Prólogo

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Você não entende...

Essa é sua última vez.

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Em sua primeira vida, não tinha nome.

Era um felino selvagem que precisava matar para continuar vivendo. Como a maioria de sua espécie, sozinho. Não havia sequer um contato com outros animais que não resultasse em confronto ou tensão.

Um dia, o predador.

No outro, caça.

E foi assim que a primeira encarnação de seu espírito morreu...

Nas mãos de outro felino de sua própria espécie:

Um leopardo.

oooo

Em sua segunda vida, nasceu tigre.

Dessa vez, teve um nome: Fiha.

Ele era bem alimentado por monges e recebia carinhos diários, além de ótimos banhos e passeios.

Apesar de não caçar, tornou-se um animal forte e musculoso, o alfa de sua matilha de tigres de bengala, porém dócil com os monges.

Dentre todos os anos ali, não houve uma força capaz de feri-lo e Fiha nunca conheceu o medo ou a dor.

Era um adulto forte quando um câncer no cérebro o acometeu.

Os monges fizeram tudo, mas não o suficiente.

Perderam Fiha e espalharam suas cinzas por uma das enormes quedas d'água onde o bicho gostava de se banhar.

ooooooo

Na terceira vida, conheceu a dor, o medo, a solidão e o terror.

Viajando constantemente, era um leão magro e domado à ferro e fogo, sempre preso em uma pequena e fétida jaula de 2mx2m.

Ele não bebia nem comia há pelo menos vinte e quatro horas e sabia que quando a refeição finalmente chegasse, seria o resto dos humanos misturado com todo tipo de dejeto que eles achavam apropriado para um animal de seu porte comer.

Mas um quilo e meio de comida não eram nada e o Leão Dundeon estava morrendo de anemia, de fome e tristeza.

E ninguém notava isso.

Ninguém exceto Loren, a anã que, também como escrava, era mostrada no show de horrores. Ela percebeu Dundeon definhar e naquela madrugada, aproximou-se da jaula com olhos lacrimejantes.

― Eu sinto muito, Dundeon.

O animal, estirado no chão frio, teve força apenas para direcionar os globos oculares e focar Loren.

Não a entendeu, não falava a língua humana.

A língua de Dundeon era uma que ele nunca falou, já que jamais vira outro como ele na vida.

Os grandes pulmões tomaram uma respiração profunda, e diante dos olhos da anã, Dundeon fechou os olhos pela última vez.

oooooo

Na quarta vida, havia algum karma acumulado sob o espírito reencarnado em um gato doméstico. Suas primeiras memórias eram de mamar em uma das doze tetas de sua mãe. Era um siamês peludo e fofo que caíra na graça de uma família inteira.

Como um gato nascido nos castelos reais da Inglaterra, foi nomeado "Príncipe", pois fora o único macho de uma ninhada de cinco.

Passou a infância correndo pelos enormes corredores e viu suas irmãs morrerem de varias formas diferentes.

Nove Vidas - (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora