Denúncia

813 24 2
                                    


Era uma noite de sábado, a escuridão tomava conta de todo o ambiente, a mansão René carregava em si um profundo sentimento de rancor, ódio e agonia. Um vento forte vindo das grandes janelas passava por todos os cômodos luxosos da moradia e parava em seu ponto principal, a requintada sala de estar.

Nela, se encontrava o presidente da república Alítio René, 58 anos, ajoelhado ao chão com as mãos puxando seus cabelos escuros bagunçados. Seu corpo todo suava e tremia, sua pele branca estava bastante pálida excluindo apenas o seu rosto, que se encontrava extremamente vermelho, seus olhos azuis estavam arregalados e lacrimejando, totalmente direcionados ao rosto de sua filha, Daniela René. Não conseguindo parar de ranger seus dentes, abriu sua boca seca e gritou desesperado para Daniela:

- Aonde você adquiriu essa informação?! Por favor, você não deve contar isso para ninguém. Olha você sabe que eu tenho lutado por tanto tempo por isso que conquistei, eu sou o presidente deste país, porra! Você não sabe o caralho que eu tive que passar para poder estar aqui?! Eu vou fazer um legado, Danielazinha, eu vou ser lembrado para sempre. Você viu as últimas pesquisas sobre a minha aprovação? Elas são altas! 72% de aprovação eu detenho. É muito! Eu vou ser reeleito! Eu tenho o poder. Se você quer ter esse poder, essas coisas são necessárias se você quer sobreviver na política. Por favor, tente entender! - Alítio arrastando-se para Daniela agarrou as pernas da moça e mirou profundamente para seus olhos, implorando cada vez mais

- Por favor, Danielazinha, eu posso dar tudo que você quer! Você será a minha continuação, você é minha obra prima, você continuará tudo que eu fiz. Lembra quando eu disse que faria você deputada federal? Eu sei que posso. Daqui alguns anos, você mesma será a presidente no meu lugar. Entenda, minha querida filha, eu posso te dar mais, cada vez mais, mais, mais e mais e mais. Eu sou rico! Eu tenho poder! EU SOU O PODER! Você não deseja mexer com quem te o poder, não é, minha filha? -

Daniela, que já tem uma estatura pequena se sentia cada vez menor e mais frágil. No seu belo rosto de 21 anos, ela olhava com os seus olhos azuis idênticos ao de seu pai a situação do mesmo com tristeza e receio. Ela tremia sem parar, queria fazer algo, queria dizer algo mas ela se sentia presa, ela se sentia como se estivesse acorrentada. O que ela poderia fazer? O seu desapontamento era gigante, nada que ele fizesse a faria mudar sua decisão.

Dani então, chacoalhou-se e afastou-se do pai aos poucos até que tomou coragem e disse com vigor:

- Eu tomei uma decisão! Eu cansei! Já chega! Nada que você disser vai mudar a minha ideia, nada! Todos esses anos você me explorou, colocando a fundo toda a minha vida pessoal, da minha infância até a minha vida adulta de agora. Você não se importa comigo e nem com ninguém, você só se importa consigo mesmo! Está na hora de mudar. Você é um enganador, um pilantra! -

Daniela, apontou para sua perna esquerda amputada, que havia perdido com muito sofrimento em um "acidente" aos 15 anos, que agora dava lugar a uma prótese de ferro.

- Você explorou minha deficiência física como um artigo de campanha. Toda aquela dor e sofrimento pelo qual eu passava, você até nisso, usou para si mesmo. Eu odeio você!

Alítio permanecia no mesmo sentimento de desespero e começou a embromar Dani.

- Olha, há certas coisas que precisam ser feitas. Para chegar onde eu cheguei eu precisava. Querida, eu, eu... Sua mãe e eu. Fizemos tudo por você, será que...

Alítio estava preso em suas próprias palavras, não portava argumento algum, não havia nenhuma boa desculpa, não sabia o que dizer e isso era estranho pois era um mestre em manipulação e mentiras, sabia exatamente como enganar e usar as pessoas ao seu favor, mas sua filha não caia em sua laia, não se enganaria tão ridiculamente. O jogo havia virado.

Filhos da PolíticaOnde histórias criam vida. Descubra agora