Capítulo 2 - Punição Divina

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P.O.V Carter

Ela era, em todos os sentidos, uma bruxa. Eu já estava cansado de correr naquela maldita floresta. Eu ofegava, meus pés estavam sangrando, e já sentia minha pressão baixando. Eu gostaria muito de parar de correr da minha própria mãe, mas, eu não podia fazer nada se ela queria minha cabeça - mas, àquela altura, acho que até a da minha irmã serviria - para um tipo de bruxaria. Eu segurava fortemente a mão de Alyson enquanto a mesma corria aos tropeços tentando acompanhar meu ritmo. Cheguei a pensar que tínhamos despistando minha mãe, então parei por um momento. Mas, tudo que pude sentir foi ela puxando meu cabelo e o de minha irmã como se fosse a coisa mais prazerosa do mundo.

Eu ainda tinha meu arco e minhas flechas. Ainda tinha meus crucifixos. Todos os litros de água benta, sal grosso, todos os salmos decorados...

Mas, eu não queria usá-los.

Eu não podia usá-los.

Mas, bem feito para mim. Ninguém mandou falhar na primeira caça, não resistir a tentações carnais e principalmente, dar uma segunda chance para a minha mãe. Sinceramente, acho que essa minha personalidade de trouxa, ainda irá me matar qualquer dia desses. E eu não poderei fazer nada. Isso foi a mais de dois anos. Eu era o melhor aluno, o mais ágil, o mais forte e o mais avançado. E então, a fase final chegou, e eu simplesmente me rendi à coisas que eu nunca imaginei existir. Sensações novas, dores novas... Pecados novos. Eu sou um Canibal-Impuro e não posso fazer nada em relação a isso.

Enquanto eu escutava os gritos de dor de Alyson, resultantes dos puxões agressivos que ela dava em ambos, tentei reagir em vão. Por sorte, eu guardava comigo uma espécie de facão e silenciosamente avancei sobre o braço dela. Automaticamente, ela soltou a mim e a Ally. O ato seguinte possivelmente me traria terríveis consequências, mas eu não poderia deixar ela morrer nas mãos desse monstro. Enquanto empurrava minha mãe contra o chão, abria minhas asas e assim que segurei Alyson no colo, levantei voo.

Podia ver minha mãe se contorcendo de dor no solo, mas meu instinto de sobrevivência falou mais alto. Enquanto eu voava para o internato em que eu e Ally estudaríamos​, pensei em quanto tempo levaria para as asas sumirem novamente. Mas, quando eu estava a aproximadamente três metros do chão, elas simplesmente desapareceram e nós dois caímos no telhado do prédio dos nossos dormitórios. Senti minhas costas latejando de dor, e logo em seguida, uma sensação de queimação predominou todo o meu corpo.

Eu lembro.

Agora eu me lembro.

Toda a vez que eu utilizava um pedaço dos céus, provava também​ uma parte do inferno. Comecei a arfar e a ofegar enquanto prendia os gemidos de dor para não chamar a atenção de ninguém e me debatia contra o piso de concreto. Aquilo durou cinco minutos. Minha irmã observou tudo assustada. Apenas me recuperei de minha crise de tosse e sorri.

Entramos cada um em seu dormitório, e, assim que entrei no meu, encarei a cama vazia do outro lado do quarto. Meu colega de quarto só chegaria amanhã, e, eu não estava nervoso por causa disso, mas eu também não tinha boas impressões sobre essa pessoa.

Caminhei lentamente pelo quarto já começando a sentir o peso da fadiga e do desgaste me atingir. Vasculhei minha mochila e peguei minha adaga. Não importava quanto tempo havia se passado, aquela lâmina feita do mais puro ouro sempre me atraía. Passei a mão sobre os símbolos. Uma oração antiga, que poderia resultar em algo que nem mesmo eu sabia. Sentei na cama e suspirei.

Por um momento, tudo se passou como um flash em minha mente.

Meu nome... Terry Carter Baker. Um nome horrível, na minha opinião. Nasci entre humanos, minha mãe teve um parto normal, e então, quando eu tinha apenas sete dias de vida, ainda no hospital, fui arrebatado. Os anjos cuidavam de mim. Lembro do próprio Criador cuidar de mim. E então, eu cresci. Comecei a estudar as escrituras, a língua dos homens e a língua dos anjos. Treinei por anos, até descobrir que eu havia ganhado uma irmã, assim como eu, porém uma Canibal-Sanguinária. Faltavam apenas alguns dias, para que eu começasse o teste final. Mesmo assim, supliquei ao meu treinador para que eu pudesse finalmente conhecê-la e passar um tempo com minha mãe. O próprio criador tinha me alertado sobre isso. Eu sabia que ele estava certo, mas, eu não quis ouvir.

O Anjo NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora