- Não achei a cozinha boa o bastante, sabe? Quero uma maior. – Jane disse enquanto levava a xícara a boca.
- Entendo, também não achei confortável. Parece uma caixa de fósforos.
Jane tomou um gole do café e ficou olhando Lilian. Ela já sabia que ela ia perceber mais cedo ou mais tarde.
- Olha, eu não vou perguntar, mas, tenho certeza do que está te deixando assim.
Deu um sorriso sem graça.
- Pergunta, vou adorar te contar como foi.
- O que foi que está triste? – Ela colocou a mão no peito e abriu a boca.
- Recebi um convite hoje cedo. Melhor sensação do mundo. Chorei um pouco, deu aquele aperto no peito misturado com angustia.
Por cinco minutos ela não disse nada, tomou mais um pouco de café, olhou para a rua, viu as horas no celular, mexeu no cabelo e depois voltou o olhar para sua amiga.
- Eu pedi para que ele não mandasse. Mas, ele disse que você já tinha superado e blá blá blá, que não ia se importar e que lhe queria muito na cerimonia.
- Pra que? Pra me ver chorando? Pra eu ver de perto o meu fracasso? – Sem perceber eu havia alterado o tom da minha voz.
- Calma Lilian. – ela mexeu no cabelo de novo. – Não precisa ir. Aliás, eu acho que você não deveria ir. É melhor pra você. Finge que nem recebeu nada, joga fora e esquece isso, ok?
E lá estavam elas, mais uma vez, escorrendo nos seus olhos como uma cachoeira. Então ela se levantou com a chave do carro na mão e se despediu de Jane. Entrou no carro e saiu. Quando virou a esquina, Jane ainda estava sentada olhando para a xicara.
∞
Estava deitada no sofá desde que havia chegado do encontro com Jane. Não conseguia parar de pensar naquele papel dourado. Joey estava no seu colo dormindo tão tranquilo. A calmaria que ele transmitia a fazia imaginar o quão bom é ser um cachorro. Ele não precisa trabalhar, não precisava chorar por alguém que não o amava, brincava o dia todo, comia e depois dormia. Por que com os seres humanos não podia ser assim? Por que nos tínhamos que nos apaixonar por alguém?
Olhou no relógio, ele marcava exato meio dia. Umas horas mais tarde ela iria entrar no plantão de 24 horas. E sinceramente não se sentia preparada para tal coisa. Lidar com pessoas doentes, debilitadas e carentes só iria piorar a situação. Lilian trabalhava no hospital municipal da cidade, enfermeira chefe da emergência. Já não era fácil ver as pessoas naquele estado, imagina do jeito que ela estava. Sempre foi forte o suficiente, nunca chorou e nem teve descontrole emocional. Mas, tinha certeza que aquele plantão seria difícil.
Colocou Joey no sofá e foi arrumar suas coisas do trabalho. Passar o jaleco, checar aparelho de pressão e limpar o estetoscópio. Sempre deixava para o ultimo dia para que tivesse algo a fazer até chegar a hora de ir para o hospital. Deixou tudo pronto, tomou um banho e foi almoçar.
Quando entrou no carro e olhou no painel, estava quase na reserva. "Droga" pensou. "Era para ter abastecido ontem". Lilian então, teve que atrasar seu almoço para ir abastecer. Foi no posto que sempre ia, que alias toda sua família ia. Já era amiga do dono há muito tempo e ele sempre dava um desconto quando a gasolina estava muito cara. Parou na primeira bomba que achou, desligou do carro e desceu. Ela disse o quanto queria de gasolina e foi comprar uma Coca na conveniência.
Enquanto procurava por uma latinha mais gelada, percebeu que alguém se aproximava dela. Lilian virou a cabeça para olhar quem era e quando viu seu coração acelerou.
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The One That Got Away
RomanceLilian é enfermeira chefe da unidade de Urgência e Emergência do hospital da cidade. Por mais que ela mostre ser uma pessoa feliz e realizada, esconde um grande sofrimento. Já faziam 6 anos que ela havia aceitado que nunca teria o homem que amava e...