Capítulo I - A planta.

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Do primeiro amor nunca esquecemos! Do livro favorito também. Leitura, já dizia mamãe, é uma maneira de se preparar para a vida. Escolher, com sabedoria, quais estilos serão importantes para ler é um dom visto em poucos seres humanos: os raros. Nobres delicados ou brutais!

De todo o cânone literário existente, até o dia daquela festa, meu casamento foi com livros. Pouquíssimos conquistaram-me no íntimo, entretanto, vemos uma boa história diversas vezes e sempre parecerá edição nova. Destes enredos hipnotizantes não conseguimos fugir, de outras formas de leitura... eu escapava. Eram estranhamente estranhas! Nem penso em casar mais, mas se o amor surgir... Amores, destes exemplificados nas páginas, seduzem qualquer jovem. Inclusive gente insensível com coração desapaixonado! Antes de conhecer, já tinha idealizado este sentimento... para evitá-lo ao máximo! O afeto nunca me afetava direito. Ele sentia maior dificuldade em pegar-me do que o ódio. As pessoas odeiam mais facilmente e mal se permitem gostar. Implicantes e irritadas! Eu era petulante, independia de tudo ou de todos. Ajuda? Só da mãe! Agradeço, muitos pais negam auxílio. Ahhhh... Corrijo: os papéis também contribuíram como apoio na minha criação! Foi numa das folhas, relidas em infindáveis ocasiões, que surrupiei esta emoção delicada para platonizá-la. A obra encantadora mostrava um casal apaixonado cujas linhagens de família detestavam-se. Elas escolheram posicionamento contrário a este amor. Todavia os amantes jamais ligaram; enfrentaram! Havia respeito ao relacionamento e eles se viam um no outro. Algumas almas levam menos em consideração o sobrenome ou a origem de alguém do que caráter e hombridade. Deveria ser unicamente assim! O pobre casal preferiu dividir um frasco de veneno a viver separado. Paradoxal! A equação de divisão para juntar foi inventada. Convenhamos, o destino embaralhou um pouco o desfecho. Teve beijo, teve morte! Um grande mal entendido pode causar suicídio, mas solucionar bem a confusão impede-o. Extrema atenção aos sinais! A vida é uma só, porém os mistérios são tantos... Imagine em se tratando dos assuntos do coração! Não almejo correr este risco, pois há uma imensidão de interferências externas na tentativa de depredar qualquer ternura. Sejam pais, amigos, pretendentes... a tragédia emocional brota no caminho por tamanha intromissão. Bedelhos alheios são conselhos de futriqueiros. Satélites enxeridos girando ao nosso redor. Artificiais! Somente nós sabemos a crueza, da agonia, passada dentro do próprio espírito. Palpites de fora viram apenas palpites. Cada ser decide o que plantar e os porquês disto. Semeamos coisas boas, medianas ou as ruins, além das traiçoeiras. Eis o perigo! Vários afetos tornam-se venenos, cultivados crescendo por dentro iguais a fetos-ácidos sugadores de nossa felicidade. Tropeçar com gente errada faz isoladamente uma boca tomar frascos fatais. A outra boca continuará a vivência de iludir inocentes na lábia. Nem importa quantos juízes apontem a trilha certa, sempre existe probabilidade de nos enfeitiçarmos, contudo o azar torce pelas pessoas tortas! E pau nascido torto somente marceneiro endireita. Madeira não mais torta, porém jaz morta. Apenas assim! Dá pra construir caixão e sepultar os infinitos corações destruídos por tais tortuosidades. Ao menos o casal falecido unido, aquele de amor íntegro, dividiu o mesmo caixote. Quão doloroso é ingerir uma taça de veneno estando só! Decepções descem cortantes pela garganta. Se muitos sonham em morrer juntinhos da alma gêmea, diversos indomáveis preferem a liberdade com sua constante solidão. Às vezes o destino brinca, pois inverte. Diverte-se dando companhia a quem apodreceria no desamparo. Os livros também improvisam certos finais surpreendentes. Alimentam nosso vício pelo par perfeito com pieguices românticas, no entanto findam em tragédia ou separações. Frustrações! Deveriam finalizar após um brinde a uma nova vida! Todavia, optam por ludibrindar! Pudera... inexplicável o prazer dum cérebro permitir-se ser iludido através deles. Livros: ludíbrio consciente. Ponderando ressalvas, seguramente nunca nos decepcionamos bastante. Nem nas páginas, nem na vida. O segredo é a pessoa permanecer precavida! Ah, ou então iniciar a aprendizagem duma outra leitura!

Todos possuímos uma filosofia secreta a qual rege nossa própria natureza. Eu, antes da geada, tinha as seguintes veracidades e o destino tratou de desafiá-las:

"Aguardo o ser humano desimperfeito. Quero, um dia, surpreender-me olhando para algum monstro, mas descobrindo algo bom de verdade. Poderia este monstrinho até errar grave numa oportunidade, contudo já teria semeado coisas marcantes dentro de mim. Isto parece suficiente! Não me importo com origem de ninguém ou se existem progenitores detestadores, tão pouco ainda se alguém anda com maltrapilhos ou nasceu em berço dourado. Jesus, após o nascimento, ficou na manjedoura mesmo seu pai sendo o mais poderoso do universo. Quão humilde! Quem ligou para sua pobreza nem percebeu as riquezas: nobreza de alma, era marceneiro de mesa e via beleza nas monstruosidades... em nós! E nós nos nossos nós! Nossa! A espécie humana surgiu complicada por natureza. Desatar tamanha bagunça apenas com enorme sabedoria. Precisamos do discernimento pra eleger qual melhor jeito de desfazer os nós apresentados pela corda da vida. Que dificílimo isto! A decisão justa ri, distante, prisioneira na utopia. Inalcançável! Julgar é um delírio: o certo e incerto são tênues. O julgador do filho de Deus lavou as próprias mãos. O povo, sem real conhecimento sobre justiça, apreciou torto ao condenar um homem amável de dom endireitador. Hum! Endireita-dor! Machuca pensar que todos julgamos tudo... várias vezes... e antes. Pré-conceito! Esta prática torna a ignorância a deusa dos novos tempos. As boas novas acabaram esquecidas depois de quase dois mil anos? Serei vítima ou semearei preconceitos? Eu também avalio! Leio tão assiduamente que sinto necessidade de analisar cada frase do autor, como se a intimidade com suas palavras por longos períodos desse-me o direito. Conexão assim, firme entre dois pensamentos, merece esta cativação. Vira laço forte, igual ao trançado do amor. O coração desembaraça o novelo caso as extremidades do fio estejam em cérebros sintonizados. Convicções semelhantes evitam desperdício de tempo. Bendita clareza! Para mim, o ideal é alguém observar o valor duma mulher. Não há exagero neste pedido, só a resolução do meu dilema fugaz. Concepção sensata a qual possibilitaria a criação do afeto verdadeiro; aceitaria então dividir junto um frasco sem relutar, melhor hipótese arrebatadora. O encontro desta jovem leitora com seus medos profundos se transformaria num devaneio perigoso? Ahhhh... se for pra amar, que seja intensa e brutalmente! Dum lado mostrarei o rosto valente para depois borbulhar o sentimento inconsequente. Ser incoerente faz parte do meu ser: a devoradora de livros, com carinho!; a fúria capaz de apaixonar-se pelo mesmo olhar suave, todos os dias. Gostar é desta maneira, né!? Achei minha planta da construção do amor! O primeiro a gente jamais destrói. Portanto, ajuizados aprendem a cultivar, sem pais interferidos nem satélites envolvidos. Apego semeado torto nunca endireita, deixa cicatrizes no peito e na cabeça. Hum... inventar teorias contra romances parece receio de sofrer. Certas previsões talvez assustem, porém há desafio maior numa vida do que conquistar a mente ou o coração alheio? Amantes crentes na essência do afeto veem sentido nisto. Só mal vejo sentido em continuar nesta fuga de algo apenas encontrado nas obras literárias! Morte ao amor!?"

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A semente do veneno (O Livro dos Mistérios 4)Onde histórias criam vida. Descubra agora