Boneca de Vidro

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Samantha suspirou profundamente.

Mais do que ansiedade, ela sentia o medo crescente.

"Vamos, boneca." ouviu a mentora chamar, do andar de baixo. Levantou-se, pegando a bolsa pequena onde estavam os remédios.

Sua saúde era frágil, apesar do corpo bem treinado e a mente clara.

Ela deu uma última olhada para o quarto. Tudo era branco, como os quartos de hospitais, até o cheiro de limpeza era parecido. Mas ela não podia evitar sentir saudades, já que dormira naquele quarto por 17 anos.

Descendo as escadas, olhou para sua mentora. A mulher que a criou desde bebê, que ainda mantinha a mesma aparecia de seus 23 anos. Foi naquela idade que ela parou de envelhecer, afinal. Os olhos vermelhos-sangue observavam atentamente a garota descer as escadas.

"Logo eu vou parecer mais velha que você, Amélia." A garota murmurou, agarrando a arça da mala azul ao final da escada, e indo até a mulher.

"Você vai parar de crescer logo, Boneca. É assim com todos nós."

"Mas eu não sou como você."

"Não vamos discutir isso novamente, Samantha." Era óbvio que Amélia encerraria aquele assunto, mesmo que a garota estivesse certa.

Amélia era a mentora designada a cuidar e proteger Samantha, que, por sua vez, era a filha mestiça de um líder de uma alcateia.

Amélia era uma vampira, e Samantha, filha de um lobisomem.

Ao primeiro passo para fora da casa, e a neve caiu. Sam apertou as mangas da camisa fina de algodão, o frio não incomodava, mas sensação angustiante de perigo, sim.

Naquela estrada longa em meio a floresta congelada, Samantha mantinha-se em silêncio. O ar frio fazia bem aos seus pulmões e a fazia sentir-se bem, aproveitando com os olhos fechados.

Sinal de alerta.
O sangue quente de Sam esfriou num estante, os olhos cor de âmbar olhavam fixamente para a estrada.

"Amélia..." Chamou a garota com a voz sussurada. "Nos temos um problema."
Ela não precisou terminar, porque, no momento seguinte o carro foi atingido por uma luz vermelha dolorosamente brilhante, jogando o carro contra as árvores.

********

Três minutos.

Samantha, mesmo que não se movesse, tinha consciência de que ficou três minutos debaixo da água.
Três minutos com a água fria enchendo os fracos pulmões.
Três maldito minutos até Amélia tira-la do rio congelado.
E esses três minutos foram tempo o suficiente para as bruxas a alcançarem.
Ela era um perigo para as bruxas e precisava ser exterminada.

Samantha não se importava de morrer. Mas ela se preocupava. Finalmente, poderia viver ao lado da mãe, que agora podia cuidar dela.

Mas qual não foi a surpresa dela ao ver a neve sendo tingida de vermelho quando um enorme lobo branco atacou a bruxa que se preparava para mata-la, enquanto a outra fugia antes que dois outros lobos negros a abocanhasse.
A traqueia da bruxa fora destroçada, e pedaço de carne e pelo estavam ao seu redor.

Ela ficaria enjoada, se respirar não causasse dor. A água que entrara em seus pulmões, junto a dor pelo impacto do carro a prejudicaram mais do que ela imaginava.
Seus pulmões queimavam, enquanto ela tossia sangue, atraindo a atenção dos lobos.

Amélia a segurou pelos ombros, com um olhar preocupado. As forças de Samantha se esvaiaram e antes de apagar por completo, ela pode ver que o lobo gigante branco a fitava com os olhos amarelos brilhantes.
Como se pudesse quebra-la, recuou, ainda ficando os olhos âmbar da garota. Ela era como uma boneca de vidro.

Um deslize, e ela se partiria em mil pedaços.

Os olhos amarelos se destacavam na visão nevada.

E então, ela mergulhou na escuridão da inconsciência.

Boneca ParanóicaOnde histórias criam vida. Descubra agora