Bicolor

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   Nós subimos um lance de escadas e passamos a divisão sala-cozinha. Subimos outro e atravessamos o andar superior a passos ruidosos, então subimos mais, chegando ao sótão.

   Era lá seu quarto. Eu entendia sua escolha, apesar de já tê-la perguntado o porquê.

   É aconchegante, e eu posso ficar aqui por muito tempo e nunca me cansarei, disse rindo enquanto entrelaçava seus dedos nos meus. Lembrei de meu questionamento.

   O quarto tinha um formato quase triangular, culpa do teto baixo. Mas era um espaço bom e bem aproveitado. Havia sua cama de casal, de frente a esta a TV, prateleiras, um guarda roupa, uma escrivaninha com uma cadeira feita de ursinhos de pelúcia, uma mesa de cabeceira, uma janela e por incrível que pareça, um banheiro. Praticamente uma suíte.

   As prateleiras eram repletas de livros, em maioria terror, poesia e filosofia, ficção científica, entretanto mais da metade era sobre feitiços, bruxaria, Wicca e religiões afins, além de teorias sobre percepções extra-sensoriais, por exemplo, e vários assuntos relacionados. Havia também outras com CDs diversos, muitos alternativos. Outra com DVDs, cults, terror, suspense, mistério e animações.

   Espalhado por todas as paredes haviam papéis, com desenhos, frases, códigos, tudo. Fotos e pôsteres também se faziam presentes. Amy Winehouse, Marilyn Monroe, Elvis Presley, Angelina Jolie, Lana del Rey. E também de suas séries, bandas e outros artistas favoritos.

   Ela agarrou a maçaneta e empurrou porta. Em um curto período de tempo, pude reparar que sobre o aparelho de DVD estavam os filmes Donnie Darko e Coraline e o Mundo Secreto e a capa de Natural Born Killers, o disco estava dentro do tocador, e em frente a estes, dois puffs fofinhos que costumavam permanecer ali.

   Só soltou minha mão quando estava ao lado de sua cama, na frente da mesinha. Sobre ela eu vi o abajur habitual, e a seu lado, além de uma agenda -que era quase seu diário, onde escrevia frases que gostava, textos próprios e praticava suas artes- acompanhada de uma caneta com um enfeite de coelhinho na ponta, o livro ilustrado de Alice no País das Maravilhas.

   Agachou-se e colocou algumas madeixas do cabelo curto atrás da orelha, abriu a gaveta.

   Havia várias tralhas lá dentro, mas ela sabia exatamente o que estava procurando.

   Tirou de lá um estojinho em forma de concha, cor de rosa, abrindo-o se encontrava um pequeno espelho.

   Me questionei o porquê de ela não ter simplesmente ido até seu banheiro, mas rapidamente abandonei o pensamento.

   Seus olhos procuram a imagem refletida, finalmente se fixaram nela.

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37 segundos

   Pôde-se ouvir um grito fino e agudo, como o de uma Banshee, e então Moon jogou o espelho no chão com muita força.

   Vários caquinhos refletiam pelo piso de madeira.

   Ela olhou para mim, estava assustada.

   Seus olhos, um azul cobalto e o outro verde esmeralda, brilhavam para mim, frágeis.

   E então ela sorriu, um sorriso literalmente maior do que seu rosto poderia suportar. Seus dentes estavam perturbadoramente afiados e brancos.

   Ela avançou com os dentes compridos a mostra

e me puxou para si.

   Era alguns centímetros menos que eu, ficou na ponta dos pés e envolveu meu pescoço com os braços.

   Hesitei, mas agarrei sua cintura fina. O que isso significa, Lunae?, sussurrei em seu ouvido.

   Ela se desvencilhou de meu abraço bruscamente, fazendo biquinho com os lábios e cerrando as sobrancelhas grossas.

   Parecia uma criancinha, abafei uma risada. Ela odiava seu nome.

   Sorriu para mim, maliciosa. Eu já estava confusa a essa altura.

   Subitamente, eu me lembrei.

   Eu havia lembrado.

   Mas como? Seus ohos...

   Verdes? Azuis? Ambos?

   Castanho-dourados...?

   Ela já havia passado por isso. Ela sabia o que estava acontecendo.

   Mas meus pensamentos, ou melhor, lembranças, foram dispersos pela visão de Moonlight deslizando o short jeans -que era a única peça de roupa que vestia além de sua calcinha, que eu já podia ver, e uma fina camiseta preta, na qual o comprimento chegava quase até os ossos salientes das costelas- pelo quadril. Este jazia no chão e ela ainda não desgrudara os olhos de mim. Famintos.

   Porém, naquele momento eu simplesmente não ligava para nada além dela.

Crescent Moon's WitchOnde histórias criam vida. Descubra agora