Quando finalmente avistaram uma enorme e pesada porta, Kamelya não hesitou para abri-la. Era fim de tarde e ambos tinham ciência de que ainda havia um longo caminho pela frente se o que queriam era despistar a maior agencia de inteligência mundial da atualidade.
Eles atravessaram aquelas portas como se fosse um portal.
De certo modo, era, pois quando Kamelya olhou para fora e realmente teve uma visão do que existia, ela deu de cara com uma enorme floresta, os rodeando de todos os lados.
― Onde diabos... Estamos?
― Archuleta Mesa. ― Zankiel saiu. Os coturnos colidindo contra a terra. ― Deve ter alguma estrada-
― Deve ter? E se não-
― Tem uma estrada. ― Encarando-a levemente impaciente, ele se retificou com rapidez. ― Vamos. ― Não queria perder tempo em terreno aberto, mas Kamelya, que continuou parada, parecia não entender isso.
― Possivelmente existe um satélite enviando imagens nossas para alguma central de comando nesse exato momento, vamos logo Kamelya.
― Como sabe que tem uma estrada? ― Mas a morena permaneceu parada no mesmo lugar, encarando-o obstinadamente.
― Você não percebe porque esteve a vida inteira dentro de uma gaiola. ― A alfinetada pegou Kamelya em cheio. ― Mas isso claramente é um local de corte de árvores para comercialização de madeira. Caminhões devem passar por perto, então uma estrada se torna lógica.
― Tudo bem... ― Ela não queria aceitar que, o que o homem dissera fazia total sentido e pior ainda, era completamente possível. ― Talvez possa ter razão.
― Talvez?
― Não estou vendo nenhuma estrada. ― As sobrancelhas grossas se inclinaram para baixo e as mãos femininas se apoiaram na cintura de maneira sarcástica. A expressão de Kamelya fez Zankiel ter vontade de rir. ― Você vê?
E ele riu, levemente, antes de apontar para uma grande árvore ao lado.
― Posso ver. ― Disse, e ela entendeu imediatamente.
― Não precisa subir numa árvore. Eu... Posso levitar você.
― Tudo bem. ― Omitindo uma expressão surpresa, Zankiel cruzou os braços. ― Uns vinte metros deve bastar. E Kamelya... ― A pausa fez um calafrio percorrer a espinha dela. ― Não me exploda.
― Eu não vou. ― Foi como uma jura. E para o homem, que tinha usado um tom divertido, surtiu um efeito bem parecido com o de um furacão destrutivo. Ele engoliu em seco e aquele olhar persistente que praticamente o impedia de respirar era quase um vortex para dentro da alma de Kamelya.
Zankiel rangeu os dentes. Ele estava caindo como um pato e via isso com tanta clareza que chegava a ser desprezível.
― Prometo.
E então, no segundo seguinte, levitou; no início um pouco desajeitado, porque secretamente Kamelya nunca tinha levitado ninguém antes, pelo menos não proposital e cuidadosamente, mas logo o homem foi mandado para o alto tão rápido que ele quase gritou, desacostumado com a sensação de perder totalmente a gravidade que o mantinha preso ao chão.
Quando deu por si, voando, vendo Kamelya lá embaixo tão pequenininha, o coração falhou uma batida.
Ela era realmente diferente de tudo que já tinha visto em sua longa vida. Poderosa, inteligente, carismática, e linda... Ourak carregava um espírito raro, senão único. Zankiel tinha quase certeza sobre o fato de não haver nada naquele mundo sequer parecido com Kamelya. A menina crescia cada dia mais forte e era divertidamente macabra, além de estar em fuga por um propósito que, de certa forma e querendo ou não, enobrecia os sentimentos que nutria por ela.
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Nove Vidas - (COMPLETO)
ParanormalKamelya Ourak praticamente nasceu dentro de uma base militar. Seus pais, incapazes de deixá-la, também. Ela passou anos sendo estudada por um cientista brilhante e uma equipe igualmente incrível. O governo dispunha de todo o mecanismo exigido para q...