2 - Desmontando os Móveis

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    O mais difícil na hora de se mudar de um lugar é ter que deixar os seus amigos, as pessoas que sempre te acompanharam ficando para trás, até que você fica com a dúvida: Será que eles vão sentir a minha falta?. Em segundo lugar é desmontar os moveis e empacotar louças, roupas, decorações e tudo mais, mas isso não foi problema pois o meu melhor amigo veio nos ajudar.

    -Luquinhas, quando você for eu posso ficar com o CoD?- Disse ele com o Call of Duty nas mãos.

    -Claro Ricardo - Disse com um olhar sínico - Quando eu for para outra dimensão... E antes disso eu vou anotar no meu testamento: O CoD não deve ficar com Ricardo Almeida Filho por que eu não quero.

    -Ah... Eu sei que você me ama, e quando você for não vai ter quem fazer a lição de matemática pra mim - Disse fazendo biquinho o que geralmente ele fazia para enrolar os professores que acabavam acreditando que ele realmente fazia os trabalhos e esquecia em casa.

    -Ninguém mandou ser burro - Eu joguei o travesseiro nele e comecei a rir.

    O Ricardo era um pouco mais alto que eu, ele tinha cabelos lisos e curtos, não era muito forte mas por ser do time de Handebol da antiga escola ele tinha um corpo atlético.

    É meu amigo desde a quinta série quando eu ajudei ele a se esconder de uns certos valentões. Desde então eu passei a ajudar ele em matemática e física, e ele em biologia e sociologia (não sei como um ser humano em plena sanidade mental gosta de sociologia).

    -Agora o grupo não vai ter você, vamos ficar sem um integrante super especial... Digo... Você entendeu.

    -Há gay!- Ambos rimos.

    -Filho, onde o Ricardo vai dormir? - Disse minha mãe entrando no quarto.

    O Ricardo iria dormir hoje aqui em casa para ajudar na mudança amanhã, meu pai achou melhor ele estar com a gente quando chegássemos na nova casa, ele faria questão de depois leva-lo de volta. Mas isso não é problema, estamos de férias mesmo.

     -Ah... Ele dorme no chão... Você prefere papelão ou jornal Ricardo?.

    -Ricardo você teria algum problema em dormir no colchão com o Lucas?- Perguntou minha mãe já separando o colchão mais próximo de nós.

    -Sem problemas D. Lima.

    Minha mãe olhou pelo canto dos olhos como quem percebe uma falha no sistema.

    -Ricardo eu já te falei para me chamar de Fernanda eu ainda não sou uma Dona.

    -Sim "Dona" Fernanda - Disse para provocar dando ênfase no "dona", o que fez ela sair dando risada.

   Minha mãe era modelo, e por isso não aparentava ter mais do que trinta anos de idade, ela tinha cabelos pretos lisos, olhos verde folha e um corpo conquistado na academia. Não é fácil ter uma mãe bonita, ainda mais quando ela já foi capa de revista de moda, ela fez uma matéria sobre como ser linda e autoconfiante, coisa pra levantar autoestima sabe.

    -Ah Luquinhas nós já dividimos lanches, roupas, lápis, garotas, acho que dividir um colchão não vai ser problema.

    -Você poderia ter omitido a parte das garotas.

    -Ou não - Disse ele verificando o celular - A hora passa hein...

   Nessa simples frase eu já soube o que fazer, afinal, eu conheço ele a muito tempo e sempre sei sacanear.

    -Mãe! - Gritei para chamar a atenção dele - O Ricardo tá com fome! - Ele ficou de todas as cores possíveis, incluindo roxo, vermelho, azul, entre outras que eu nem sei o nome. Ele sibilou um palavrão e eu comecei a rir igual a um mané.

    -Seu pai vai trazer pizza quando ele voltar do set - Respondeu a minha mãe de outro cômodo.

    Eu comecei a rir mais ainda e fui atingido na barriga por um travesseiro e revidei a travesseirada nas costas, e assim ficamos, fazendo guerra de travesseiros.

**********

    -Meu pai tinha acabado de voltar do set, ele era diretor de cinem e sempre voltava com um roteiro e outras coisas do tipo, mas dessa vez ele trouxe uma pizza. Meu pai tinha cabelos pretos e curtos, olhos castanho escuro, barbado e um corpo levemente fora de forma, ele não procurava ostentar beleza.

    -Oi meninos - Disse ele fazendo um sinal com a cabeça, ele não era lá muito chegado a abraços e coisas do tipo, mas não por ser ausente, pois ele mesmo ocupado com o trabalho fazia de tudo para não perdermos os laços de amizade, ele era muito tímido mesmo, pois na família dele ele não foi acostumado a crescer cheio de abraços.

     -E ae Sr, Lima- Disse Ricardo fazendo um sinal de joinha - Gravou alguma cena explosiva hoje?.

    -Hoje tivemos que gravar um atropelamento, mas o ator queria fazer no lugar do dublê - Logo ele respirou fundo e começou a rir - Ele caiu errado do carro e quebrou a perna - Começamos a rir imaginando a cena.

    -Amor...- Disse a minha mãe prendendo o cabelo em coque - Nós ficamos empacotando as coisas aqui na casa por um tempão sabe... Que tal irmos comer a pizza e assistir um filme antes de dormir?.

    -Filme? - Meu pai falou fazendo biquinho - Nega, eu sou diretor e não aguento mais passar tempo com filmes.

    -Então vamos jogar alguma coisa- Comentou Ricardo pegando papel e caneta.

    Assim foi a nossa noite, pizza, jogos com os meus pais, que conseguiam se entender apenas com um olhar e ganharam todas as partidas de "o que sou?" e mais tarde fomos dormir.

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