Boneca Adormecida

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Estava escuro.
Isso era algo óbvio, considerando que Samantha não conseguia enxergar suas mãos na frente de seu rosto.

Era como uma boneca adormecida.

Ela dava passos lentos e cautelosos, para não cair ou bater em alguma coisa. Até que algo brilhou naquele abismo escuro.
Uma pequena chama roubou todo atenção de Sam. Era pequena, mas extremamente chamativa.
Sam foi em direção à luz. Ela não deveria ter feito isso.

O ponto de luz se tornou uma cena 3D com efeitos exagerados. Era uma batalha. Amélia estava lá. E os lobos também. Estavam feridos e muito cansados, pareciam esgotados pela batalha.

Até que um lobo negro gigante virou o olhar para Sam, que até este momento, estava alheia daquela imagem.
"Precisamos de você." Os olhos sem cor brilhavam e o rosnado baixo foi o suficiente para ela conseguir ouvir a voz masculina do lobo dizer em sua cabeça.

Não tinha sentido para ela.
Ela era uma guerreira, inteligente, ágil e forte, mas num campo de batalha, com a fumaça vida das casas em chamas, destruia seus fracos pulmões. Ela não conseguia respirar e seu coração dóia de forma absurda.
Ela não tinha utilidade num lugar assim.

A luz brilhante se moveu para outro lugar, e Samantha a seguiu.

Era outro lugar, parecia depois da guerra. Era uma pequena vila com vários chalés e cercada por uma bela floresta, como um acampamento enorme e belo.
Homens, mulheres e crianças andavam e se divertiam, lobos grandes e pequenos de diversas cores andavam e brincavam por todo o lado.
Era uma bela cena, e ela se sentia feliz.

Um homem alto com cabelos negros e olhos cinza extremamente claros olhou para ela. Eram os olhos do lobo negro na guerra. Mas ele mantinha um sorriso no rosto.

"Por que você demora tanto?" Ele riu e puxou a garota pela mão.
"Vamos logo, Sam."

Ela já não estava entendendo nada.
Era tudo confuso e o sorriso do homem diminuiu, como se dissesse 'ainda não'.

A cena se tornou borrada e a escuridão voltou a ser dominante. A cabeça dela dóia e o corpo dela estava quente.
Sentia-se febril e as vozes chamando-a pelo nome a irritavam de forma absurda, e ela conseguia sentir perfeitamente suas sobrancelhas se contraírem pela raiva.

- Calem a boca! - Um grito escapou da boca de Sam, enquanto ela se sentava na cama absurdamente grande e jogava o pano frio que estava em sua testa para o lado. - Eu não posso nem dormir agora?!

Amélia me olhou com descrença, e a mulher ao lado de tinha os olhos arregalados de espanto.

A mulher não devia chegar aos trinta e era muito bonita.

- Querida... - A mulher começou, mas Sam estava irritada de modo descomunal.

- Não me chame de querida, eu nem te conheço. - Respondeu se levantando, e indo até a mala largada num canto daquele quarto desnecessariamente grande e pegando uma camisa branca com mangas longas, um short curto e um par de coturnos com meias longas. Ela não se importava com as coisas que vestia, desde que fosse confortável e não a atrapalhasse.

- Samantha! - Amélia a repreendeu, assim que la entrou no banheiro para se trocar. - Não fale assim com sua mãe.

- Minha mãe? - A garota saiu correndo do banheiro daquele quarto, com a camisa na mão e deixando aparecer a grande marca um pouco mais escura na pele pálida. - Minha mãe?

Segurou o rosto da mulher com a duas mãos, virando e examinando o rosto dela.

Samantha fez um bico. - Você é mais jovem do quê eu pensei. - Soltou o rosto da mulher e vestiu a camisa.

- Bem, - A mulher disse. - meu nome é Alexandra, e obrigada, eu acho.

- Então, Alex - Sam começou. - Que lugar é esse?

- Nossa casa, querida. - Alexandra não parecia contente pela garota te-la chamada pelo nome.

- Nossa? - Fez uma careta. 

Uma das paredes do quarto era de vidro, e dava para ver a floresta e a neve lá fora.

- Bom, pelo menos, eu gosto de neve.

- Isso é tudo que tem a dizer? - A mãe dela parecia indignada, tudo daquela casa era de última geração, tudo novo.

- É sim.

Ela saiu pela casa até achar a porta, que saiu batendo com força.

Andando ao redor da casa, ela notou um lago, um pouco longe dali. Samantha sorriu e foi andando até lá, passando pelas árvores secas que faziam cortes em sua pele, causando pequenas manchas vermelhas na roupa branca. 

Ela sorriu assim que pisou no gelo escorregadio. Ela era ótima em se equilibrar no gelo, e mesmo sem patins, ela podia se virar bem. Em breve, o gelo derreteria e aquele enorme ringue de patinação voltaria a ser um lago.

Samantha era jovem e tão bela quanto uma boneca. Ela gostava de ler, lutar e dançar. Era tão boa bailarina quanto era ótima lutadora. Sua estilo era uma mistura de Wushu moderno e Caratê Shinkyokushin, tornando-o único e de certa forma estranho.

Ela tocou o colar pendurado que se movia lindamente enquanto ela dançava lentamente no gelo. Era a ponta da flecha que, segundo Amélia, quase tinha matado o pai dela. O fio de couro era o que segurava o objeto metálico que ainda possuía a ponta manchada de vermelho. Por mais que ela lava-se, o sangue não saia. De qualquer forma, ela não se importava, pois era reconfortante ter aquele colar.

Indo até a borda daquele local, ela se sentou na neve fria. Ela estava quente, muito mais quente que o normal. Sua cabeça chegava a doer pelo calor escaldante, e ela chegava a suar. A respiração se tornou pesada, e até mesmo a neve debaixo de suas mãos derretia lentamente.

Um estralo chamou a atenção dela. Olhando para os próprios pés sobre o gelo, que se rompia lentamente. Ela olhou bem para aquele gelo, até perceber o que aquilo significava.

Oh, merda.

Então, ela afundou.

Pela segunda vez naquele dia, ela estava debaixo da água.

Ela não demorou muito a subir para a superfície, saindo até a margem, onde se levantou e começou a andar devagar.

Eu odeio isso. 

Era tudo o que Sam conseguia pensar, por estar totalmente molhada e não se lembrar o caminho da casa. 

Ela andava sem rumo.

Boneca ParanóicaOnde histórias criam vida. Descubra agora