Abro a porta do quarto com cuidado e entro na ponta dos pés, na tentativa de não fazer barulho.
- Skye? - ela pergunta com a voz fraca, virando-se em minha direção.
- Não queria te acordar... - me sinto culpada
- Não me acordou.
- Só passei para ver como estavas. Se sentindo melhor?
Eu caminho em sua direção e paro em frente à sua cama. Ponho minha mão sobre a sua.
- Pra falar a verdade? Não. Sinto como se meus pulmões pesassem cem quilos cada um. É difícil de respirar, e meu corpo todo dói...
- Você vai ficar bem. - garanto à ela.
A porta de madeira branca do quarto se abre novamente.
- Boa tarde, senhorita Walker. Veio visitar sua amiga?
- Boa tarde, Dr. Cullen. - sorrio simpática. - Vim sim. - repondo o óbvio.
- Que bom. Isso é ótimo. Precisava mesmo falar com você. - ele diz e eu congelo. - Como sabe, você é a pessoa mais próxima de Lisa no momento, então... Achei melhor contar isso somente sua presença, para vocês duas decidirem o que fazer juntas, já que a senhorita acaba de fazer 18 anos.
Sinto minhas mão começarem a tremer e meu corpo ficar tenso. Ela me encara também preocupada com o que vem a seguir.
Lisa foi abandonada pela mãe quando bebê e, ao crescer, passou a apanhar do pai. Então, a justiça o tirou a guarda de minha miga após uma denúncia nossa. Ela levou tempos parar ter coragem o suficiente para denunciar o mostro que ela um dia chamou de pai. Minha família a acolheu de braços abertos, mas na verdade, ela só tem à mim.
- Senhoritas, posso prosseguir? - o médico pede com educação, me tirando de meus devaneios. Tyler Cullen é ótimo como médico e pessoa. Ele é extremamente focado no que faz. Desde que minha amiga internou aqui, ela a trata muito bem, dando toda atenção possível ao seu caso. Gosto dele e não posso negar que sua aparência também chama atenção. Tem em torno de trinta anos. Consideravelmente jovem para a profissão, mas isso não o atrapalha de forma alguma. Tem mais ou menos 1,80 de altura. Olhos claros, num tom de azul esverdeado. O cabelo loiro em um topete bagunçado. Não pode se dar ao luxo de perder duas horas de seu precioso tempo apenas arrumando o cabelo. Ele usa esse horário para estudar melhor cada paciente e lhes dar a atenção devida, como faz com Lisa. É inteligente, bonito e agradável. Impossível não gostar de Tyler.
- Pode. Pode prosseguir. - passo as mãos no rosto, preocupada.
- Tudo bem. - ele sorri simpático, mas dava para perceber evidentemente que aquele sorriso escondia notícias ruins - Lisa, seu coração não vai bem. Nós fizemos a cirurgia de reparação e um tempo depois, uma de troca de válvulas. Mas... Quando arrumamos um lugar, o outro cede. Seu coração está em cacos. Literalmente. Ele está em ruínas. Ele não serve mais para você, então... Precisamos de uma nova cirurgia. - ele pousa os olhos sobre ela, com tristeza. - Um transplante cardíaco. Eu preciso te falar sobre os riscos do procedimento. O principal, é que você pode rejeitar o órgão. E, assim como nas outras cirurgias que fez, você sabe que algo pode dar errado e você pode...
- Morrer. - ela completa, entediada. Realmente já havia passado por isso antes.
- Sim. Principalmente pelo fato de que seu corpo ainda está frágil e os órgãos e estruturas desgastados. O risco de as coisas darem errado é bem maior.
- E se eu não fizer o transplante...? - ela arqueia a sobrancelha
- Bem, seu coração logo irá falhar e você vai...
- Morrer. - Lisa completa novamente
- É. - ele diz simplesmente
- Quanto tempo eu teria. Sabe... Se eu não fizesse a cirurgia?
- Duas semanas. Três, no máximo.
- Duas semanas. - ela repete consigo mesmo.
- Lisa, você... - eu tento iniciar, mas minha voz falha. Por sorte, ela me interrompe
- Então se eu fizer a cirurgia, eu morro, e se eu não fizer, eu também morro. É isso?
- Os risco são altos, mas eu recomendo que você faça, já que...
- Eu vou morrer, né? Mas se eu fizer a cirurgia, talvez ainda viva algum tempinho a mais para incomodar Skye. Certo? - só queria entender como ela consegue ser divertida assim mesmo sabendo que pode morrer.
- Certo. - o médico ri.
- Então... Acho que não há dúvida. Vamos colocar um coração novo em mim. - ela sorri sinceramente.
- Skyller...? - Cullen procura minha aprovação
- Eu quero que minha amiga viva. Se essa é sua melhor chance, então... Vamos colocar um coração novo nela! - também sorrio, e logo, Tyler repete o ato. Eu abraço Lisa. Digo que preciso ir, pois tenho um compromisso, mas que à noite passo aqui novamente. Me despeço de minha amiga com um beijo em sua testa.
- Vejo você mais tarde. - caminho em direção à porta, abrindo-a
- Senhorita Walker, podemos conversar? - Dr. Cullen pede
- Claro. - desconfio.
Ele fecha a porta atrás de nós e me analisa.
- Posso primeiro te agradecer? - sorrio
- Acho que é um pouco cedo. Lisa ainda tem que passar pela cirurgia e pela recuperação... Ela tem que não recusar o órgão e...
- Eu quero te agradecer pela sua dedicação, seu bobo.
- Ah, então... Aceito um abraço. - ele sorri e meio desajeitado, me abraça. Acho que ele não esperava por isso, mas, eu fixo meus braços ao redor de seu tórax e apoio a cabeça em seu peito. Começo a chorar desenfreadamente. Sinto as lágrimas escorreram de meus olhos e ensoparem o tecido de sua camisa.
- Eu não quero que ela morra. - desabafo - Ela é minha melhor amiga. Ela é parte de minha família, sabe. Eu não quero que ela morra, Tyler. - afasto o rosto e enxugo as lágrimas com a palma das mãos - Dr. Cullen - me corrijo
- É Tyler, sim. Pode me chamar de Tyler e... Lisa vai ficar bem. Mais que bem. Vai dar tudo certo e ela vai ficar melhor do que era antes. Ela vai ficar ótima. - ele me consola
- Okay... - tento me recuperar. - Você disse que queria falar comigo. É sobre minha amiga?
- Não. Pra falar a verdade, não. - ele passa a mão pelos cabelos bagunçados. - Queria saber se... Ah. Esquece. Deixa pra lá. Vamos focar em Elisabeth. Ela precisa de toda a atenção possível.
- Diga o que quer dizer.
- Não. Está tudo bem. Outro dia conversamos melhor. - ele sorri.
- Eu volto de noite. Você estará aqui? - pergunto
- Pra sua sorte ou azar... Sim. - brinca
- Sorte. Com certeza sorte. E... Desculpe por molhar sua blusa.
- Capaz. Não foi nada.
- Então... Até de noite, Dr. Cullen. Estou atrasada para um compromisso. - lembro de Jared, que deveria estar me esperando na lancheria. Eu não previa que teríamos essa notícia do transplante para lidar.
- Certo. Nos vemos de noite, então. - ele se despede e seguimos por caminhos diferentes.
Eu dou uma apertada no passo. Olho o horário em meu celular. 16:00. Estou mega atrasada. Ainda bem que o local marcado não é muito longe daqui.
Acho que vou aproveitar que estou com o celular em mãos e vou mandar uma mensagem para meu amigo desconhecido, que agora não é mais tão desconhecido assim.
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Messages | Jared Leto
Fiksi PenggemarUma vida pacata, em uma pacata cidadezinha do interior. Até ela receber uma mensagem de um desconhecido. Ele trará para ela, uma nova forma de viver a vida