O Jantar

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Acordo suada e com os olhos ardendo, estranhamente não me lembro o que sonhei noite passada e encaro isso como um bom sinal. Me levanto e me olho no espelho, prendo o cabelo com um elástico, escovo os dentes e fico encarando o meu reflexo tentando lembrar o que sonhei, não consigo. Começo a me lembrar do dia em que conheci a Amanda, eu sempre fui completamente apaixonada por chocolate e sempre que saia do trabalho, passava na loja de conveniência do bairro pra comprar alguns. Estou na sessão decidindo quantos vou levar e ouço um garotinho vir correndo na minha direção e parar ao meu lado, ele pede __ tia pega esse chocolate pra mim? Eu olho do chocolate pro menino, pego e entrego a ele.                                  __ ítalo, quantas vezes vou repetir que chocolate hj não?    Eu fiquei olhando pra ela com a minha boca aberta sem saber o que dizer e sem prestar a mínima atenção na birra do garotinho.                                       __ desculpe, eu não sabia que ele não podia comer.
__ tudo bem, não é culpa sua.
__ ahn é ...
__ prazer Amanda.
Ela diz esticando a mão pra mim, eu não sei exatamente se pego a mão dela ou se saio correndo, o meu coração tá muito acelerado.
__ prazer Luci.
__ esse é o ítalo, fala oi filho.
Ela diz sorrindo, ele sorri pra mim.
__ oi.
Ele diz, ela me dá um xauzinho e vai embora sorrindo, e eu fico parada olhando ela ir.
A Amanda é muito diferente das mulheres que eu já conheci, ela tem olhos castanhos e o cabelo tão negro quanto a noite, a sua pele muito branca e um sorriso enigmático que prende a atenção de qualquer um. O pequeno ítalo não é muito diferente, tem os cabelos da mãe e um cacheado fofo.
Lavo o rosto e me preparo para o meu dia, resolvo ir ao salão de beleza, lavar os cabelos e fazer algo nas unhas, não saio a algum tempo e acho que preciso estar apresentável pra sociedade. Visto o meu vestido preto no joelho, e saltos discretos. Segundo as minhas amigas eu vivo de luto, mas no fundo eu só não quero chamar a atenção de ninguém.
Passo na loja de conveniência do bairro e escolho um bom vinho para a senhora Sanches, acho que seria legal levar algo. Chego na casa e fico impressionada com tamanha beleza, é uma casa no estilo clássico, mais afastada da cidade. A família Sanches sempre foi a mais rica de toda a cidade e o meu escritório é quem cuida das questões jurídicas da sua empresa. Desço do carro e passo a mão no vestido, sinal claro do meu nervosismo, quem atende a porta é a Elisa, visivelmente alterada.
__ Boa noite minha heroína.
__ Boa noite Elisa.
__aceita um drink?
__ não obrigada.
__ a minha mãe está esperando por vc.                                            Ela diz e faz uma meia reverência, aquilo acaba soando meio ridículo.
Entro e me dirijo a sala de estar, ainda admirando a casa maravilhosa.
__ Boa noite Luci querida.
Diz a senhora Sanches me dando um beijo no rosto e um abraço caloroso, a senhora Sanches é como toda mãe deveria ser, baixa, magra, de olhos claros e bondosa.
__ eu trouxe vinho.
Digo dando um sorriso fraco, comprimento o senhor Sanches e Daniel, o filho caçula da família.
Um jovem de 15 anos com um sorriso bonito.
A Elisa fica parada no canto da sala olhando cada movimento que eu faço, e me sinto desconfortável com o seu olhar.
Ela é muito diferente dos outros de sua família, além de ter olheiras assim como eu, ela tem os cabelos ruivos brilhantes e lindos, corpo magro e ágil. Me sento ao lado dela na mesa, ela não para de beber desde que eu cheguei, Já vi que terei uma noite longa. O assunto da noite gira em torno das questões jurídicas da empresa, algo que me deixa confortável para falar. A senhora Sanches me conta sobre as conquistas de Daniel como jogador de futebol no time da escola. Eu o parabenizo pelo seu desempenho, e a conversa se volta para a Elisa, a garota problema da família.
__ vc gosta de arte Luci? Pergunta a senhora Sanches.
__ ahn bom... Não é um assunto que eu domino, mas admiro o que é belo.
Respondo meio sem jeito.
__ a Elisa fazia história da arte em Paris, ela é apaixonada por história.
Diz Daniel orgulhoso da irmã.
Ela olha pra ele e não diz nada, na verdade ela não dá uma palavra durante o jantar. Terminamos o jantar e nos  dirigimos para a sala, conversamos um pouco e me despeço de todos, agradecendo mais uma vez a senhora Sanches pelo convite e pelo esplêndido jantar.
Não vejo a Elisa para me despedir, vou embora assim mesmo.
No jardim quando estou entrando no carro ouço alguém se aproximar depressa, me viro e vejo a Elisa vindo em minha direção rápido demais e cambaleando de uma forma estranha.
__oi tá tudo bem?
Pergunto sem ter certeza se quero uma resposta.
Ela da um sorriso debochado e me beija, um beijo quente e urgente, eu fico parada mas acabo retribuindo aos poucos, o beijo dela tem gosto de vinho, o que me faz perceber que ela está completamente bêbada. Empurro ela devagar e olho confusa para ela.
__ você não devia beijar as pessoas sem permissão.
Digo começando a ficar irritada com a situação.
__ vc não devia ser tão reclamona.
Ela responde sorrindo e tenta me beijar de novo, o senhor Sanches aparece para salvar a noite e a leva para dentro.
Dirijo pra casa lembrando da ladra de beijos bebada, ela podia estar bêbada, mas deixo escapar um sorriso bobo ao lembrar do seu beijo.

Existe Vida Após AmandaOnde histórias criam vida. Descubra agora