estava bastante corada e podia-se notar que afastava o confessor e o crucifixo com violência. Em Notre Dame, não quis pronunciar a amende honorablee, em frente ao Hôtel-de-Ville, debateu-se o quanto pode para sair da carroça : foi puxada com força, colocada sobre a fogueira, sentada e ligada com ferro. Cobriram-na de palha. Ela vociferou bastante. Afastou a palha cinco ou seis vezes; mas, por fim, o fogo aumentou e ela foi perdida de vista e suas cinzas voam pelo ar agora. Esta foi a morte de Madame Voisin, célebre por seus crimes e impiedades.
Posteriormente sua filha revelou a parceria da mãe com Montespan , amante de Luiz XIV da França, o que acabou gerando o encerramento das investigações sobre as bruxarias e videntes relacionados a La Voisin.