EPILOGUE: all the colors

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Conheci Min Yoongi com oito anos de idade. Inicialmente não nos dávamos tão bem, porém com o tempo isso mudou. Talvez os motivos das desavenças iniciais fossem as diferenças de personalidades. Min Yoongi era como um pequeno sorvete. O garoto baixinho, de olhinhos e bochechas redondas tinha um semblante constantemente desinteressado, e isso o tornava um pouco intimidador. Ele não tinha muitos amigos mesmo depois de meses que havia se mudado para a casa ao lado da minha, e consequentemente, a mesma escola. Íamos de ônibus, então consequentemente juntos, todos os dias para a aula. Nunca havia visto Min Yoongi sorrir. Seus pais me disseram que era apenas o jeito dele, apenas sua personalidade fria, e que ele era assim desde criancinha, mas eu não conseguia aceitar isso. Como poderia alguém tão doce quanto ele mal conversar?

Porém nossos destinos só realmente se cruzaram em uma tarde de sábado quando passei em frente à sua casa e não consegui sair dali devido à cena mais encantadora que já vi em toda a minha vida. Fora alguns dias depois de meu aniversário de doze anos, e eu realmente havia tentado me aproximar dele nos últimos anos, mas sem muito sucesso. Ele continuava fechado, reservado demais. Mas quando vi aqueles pezinhos pequenos correndo pela grama, segurando nas mãos de sua mãe, enquanto os cabelos escuros eram molhados pela água esguichada pelos irrigadores de grama, quando vi o vestido rosa claro -agora molhado- se grudando ao seu pequeno corpo, e ouvi suas risadas delicadas enquanto ele se concentrava inteiramente em se divertir, eu decidi que não iria desistiria de conhecê-lo melhor.

Com muito custo consegui me aproximar, lenta e gradativamente. Ele desfez suas defesas e abriu seus braços para mim, me aceitando em seu mundo totalmente cheio de cores. Ele era realmente como um sorvete, parecia apenas frio, mas se você provasse o suficiente dele, perceberia sua doçura viciante. Aprendi que ele gostava de todos os tipos de roupas, por isso quando tinha vontade, se vestia com laços e vestidos rodados, mas evitava que qualquer um o visse daquela forma. Segundo ele, roupas não possuem gênero, mas as pessoas são estúpidas demais para aprender coisas simples como essa. Nos anos seguintes, ele sempre esteve comigo. Mesmo quando usava roupas "de menino" ele optava por cores claras e doces, assim como ele próprio. Min Yoongi esteve em todos os momentos da minha adolescência. Min Yoongi fora meu primeiro beijo, minha primeira transa, meu primeiro porre. Apesar de dizer sempre sobre não estar pronto para um relacionamento, Min Yoongi fora o primeiro e único que dormira comigo quando me senti mal. Era sua janela à qual eu escalava para vê-lo quando estava de castigo.

Até que ele fez dezesseis anos.

Até que sua família se mudou.

Até que ele se apaixonou.

Senti meu coração escorrer entre meus dedos, tudo que eu havia sentido nos últimos anos havia sido em vão.

Ele mudou de escola.

Ele sumiu por anos.

Eu me tornei quieto. Me tornei tão magro, que poderia quebrar a qualquer momento. Me tornei alvo de bullying. Minha aparência era instável, e minha saúde mais ainda. Me tornei alguém anoréxico. Me tornei frio, até que vi cores novamente quando vi um garoto de roupas tem tons claros entrar em minha sala. E lá estava eu, Jung Hoseok, apaixonado novamente por alguém que possuía lindas cores. Descobri que Taehyung era azul. Azul em sua alma, azul em sua personalidade. Era calmo, era refrescante apesar de triste. Apaixonei-me profundamente por um mar raso.

Algum tempo depois vi minha atual paixão e meu amor antigo se colidirem. Vi Yoongi retornar, com seus cabelos verdes e seu sorriso doce, com suas roupas cor de rosa e suas meias ¾. Vi sua imagem refletida no garoto da minha escola, vi meu coração se partir em dois, e sofrer profundamente por duas pessoas. Contei sobre meus sentimentos por Taehyung para Yoongi, em cada detalhe. Como me sentia, como ele se sentia, o que acontecia. Mas Yoongi não me apoiou. Por ciúmes. Por observar bem como Taehyung me matava aos poucos. Por ver minha saúde, ver a obsessão na qual essa paixão inconsequente havia se tornado. Ele não se afastou novamente, em momento algum. Como há anos atrás, novamente eu apareci em sua casa durante a madrugada, porém dessa vez para chorar. Yoongi morava agora sozinho em um pequeno apartamento próximo à minha casa que havia ganhado de seus pais e que, algum tempo depois, viria também à ser meu lar. Tinha dezoito anos e estava encantador como sempre fora. Os olhos redondinhos, a boca rosada e a pele pálida.

Eu sabia que jamais amaria alguém como amava-o. Não, Yoongi sempre seria meu primeiro amor. E único. Minhas paixões não tinham nada a ver com o amor que eu sentia por ele. Eu queria protegê-lo, como fizera quando ele chorava na escola, por ser atormentado pelos garotos e garotas mais velhos, que se sentiam bem importunando-o apenas por ele ser mais delicado que os meninos "normais". Passei um fim de semana internado em um estado deprimente, com suas pequenas mãos acariciando meus cabelos enquanto minhas veias eram preenchidas com soro, e meu corpo extremamente magro permanecia praticamente imóvel ali naquele hospital. Eu estava morrendo por dentro e estava matando meu pequeno príncipe junto comigo. Os olhos inchados e rodeados por olheiras de Yoongi admitiam seu cansaço e tristeza, por mais que ele sorrisse para me animar. Eu decidi que me tornaria quem eu era novamente. Me tornaria o Hoseok que Yoongi conhecera, em quem aprendera a confiar.

Hoje, três anos após deixar toda minha antiga vida para trás, conheci a real felicidade. Escrevo essas poucas palavras enquanto vejo o meu pequeno arco-íris dançar sob a luz fraca da nossa pequena sala de estar. O vestido fino de seda branca que usou durante todo o dia gira suavemente no ar, junto com seu corpo, as meias com babados branco e dois grandes laços na parte de trás das coxas branquinhas e fartas, o cabelo loiro e curto, que se mexe a cada movimento. Ele está sorrindo como nunca sorrira, e eu? Apenas escrevo isso para deixar guardada essa memória que talvez apenas eu soubesse para sempre se não o fizesse. Escrevo para eternizar meu prisma que se move lentamente ao som da música calma, enquanto ergue a mão esquerda contra a lâmpada do grande abajour cor de rosa que ele mesmo escolheu.

Ele observa a aliança de ouro rosê brilhar contra a iluminação enquanto sorri, com as bochechinhas delicadas totalmente coradas, e volta novamente a dançar. Eu poderia passar horas e horas falando sobre o quão encantador ele é, sobre tudo que amo nele, sobre tudo o que planejo, mas eu fiz isso há três anos atrás. Resumi toda a minha paixão, toda a minha devoção por ele em uma única frase. E nunca vou me arrepender de um dia ter me apaixonado e sofrido por Kim Taehyung, pois ele me abriu os olhos para o fato de que, sem Min Yoongi, meu coração vai estar sempre incompleto.


Você é meu spectrum.Você é meu prisma.E você é e sempre serácada uma das minhas cores.

THE END

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